Mostrando postagens com marcador Futebol de São Carlos/SP. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Futebol de São Carlos/SP. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Volante Claudemir fala sobre São Carlos, Holanda, Dinamarca, Bélgica, Turquia e muito mais!

O São Carlos F.C., surgido em 2004, por muito tempo fez um bom trabalho nas categorias de base. Dois jogadores que se formaram na equipe paulista e conseguiram ir longe na carreira foram o lateral-esquerdo Wallace Pereira e o meio-campista Claudemir.

Claudemir Domingues de Souza foi tido como a grande joia da Águia da Central. O destino do atleta de 32 anos foi complicado e cheio de obstáculos, semelhante ao de vários brasileiros. O próprio admitiu que pensou que não conseguiria se tornar jogador.

Claudemir à direita de Iniesta, em uma disputa de bola. Imagem: divulgação


Sua família é oriunda de Macaúba/BA e se mudou para São Paulo/SP em busca de melhores condições de vida. Claudemir tinha por volta de 8 anos.

A rotina na maior cidade da América do Sul era pesada: estudava de manhã, depois passava a tarde e a noite trabalhando em um armazém, onde fazia o controle de entrada e saída de mercadorias.  Quando ficou mais velho, jogava em clubes de várzea aos finais de semana para ajudar na renda da casa.

"Eu tentava ser jogador. Tinha esse sonho. Mas como trabalhava e estudava, houve momentos em que pensei em desistir da carreira", relembrou o futebolista, em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

Claudemir chegou a treinar um ano na base do Palmeiras, mas não teve contrato assinado  e nem ajuda de custo para ir ao CT .Desistiu do Verdão e depois, através de um amigo, soube que estavam realizando testes no São Carlos F.C. Seria o início de sua jornada profissional nos gramados.

"Eu tinha 18 anos quando fiz o teste no São Carlos. Eu gostava de jogar como meia-atacante, mas fiz teste como segundo volante, pois, pensava que tinha qualidade tanto para atacar como para defender. Fui aprovado e o Cilinho Maia (técnico) me usou nessa função", contou o futebolista.

"Minha família gostou tanto de São Carlos que acabou se mudando. Hoje tenho parentes na cidade e em Araraquara (município vizinho), além dos que ficaram na Bahia. Quando vou ao Brasil de férias, tento visitar cada um desses lugares (risos)," emendou.

Pela equipe paulista, Claudemir disputou a Taça São Paulo de Juniores, os Jogos Regionais, onde os atletas do clube representaram a cidade, e a Série A-3 do Campeonato Paulista.

Nesse período apareceu a primeira oportunidade de ir à Europa: o Sheriff da Moldávia. O baiano foi para a nação do leste europeu, onde fez testes, mas preferiu não ficar. O atleta acreditava que por ser jovem, não compensaria ficar em um futebol pouco visto no mundo e que futuramente poderia aparecer outra oportunidade.

Em 2008, durante uma concentração para a disputa do Campeonato Paulista da Série A-3, apareceram empresários querendo levá-lo para o Vitesse da Holanda.

" Eu lembro que estávamos no hotel concentrados para um jogo contra o Olímpia. O Edson Vieira (técnico) foi até o meu quarto e disse que precisava falar comigo. Fiquei receoso, pois, eu estava confirmado entre os titulares para a partida, e pensei que ele fosse falar que havia mudado os planos e eu iria para a reserva. Em seguida ele me levou para o saguão do hotel e lá  estavam empresários que queriam me levar para a Holanda. Perguntaram quem era o meu representante e falei que era o Julinho Bianchim (ex-presidente do São Carlos F.C.). Conversaram com ele e pediram para eu fazer testes e fui. Depois de um mês, fui aprovado", continuou o nordestino.

Em sua estadia na cidade de Arnehm, o brasileiro afirma que nos 3 primeiros meses houve dificuldades na adaptação, principalmente em relação a língua. O que facilitava é que a cidade ficava próxima de Amsterdam (distância de 98 km) e às vezes ia até a capital dos Países-Baixos, pois, há restaurantes brasileiros, o que o fazia se sentir mais próximo de sua cultura.

"O mais difícil no início foi a língua. No meu elenco havia o zagueiro Espinoza (equatoriano com passagem pelo Cruzeiro) e um chileno, que me ajudavam de alguma forma nas traduções. Mas eu não entendia muito bem espanhol (risos). Tinha ainda a questão do frio, que no início não era fácil. Mas depois fiz amigos holandeses que aos poucos iam me ajudando na adaptação e fui me entrosando com o cotidiano do país", explicou.

No Vitesse, Claudemir ficou duas temporadas e o jogo mais marcante foi uma goleada que seu time aplicou no Ajax, por 4 a 1. Ele deu assistência para três gols. 

" Eu consegui ser titular e jogar duas temporadas de forma regular. Nunca fiquei fora por cartão e nem por lesões. Na primeira temporada fui eleito o melhor jogador do clube e na segunda temporada fui o segundo melhor," relembrou.

Em 2010, o clube holandês recebeu uma proposta do Copenhague-DIN, pelo meio-campista brasileiro. A diretoria disse ao jogador que a equipe passava por problemas financeiros e que necessitava do dinheiro da venda.  No time dinamarquês, o brasileiro viveria o seu auge,  ganhando 4 títulos em 4 temporadas, fazendo campanha histórica na Champions League e marcando gol diante do Barcelona.

" O Vitesse não estava bem financeiramente e queria que eu fosse vendido. Eu vi que no Copenhague eu teria a chance de jogar uma Champions League e aparecer mais para o futebol europeu. Vi que teria vantagem na carreira. O início foi difícil, pois, não falava dinamarquês, então tive que me readaptar a uma nova realidade. Comecei a estudar inglês também, o que me ajudaria muito, por ser uma língua universal", prosseguiu.

No clube nórdico, foi bicampeão nacional e bicampeão da Taca da Dinamarca.

Claudemir, à esquerda, comemorando o título de campeão dinamarquês. Imagem: divulgação


O mais marcante foi a conquista da Taça de 2011/12, onde, o brasileiro anotou o gol do título dos Leões sobre o AC Horsens.

" Esse foi o título mais marcante da carreira, pois vencemos por 1 a 0 e o gol fui eu que fiz. Tenho até hoje esse jogo na memória", contou o macaubense.

Comemorando gol histórico diante do Barcelona


Outro tento marcante foi na edição de 2010/11 da Liga dos Campeões da Europa. Na fase de grupos, o Copenhague teve como adversários o Barcelona, o Panathinaikos-GRE e o Rubin Kazan-RUS. Os catalães seriam os futuros campeões da competição e estavam no auge. O técnico era Pep Guardiola e havia o trio Xavi, Iniesta e Lionel Messi. 

No embate na capital dinamarquesa, os blaugranas abriram o marcador logo no início de jogo com Lionel Messi. Foi o 100º tento da carreira do argentino. Mas os holofotes não ficaram apenas com o melhor do mundo. Logo na sequência desse gol, os anfitriões empataram com Claudemir! Em uma jogada construída na grande área do Barcelona, a bola ia sobrar para um defensor espanhol, mas o brasileiro se antecipou e tocou na saída do goleiro Victor Valdez. O duelo terminou 1 a 1.

"A primeira vez que enfrentamos o Barcelona foi no Camp Nou e perdemos por 2 a 0. No começo, dá uma sensação estranha, pois, aquele grande time de futebol falado no mundo todo e que eu via pela TV e pelo video-game estava sendo o meu adversário. De repente, Xavi, Iniesta e Messi, estavam no mesmo lugar que eu. No jogo do returno, já havia passado essa sensação e pudemos render melhor e conseguir um resultado histórico", rememorou.

Os Alviazuis  avançaram às oitavas de final e foram eliminados  pelo Chelsea. Derrota em casa por 2 a 0 e depois empata sem gols em Londres.

"O grande problema nosso é que em dezembro faz muito frio na Dinamarca e os campeonatos ficam parados por um mês. Já os ingleses seguem jogando. Logo, quando voltamos, já os enfrentamos e a condição física pesou. Perdemos em casa por 2 a 0. Depois empatamos, mas fomos eliminados", explicou.

Na temporada 2014/15, Claudemir trocou novamente de clube e de país. O destino foi o Club Brugge da Bélgica.  Pela equipe Azul e Negra, o futebolista sul-americano ficou três temporadas e foi campeão da Taça da Bélgica,da Liga Belga e da Supertaça Belga. Uma vez cada.

"Na Bélgica encontrei um campeonato mais forte e equilibrado. Há muitas equipes tradicionais e com bons investimentos, o que o torna um campeonato mais imprevisível. Foi muito bom para a minha carreira essa passagem por lá. Ainda tive como treinador o ex-goleiro Preud'Homme (ídolo do futebol belga). Ele jogou muitos anos no Benfica e falava português fluentemente. Pudemos conversar muito sobre futebol", revelou.

O destino seguinte reservava uma equipe de um outro continente: o Al-Ahli da Arábia Saudita.  Jogar no 'Mundo Árabe', já era algo relativamente traçado na carreira de Claudemir.

Claudemir (de branco) em sua rápida passagem pela Arábia Saudita


"Eu imaginava que um dia eu iria jogar no futebol árabe. Um mercado aberto aos brasileiros que já possuem uma certa idade para o futebol. Imaginei que iria lá por volta dos meus 29 ou 30 anos e foi o que aconteceu. Naquela época ainda não se falava tanto da China como hoje", afirmou.

" Culturalmente é um país muito diferente do Brasil. Mas há um respeito mútuo com os costumes e crenças de cada povo. Lá por exemplo, há praias para estrangeiros e turistas, logo eu podia ir com a minha família e ficávamos mais a vontade, como é em boa parte do mundo, por exemplo", emendou.

"Financeiramente foi muito bom para mim. Sobre o futebol, lá foi a primeira vez que me colocaram como primeiro volante. Como já estava perto dos 30 anos, acharam que eu renderia mais na função defensiva. O futebol lá tem um bom nível, mas como é um país muito quente, o ritmo do jogo tende a cair no segundo tempo.Isso era muito diferente do que eu estava acostumado.O que surpreende é o fanatismo dos torcedores nos estádios. A festa é muito insana. Algo parecido só vi na Turquia. Joguei a Champions League da Ásia também e isso foi bem interessante para a carreira", prosseguiu.

Após uma temporada, com mudança na comissão técnica do Al-Ahli, contratação de alguns jogadores e aliado a uma proposta que recebeu do Braga de Portugal, o meio-campista viu que era o momento de mudar de ares novamente.

No Campeonato de 2018/19, a equipe do norte lusitano chegou a brigar pelo título com Porto e Benfica, mas perdeu força na reta final e acabou na terceira colocação.

"O Braga surpreendeu, pois, tem uma estrutura muito boa tanto para o profissional quanto para as categorias de base. O CT para as categorias de base é melhor que muitos clubes profissionais do Brasil. Hoje é a quarta força de Portugal, mas em breve se tornará a terceira, passando o Sporting, que não vive um bom momento", opinou.

Na temporada 2019/20, chegou para o comando dos Arsenalistas, o técnico Ricardo Sá Pinto. Claudemir teve problemas de relacionamento com o treinador. O brasileiro afirma que ele era muito arrogante no trato com as pessoas. Logo, acabou afastado do elenco e em janeiro deste ano se transferiu para o Sivasspor da Turquia. 

Entretanto, pouco jogou, pois, em seguida a pandemia do Covid-19 atingiu a Turquia e a Liga foi suspensa. O retorno veio no dia 12 de junho e ainda faltam 6 rodadas para o término. Sivas é uma cidade que está numa região montanhosa, no centro da nação, ligando as regiões norte e sul. O Sivasspor é um time de segundo escalão que vem surpreendendo nessa temporada, estando na terceira colocação com 53 pontos. 6 a menos que o líder Istambul FK. A meta agora é ao menos conseguir uma vaga na próxima Champions League, e segundo Claudemir, o título é visto no clube como algo distante.

"A campanha está muito surpreendente. A cidade não acreditava que o Sivasspor poderia brigar nas primeiras posições. Acreditava que iríamos ficar no meio da tabela. Logo, a população 'abraçou' o time e vinha lotando os estádios. O fanatismo aqui é muito grande. Os torcedores param você na rua e falam da campanha, do clube e dos jogos. É muito bom. Passado o problema da pandemia, os jogos voltaram, mas com os estádios vazios, o que é bem diferente, mas é o que precisa ser feito no momento", falou, para depois explicar os segredos da boa campanha.

"Aqui na Turquia há times que atrasam salário e aqui no Sivasspor, não. O jogador fica mais motivado e a estrutura é muito boa. Nossa meta é seguir até o fim na terceira posição que nos dá uma vaga para a Champions. Em tese, os 2 primeiros da Turquia garantem vaga na Champions, mas o Trabzonspor (atual vice com 57 pontos), recebeu uma punição da UEFA, por conta de fair-play financeiro, então a vaga ficará com o terceiro colocado. Se de fato, terminarmos em terceiro, jogaremos uma repescagem antes de entrar na fase de grupos, mas é só um mata-mata, então podemos ter grandes chances de ir para a fase de grupos", emendou.

Brasileiro em seu atual clube: Sivasspor. Imagem: portal fanatik.com.tr


Claudemir ainda tem mais um ano de contrato com o clube turco e espera cumpri-lo. No momento, o brasileiro não pensa em aposentadoria. Alega que tem 'muita lenha para queimar'. Uma volta ao Brasil, seria  algo muito específico, como para o São Carlos, por exemplo, e ajudar a equipe, caso o Julinho Bianchim volte à presidência.

" Eu já tive um desejo maior de jogar no futebol brasileiro. Hoje não penso muito. Gostaria de voltar se fosse para o São Carlos, caso o time esteja na Série A-1 ou A-2 do Paulista e dar aquela ajuda, caso o Julinho Bianchim volte a ser presidente. Eu acompanhava muito o clube, mas desde que o Julinho saiu eu não tenho mais visto. O Julinho foi um cara que me ajudou muito e ajudava todos no clube, tirando dinheiro do próprio bolso para ajudar os jogadores. Então, se ele voltar, eu gostaria de um dia poder jogar pelo São Carlos",  finalizou.

Bônus
Jogo-rápido:
-País que mais gostou de viver?
Dinamarca.

-Campeonato nacional mais competitivo que atuou?
Campeonato Belga.

-País que tem os torcedores mais fanáticos?
Turquia e Arábia Saudita.

-Time que mais gostou de jogar?
Todos foram importantes para mim. Não posso escolher só um.



terça-feira, 16 de junho de 2020

100° post! Dalla Déa: de São Carlos para a Copa do Mundo!

Prólogo:

Conheci Guilherme Dalla Déa em 2009. Eu cobria esportes para um jornal de São Carlos/SP e ele era o técnico do sub-20 do São Carlos F.C.

Era uma época em que o São Carlos F.C. tinha um bom trabalho nas categorias de base. Excetuando os clubes grandes do estado, a Águia da Central era uma das melhores equipes do interior de São Paulo e sempre surpreendia nos torneios que disputava, chegando nas fase finais.

Imagem:Daniel Mundim


Eu cobri jogos do Campeonato Paulista sub-15, 17 e 20  e recordo de ver  os dirigentes dos times adversários se mostrando surpresos com a equipe carlopolitana. Sempre me perguntavam sobre como era feito o trabalho. Se surpreendiam com a continuidade, o entrosamento dos rapazes e o bom futebol. Muitas vezes esses cartolas me confessavam que em suas equipes, naquele jogo contra o São Carlos, estavam estreando 5 ou 6 atletas, demonstrando uma falta de cuidado na montagem dos planteis. 

Dalla Déa chamava a atenção por ser um treinador que todos gostavam, jogava um futebol ofensivo e cativava a todos com sua fala mansa e modo educado. Todos torciam pelo seu sucesso.

Infelizmente, o São Carlos F.C. acabou tendo problemas financeiros, o time profissional não conseguiu bons resultados e o futebol da cidade novamente ficou a mercê de uma esquadra competitiva e de destaque. 

Mas Dalla Déa seguiu bem o seu rumo, se transferindo em 2012 para o São Paulo e em 2015 era técnico da Seleção Brasileira.

Em 2019, pelo Escrete Verde-Amarelo sub-17, o são-carlense de 49 anos viveu entre o inferno e o céu: no primeiro semestre fez uma campanha ruim no Sul-Americano, onde foi eliminado na primeira fase, mas depois acabou sendo campeão da Copa do Mundo realizada no final do ano.

Para falar sobre essas agonias e façanhas , conseguimos, depois de muitos desencontros, agendar uma entrevista. E esta matéria é a 100ª do meu blog. O que a faz mais especial. Completando essa edição, contei ainda com a participação do meu amigo e jornalista João Marcos Assunção, que sempre acompanha bem o futebol e me apoia nas minhas postagens. Fica aqui o agradecimento desta vez, por elaborar algumas perguntas.

Confira:
O futebol é algo intrínseco na cultura brasileira. Logo, todos temos contato com o esporte desde criança. Com Guilherme Dalla Déa não foi diferente e havia uma inspiração na família: seu pai, Antonio Carlos, conhecido popularmente como Tacão, foi goleiro de equipes do interior de São Paulo. Logo, um exemplo para o até então menino nascido em 28/04/1971. Entretanto, no início, Guilherme gostava de jogar na linha. Tinha como inspiração o meia Zico, o grande jogador brasileiro do final dos anos 70 e início de 80. A Seleção de 82 era a grande referência para o jovem paulista.

Até que um dia, quando tinha por volta de 12 anos, no time em que atuava na Faber-Castell, seu treinador o questionou se não queria tentar jogar no gol. O que era para ser um 'tapa-buraco' , acabou ficando sério e seguiu investindo na carreira de arqueiro.  Até que em 1990 surgiu a oportunidade de ser o camisa 1 do Lençoense. 

Uma história curiosa que ronda o futebol de São Carlos, é que quando Dalla Déa esteve na equipe de Lençóis Paulista, era o titular e seu reserva imediato era 'um tal' de Marcos, que viria a fazer história no Palmeiras e ser o camisa 1 do pentacampeonato da Seleção Brasileira em 2002. Nessa entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C., o agora técnico esclarece esse fato e diz que são 'meias-verdades'. 

"Existe essa história. O problema é que muitos falam sem conhecimento e acabam aumentando o fato. O Marcos é dois anos mais novo que eu. Quando eu estava no Lençoense eu era do time sub-20. O Marcos era do sub-18. Como ocorre em categorias de base, os destaques das menores vão subindo e ganhando experiência nas categorias de cima. Sempre respeitando a hierarquia. Em alguns momentos, o Marcos concentrou com o time sub-20. Mas não era sempre. Não era um cara do nosso plantel. Então, ele foi meu reserva imediato nessa condição e em uns 2 ou 3 jogos apenas", esclareceu Dalla Déa.

Em 1991, Dalla Déa faria parte do plantel da Lençoense que disputaria a Taça São Paulo de Juniores. No entanto, o futebolista abriu mão do torneio para poder se dedicar ao vestibular e posteriormente ao curso de educação física.

" Foi um momento muito difícil para mim. Queria ser jogador de futebol, mas meus pais sempre falaram que eu não deveria deixar os estudos de lado, pois, com um curso superior era mais garantia de ter uma carreira estável. Atuar em times pequenos como jogador é sempre complicado pela falta de estrutura e pelos problemas financeiros que enfrentam. Então, fui honesto com o pessoal da Lençoense e os comuniquei sobre a minha decisão. Ali deixei o time com dor no coração, mas sabia que estava tomando o caminho mais sensato ao investir nos estudos", revelou.

Enquanto fazia o curso de educação física na FESC (Fundação Educacional São Carlos),  foi chamado para ser goleiro do extinto clube Estrela da Bela Vista. Na ocasião, a equipe presidida por João Ratti, estava disputando a Quarta Divisão Paulista.

"Naquela época, eu já era professor de goleiros no São Carlos Clube e a noite eu tinha aulas na FESC. A tarde eu treinava no Estrela da Bela Vista, onde fiz alguns jogos como profissional. Foi um período bem puxado.Mas depois, preferi não seguir no Estrela, pois, para ser um atleta profissional precisa estar 100% focado no time. Eu não poderia abrir mão do curso e nem do dinheiro que recebia no São Carlos Clube (clube social da cidade)", contou o ex-jogador.

Em 1995, já formado em Educação Física, Dalla Déa fundou, ao lado de seu amigo Thomas Tinton, a Escola Gol de Placa. O que era para ser uma escola de futebol, tomou proporções maiores do que ambos projetaram e foi um salto na carreira deles.

"Abrimos a escola e não tínhamos experiência nenhuma nesse ramo de administração. No início, tínhamos os nosso alunos  e conforme o tempo passou, aumentou muito o número de meninos que queriam treinar conosco. Depois apareceram clubes como Ferroviária, Rio Branco de Americana e Noroeste de Bauru, por exemplo, interessados em nossos atletas. Não havíamos interesse em fazer negócios com os jogadores e tivemos que entender como funcionava as transferências. Depois, viramos uma referência regional como formação de jogadores e tivemos até times femininos que comandados pela ex-zagueira Mônica foram bicampeãs paulistas da Segunda Divisão. Havia até transmissão da TV Bandeirantes", relembrou.

" Alguns jogadores que saíram daqui se tornaram profissionais como o goleiro Gatti, revelado no Cruzeiro e em 2007 eleito o melhor goleiro do Campeonato Carioca pela Cabofriense, o ex-zagueiro Di Fábio que foi para o Corinthians e fez carreira na Europa e na Ásia, dentre outros", continuou.

Em 2001, Dalla Déa foi convidado a ser técnico do Clube Atlético Paulistinha. Naquele período, a equipe são-carlense era uma das mais tradicionais em formação de atletas do estado de São Paulo. Por lá passaram nomes como o meia Diego (ex-Santos e atual Flamengo) e o ex-atacante Alberto (campeão brasileiro com o Santos em 2002). O C.A.P. sempre realizava excursões ao exterior e conquistou títulos na Suécia, Noruega, Dinamarca e Estados Unidos.

"Fiquei 8 anos no Paulistinha e foi muito bom para a minha carreira. O clube tinha a melhor estrutura de categoria de base no interior de São Paulo. Nas instalações internas, havia uma escola para os atletas e era voltado exatamente a quem focava a vida no esporte e não poderia acompanhar o ritmo escolar normalmente. Havia a parceria com sul-coreanos para o desenvolvimento do futebol de lá e muitos deles passavam um tempo no Paulistinha. A prefeitura apoiava o time e também tinha parceria com a UFSCAR", rememorou, para depois contar um fato inusitado sobre o clube.

" Alguns anos atrás, eu estava na Suécia e em uma conversa com um sueco, ele me falou que no Brasil ele conhecia o Paulistinha. E ele não sabia que eu havia trabalhado lá e nem que eu era de São Carlos. Ali vi o marco que o time deixou no futebol", continuou.

" O resultado mais marcante para mim foi um torneio que disputamos em Flores da Cunha/RS e fomos vice-campeões, perdendo, nos pênaltis para o Grêmio.  Teve outra disputa em Joinville/SC que fomos muito bem e alguns atletas nossos ficaram pelo J.E.C. Um deles foi o Edgar Bruno, atacante, que viria a ser campeão brasileiro pelo São Paulo em 2007 e atualmente está no futebol da Coreia do Sul", continuou.

Em 2008, visando novos desafios, aceitou o convite de ser técnico do sub-17 do São Carlos F.C. O coordenador das categorias de base era Thomas Tinton, seu ex-sócio no Gol de Placa. Dalla Déa explica o que fez com que a base tivesse tido bons trabalhos.

"Ali era um clube família em que todos se conheciam e eram amigos.Os nossos familiares se davam super bem.O Julinho Bianchim (ex-presidente da equipe) sempre fazia de tudo para pagar nosso salário e a gente sempre fazia de tudo para vencer. Éramos muito focados e vivíamos o clube 24 horas por dia. De repente escutávamos falar que existia um menino muito bom em Matão/SP, pegávamos o carro e íamos vê-lo jogar. Dávamos um jeito sempre de descobrir talentos na região", relembrou.

Guilherme em sua passagem pelo São Carlos F.C./Imagem: portal SCDN


Em 2009, Dalla Déa já era técnico do sub-20 e em alguns momentos trabalhou como auxiliar no profissional. Pela equipe principal, conseguiu o inédito acesso à Série A-2 do Paulista em 2011. 

Pelo sub-20, houve dois momentos marcantes na Taça São Paulo de Juniores. Em 2010, o Luisão foi um dos estádios que sediou a competição e recebeu o Palmeiras. Os anfitriões venceram o Sorriso/MT por 4 a 0 e o Rio Branco/AC por 3 a 1, jogando bem e se impondo. Na rodada decisiva, o rival seria o Palestra Itália, que também chegava com 100% de aproveitamento. Os comandados de Dalla Déa chegaram a fazer 2 a 0, mas acabaram sofrendo a virada e perderam por 4 a 2, sendo desclassificados. O regulamento previa apenas que o líder de cada chave avançasse ao mata-mata e os 9 melhores segundos colocados, dentre os 23 grupos.  O Verdão chegou até a semifinal daquela edição.

Em 2011, novamente São Carlos sediou a competição e um dos integrantes do grupo T era o Santos.  A Águia da Central havia vencido o Atlético Acreano por 1 a 0 e o Confiança/SE por 3 a 1. Já o Alvinegro da Vila Belmiro havia empatado na estreia contra os nordestinos por 2 a 2 e vencido os acrianos por 1 a 0. Logo, na decisão, os anfitriões precisavam apenas de um empate contra o time do litoral para seguir adiante na Copinha. Os comandados do ex-zagueiro Narciso abriram o placar, aos 35 minutos do primeiro tempo, em cobrança de pênalti. Na segunda etapa, o São Carlos seguiu em busca do empate e conseguiu aos 44 minutos. Uma festa tomou conta do Luisão e o feito histórico estaria sendo feito. 

Entretanto, no minuto seguinte, enquanto a torcida gritava 'eliminado', ao dar a saída de campo, a bola sobrou para o arqueiro santista que a segurou e fez ligação direta com o ataque. O chute não teve tanta força, pois passou um pouco do meio-campo e os jogadores alvinegros cabecearam sem força para o ataque. A bola estava lenta e já assegurada com a defesa são-carlense. Entretanto, em uma falha de comunicação entre defesa e goleiro, o zagueiro Thiago deu um bico na bola e ela entrou para a própria meta. Um lance bizarro que terminou com Thiago deitado e chorando no chão. A classificação santista foi assegurada e o São Carlos por causa de saldo de gols não avançou entre os 9 melhores segundos colocados.

"Antes da derrota para a Argentina no sul-americano de 2019, essa do São Carlos havia sido a pior da minha carreira. O vestiário após aquela derrota para o Santos ficou um clima de luto. O menino Thiago chorava muito e toda hora pedia desculpas pela falha. O nosso goleiro, Glédson, falou que havia dito para o Thiago não ir no lance, que ele próprio pegaria a bola. Thiago disse que não ouviu o Glédson. Houve problema na comunicação. Faltou também calma e consciência para o nosso time administrar a vantagem", recordou.


Em 2012,  veio a grande oportunidade da carreira até então: ser técnico do time sub-15 do São Paulo. No período em que ficou no Tricolor, o são-carlense trabalhou com jogadores como o defensor Éder Militão (atualmente no Real Madrid), o meio-campista Liziero (no profissional da equipe do Morumbi) e o atacante Anthony (vendido em 2020 ao Ajax), por exemplo. Pelo time de Cotia, foram 2 Copas do Brasil Infantil (2013 e 14), que ocorre em Votorantim/SP e 1 Campeonato Paulista sub-15 (2014)

"Eu sempre tive o sonho de trabalhar em um clube grande do futebol brasileiro. Já conhecia o CT de Cotia, pois, quando trabalhava no São Carlos eu já havia enfrentado o São Paulo. Entretanto, o dia-a-dia nos bastidores era novidade. Mas tive pessoas que me ajudaram ali e me ensinaram os 'atalhos' para me ambientar bem. Precisava também entender o foco de um clube grande, com ambições e obrigações de título. O São Paulo foi muito bom também, pois, pagou todas as licenças de técnico da CBF que eram obrigatórias e que eu não possuía", relembrou, para depois dizer como surgiu o convite para trabalhar na Seleção Brasileira.

"Eu tinha contato com o Erasmo Damiani (na época coordenador das categorias de base da Seleção), pois, uma vez ele me convidou para trabalhar no Palmeiras, onde ele era coordenador, e eu não fui, pois, estava vinculado ao São Paulo.Tempos depois, em março de 2015, ele novamente voltou a me procurar. Eu lembro que estava jogando uma 'pelada' no São Paulo e na ligação, Damiani, falou que estava ali com o Dunga e o Gilmar Rinaldi e queriam saber se eu tinha interesse em trabalhar na Seleção. Eu achei que era brincadeira e ele me falou que não e que inclusive a ligação estava no viva-voz e ambos estavam escutando. Até que o Rinaldi entrou na conversa e eu realmente vi que era sério. Até pedi desculpas pelo inconveniente em achar poderia ser mentira. Ali me explicaram todo o trabalho que queriam implantar e que tivesse um técnico fixo em cada categoria e tentasse ser um trabalho como em um clube de futebol. Eu iria para a sub-15 e havia dois concorrentes: o Fábio Mathias e o Zé Ricardo. Aí, fui até o Rio de Janeiro fazer a entrevista na sede da CBF e 2 dias depois me falaram que eu havia sido o escolhido! O Zé Ricardo não havia aceito, pois, no Flamengo, ele tinha um projeto de ser técnico do profissional e o Fábio Mathias (atualmente no Inter) eu já não sei o que houve. Na sub-17 Carlos Amadeu, ex-Vitória foi o escolhido e na sub-20 o Rogério Micale", relembrou.

Em 2019, Dalla Dea  acabou promovido ao time sub-17 e foi do 'inferno ao céu' em questão de meses. Foi eliminado na primeira fase do Sul-Americano realizado no Peru e depois, foi campeão da Copa do Mundo realizada no Brasil.

Imagem: Gregório Fernandes/CBF


Sobre o fracasso no evento continental, o comandante afirmou que os motivos foram: ter caído no 'grupo da morte', condições do gramado dos estádios e a péssima partida perante a Argentina (revés por 3 a 0).

"O nosso grupo era Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia. Nunca haviam feito na história de uma competição sul-americana uma chave assim. Ninguém entendeu o motivo de colocarem as melhores seleções de um lado e as outras em outra chave (Peru, Bolívia, Equador, Venezuela e Chile). Os gramados eram diferentes do que estávamos acostumados a jogar e havia um tipo de borracha na grama que era diferente do que há em outros lugares. A bola quicava mais e era mais difícil controla-lá. O grupo foi bem equilibrado e chegamos na última rodada podendo perder até por 2 a 0 para a Argentina que estaríamos classificados ao hexagonal final. No entanto, jogamos muito mal. Entramos nervosos em campo e não conseguíamos render. Fomos para o intervalo perdendo por 1 a 0 e na volta, tivemos um jogador expulso aos 4 minutos. Sofremos o segundo gol aos 9 minutos e ficamos ali segurando a pressão por um bom tempo. Até que aos 48 minutos, a Argentina faz o terceiro gol e ficamos fora. Foi horrível. Deu tudo errado naquele Sul-Americano ( obs: no grupo A, 4 equipes acabaram empatadas com 7 pontos e o Brasil ficou fora por causa do saldo de gols. A Colômbia foi a lanterna sem nenhum ponto obtido", explicou.

"Ao término do jogo, o Branco (coordenador das categorias de base da Seleção) veio falar comigo e disse que a Seleção não merecia passar por isso e para eu manter o foco, pois o trabalho que vinha sendo era bom e teria ainda a Copa do Mundo no Brasil", emendou.

Após, o fracasso, Guilherme Dalla Déa voltou para São Carlos e ficou 28 dias descansando e sem notícias da Seleção. Afirmou que pensou que estaria demitido, mas até que em uma reunião em São Paulo houve a confirmação que ele seguiria no comando.

"Eu cheguei a pensar até em ver o que faria da minha vida, pois, pensei que não seguiria no cargo. Até que na primeira semana de maio eu estava em São Paulo, reunido com o André Jardine, que havia assumido a sub-20, para dar dicas a ele, pois, alguns atletas eu já havia trabalhado, até que o Branco me ligou e garantiu a minha permanência. Ele ainda falou que eu tinha duas semanas para apresentar a convocação. Depois me reuni com ele e com o presidente da CBF, Rogério Caboclo e pedi que fossem firmes  com os clubes na hora de liberar os atletas. Falei que precisávamos contar com todos e os clubes precisavam entender que para um menino era uma chance única de jogar uma Copa do Mundo e em seu país de origem. Infelizmente, nem todos, foram liberadores , como Reinier, por exemplo", recordou.

A competição ocorrida em novembro, o Brasil foi campeão com 100% de aproveitamento. O grande drama ficou na semifinal contra a França, onde os europeus abriram 2 a 0, mas os anfitriões viraram o marcador e venceram por 3 a 2.

" Tomamos 2 a 0 logo no início do jogo e demoramos a nos encontrar em campo. No intervalo, eu lembrei do período em que trabalhava no São Carlos e era auxiliar do profissional, e os técnicos diziam: 'primeiro vamos fazer um gol, para depois pensar em empatar e depois buscar a virada. Não era para pensar no empate, enquanto não fizéssemos o primeiro gol.' Aquilo me marcou muito e eu usei essa tática no vestiário. Ao voltar ao segundo tempo eu coloquei o Lázaro (da base do Flamengo) em campo e ele correspondeu fazendo o gol da vitória! Era o primeiro jogo dele e ele soube esperar no banco, sem reclamar. É uma joia do futebol brasileiro que tem muito o que desenvolver. Na final, contra o México, ele entrou no segundo tempo e fez o gol do título (2 a 1)", relembrou, para depois falar da sensação de disputar um Mundial no Brasil.

" Mesmo tendo vencido todos os jogos, cada etapa teve sua dificuldade. A estreia contra a Angola, era o momento de vencer e trazer a torcida para o nosso lado. O jogo em Gama/DF e o torcedor de lá nos apoiou muito. Contra a Nova Zelândia, o porte físico deles chamou a atenção, pois, como praticam muito o Rugby, eles são fortes e fazem muito jogo de contato físico. Nas oitavas de final, o Chile foi o nosso jogo mais difícil da Copa (3 a 2)", emendou.

" O título me tirou '150 quilos' das costas, pois, sabia que se perdêssemos, haveria muitas críticas ao trabalho dos técnicos nas categorias de base. Felizmente a conquista veio. Lembrei também de toda a minha trajetória na cidade de São Carlos e a chegada até a Seleção Brasileira. O quanto valeu a pena investir na carreira", continuou.

Tantos anos após trabalhar nas categorias de base, Dalla Dea dá a sua opinião, sobre o motivo que leva a uma jovem promessa a não vingar no profissional e também um treinador não conseguir os mesmos resultados quando vai para o time de cima.

"O problema está na maturidade do atleta. Ver se de fato ele está pronto para o time profissional. O André Jardine dá um bom exemplo: ' você está com fome e vai até uma plantação de maçã, pega uma, dá uma mordida e vê que ela ainda está azeda. No entanto, não dá para por de volta na plantação'. Com a formação do jogador é assim. Tem que ter esse cuidado ao lançar para uma categoria acima e para o profissional. Depois, para voltar não é simples. No futebol de hoje, muitos atletas com 16 e 17 anos já possuem contratos profissionais e com altos salários. Logo, não tem sequência na base e há pressão para render no time de cima. Isso atrapalha muito também. Há também o outro lado: jogadores que poucos apostavam na base e se tornam grandes atletas no profissional. Um exemplo é o Anthony. Na época da base no São Paulo, ele não estava entre os principais nomes, era reserva, aí fez uma boa Copa São Paulo de Juniores e deslanchou. Um caso que mostra que é necessário ter tempo com o jogador", relatou.

"Sobre treinadores, há uma diferença entre treinar um time de base e um profissional. No profissional, o resultado é muito importante. Há pressão da imprensa, torcida e diretoria. É vencer sempre.  No Brasil, as vezes com 3 ou 4 resultados sem vitória, um técnico já é demitido. Os times mudam muito de técnico. Na base, o acompanhamento do público é menor e existe uma tolerância maior em relação ao resultado.  Eu, por exemplo, hoje, não me sinto preparado para ser um técnico de um time profissional. Penso que preciso estudar mais, por isso, sigo na base", prosseguiu.

Ainda falando sobre trabalho na base, Dalla Déa afirma que o mais importante para o jogador é testar várias posições em campo, para ter o gosto do esporte e não 'engessá-lo' em apenas um esquema tático.

"Penso que dos 9 aos 16 anos, o jogador tem que atuar em várias posições. Se encontrar em campo e em vários modelos de jogo. Exceção, claro, ao goleiro, que possui uma preparação específica. Depois, focar mais no esquema tático. Se você 'engessa' o atleta, ele não pega o gosto pelo jogo", explicou.

No momento, com o futebol parado devido a COVID-19, Guilherme tem trabalhado em sua casa em São Carlos/SP, aguardando o retorno das atividades.

"Eu tenho trabalhado em casa e falo através da internet com os meus auxiliares e observadores. Assisto jogos, analiso atletas que estavam no nosso radar e  fico na expectativa que tudo volte a normalidade o mais rápido possível. Essa pandemia é muito séria e temos que nos cuidar. Eu mesmo estou ansioso para voltar as atividades, mas é necessário erradicar esse problema.  Ainda está tudo muito indefinido. Creio que depois dos profissionais, o futebol vai voltar com o sub-20 e verão como se sairão. Posteriormente, aos poucos vão retornado as outras categorias. Mas sem nenhum prazo estabelecido. Veremos muitos meninos do sub-20 em times profissionais. Isso ocorrerá, pois os clubes não poderão pagar para jogadores adultos e terão que dispensá-los, sendo forçados a usar a base. Aí veremos como ficará essa lacuna na formação de alguns jogadores", finalizou.




sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Curiosidade! O dia que o Grêmio Sãocarlense venceu o Vasco

O começo da década de 1990 foi quando o Grêmio Sãocarlense viveu o seu auge. O Lobão da Central disputou a Série A-1 do Campeonato Paulista e enfrentou os 4 grandes do estado. Até hoje, muitas pessoas lembram do São Paulo, bicampeão da Libertadores e do Mundo, jogando no Luisão e  Corinthians, do goleiro Ronaldo e do atacante Neto, por exemplo.
Foto do Vasco que enfrentou o Sãocarlense. Crédito:Almanaque do Lobão (1976 a 96)

Entretanto, pouca gente recorda, do dia 1º de julho de 1990. Uma manhã de domingo em que o Vasco da Gama foi até São Carlos/SP fazer um amistoso contra o G.E.S. e acabou derrotado por 3 a 2! Eurico Miranda esteve presente em terras carlopolitanas e, como disseram, ficou bravo ao ver sua equipe ser derrotada no primeiro tempo por 2 a 0.

Os cruz-maltinos eram os atuais campeões brasileiros e se preparavam para disputar a final do Campeonato Carioca, enquanto o Sãocarlense lutava pelo acesso à elite do futebol paulista. No período em que ocorreu esse amistoso, as atividades do futebol brasileiro estavam paradas, pois havia a Copa do Mundo de 1990.  A Seleção Brasileira já havia sido eliminada nas oitavas de final pela Argentina e no mesmo final de semana que ocorreu o confronto no Luisão, haveria os confrontos das quartas de final. O possível fato do clima de Copa (ressaca pela eliminação + os jogos das quartas), mais o fato do jogo ser realizado na parte da manhã e o Vasco não ter mandado sua força máxima (o que irritou os cartolas são-carlenses da época) fizeram com que o público na cancha fosse baixo. Apenas 1.300 pessoas pagaram para ver o jogo e houve uma renda de 292 mil cruzeiros.

O Gigante da Colina tinha alguns jogadores conhecidos como lateral-direito Ayupe, o zagueiro equatoriano Quiñonez e os atacantes Sorato e Sonny Anderson (este com uma longa carreira na Europa, em clubes como Barcelona, Olympique de Marselha, Mônaco, dentre outros).

De acordo com os jornais da época, o Sãocarlense, por atuar como mandante, partiu para cima dos cariocas e foi mais perigoso. Os cruz-maltinos por estarem com uma equipe mista, sentiram a falta de entrosamento, foram dominados e não pareciam estar com muita vontade em campo.
Jornal A Folha dando ênfase à vitória e ao baixo público


O destaque do primeiro tempo foi Paulo Leme que anotou dois gols para a equipe paulista. Logo aos 10 minuto, o meio-campista roubou uma bola, foi até a entrada da grande área, soltou 'um petardo' e abriu o marcador. O clube do interior seguiu melhor e aos 34 minutos, Serginho Dourado foi até a linha de fundo, cruzou na área e Paulo Leme finalizou, fazendo 2 a 0.

O mandatário dos vascaínos, Eurico Miranda, estava vendo o jogo da arquibancada e bravo com o revés, desceu no intervalo para o vestiário.

"Eu lembro que eu estava conversando com o Eurico Miranda sobre futebol e na hora do segundo gol do Sãocarlense, ele ficou bravo,  pediu licença e foi pro vestiário. Imagino que deu uma bela bronca no time", disse Sérgio Piovesan, um dos fundadores do Grêmio Sãocarlense, em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

A suposta bronca parece ter surtido efeito nos visitantes que voltaram mais aguerridos para o segundo tempo e atacando mais os anfitriões. De tanto pressionar, o gol veio aos 10 minutos com William, na pequena área, finalizando. 2 a 1.

O jogo seguiu aberto e com os dois times atacando. Até que aos 30 minutos, Doni, que entrou no decorrer do jogo,  fez cruzamento na área, Manguinha cabeceou e fez 3 a 1.

A partida parecia decidida e aos poucos todos se foram conformando com o triunfo histórico. Aos 45 minutos, com uma parte do público deixando o estádio, Sorato, na entrada da grande área, chuta cruzado e faz o segundo dos vascaínos.

Após o revés, o técnico do Vasco, Alcir Portela, elogiou o Sãocarlense, mas criticou o gramado do Luisão.
"Nossa equipe rendeu muito abaixo do esperado, talvez pelo fato do campo ter dimensões menores dos que jogamos e o piso ser um pouco duro. Não desmerecendo o Sãocarlense que jogou bem, justificando a vitória. A nossa defesa só tinha um jogador titular (o zagueiro equatoriano Quiñones) e por isso o adversário teve muito espaço para criar chances e convertê-las em gol", opinou.

" O futebol apresentado pela nossa equipe foi bem acima do que esperávamos, pois os jogadores se aplicaram na parte tática", afirmou o comandante gremista, Tonho.

"Foi um bom jogo de futebol. Pena que marcaram pela manhã, o que fez com que não desse muito público. Naquela época não havia informações como hoje, então esses clubes grandes quando vinham ao interior não sabiam o que iam enfrentar. O time do Grêmio Sãocarlense era bem arrumadinho e entrosado, tanto que depois conseguiu o acesso à Série A-1", relembrou Piovesan, à este blog, e depois contou um fato inusitado sobre Eurico Miranda em São Carlos/SP.

"Eu estava no carro, indo ao estádio, e escutando rádio. Estavam falando sobre a partida e um repórter de São Carlos perguntou ao Eurico Miranda como ele se sentia sendo um dirigente folclórico. E o Eurico Miranda ficou bravo e indagou o repórter, com que motivo ele o chamava de folclórico. Depois, me encontrei com o Eurico no estádio e falei o que havia escutado na rádio. Ele novamente se indignou e soltou: 'Você ouviu? Me chamou de folclórico! Folclórico o cacete", relembrou.

Foto: jornal O Diário


O Sãocarlense foi a campo com Narezzi ;Darci , Pinheirense, Serginho Brasília e Toninho Paraná; Ercides, Paulo Leme ; Serginho Dourado, Manguinha, Mané e Silvano.Técnico: Tonho. Entraram no decorrer: Ivan (goleiro), Zetti, Fernando,Doni e Carlos Alberto. 

Já o Vasco entrou com Régis; Ayupe, Alê, Quiñones e Cássio;Zé do Carmo, Andrade e Tornado; Sorato, Sonny Anderson e William. Técnico: Alcir Portela. Entraram no decorrer:  Pedro, Luciano, França e Marco Antônio Boiadeiro.

A arbitragem ficou por conta de Ulysses Tavares da Silva Filho. Os auxiliares foram: Claudinei Belo e Itamar Souza. Como curiosidade, não houve aplicações de cartões na partida (nem vermelho e nem amarelo).

sábado, 26 de janeiro de 2019

O que é o livro '1997: o ano em que a Europa conheceu o Grêmio Sãocarlense'?

Ainda estamos no primeiro mês de 2019 e já atingi um grande objetivo: lançar um livro. Um sonho de criança sendo realizado.  Vai ser o primeiro objetivos de muitos neste ano.

Mas afinal, o que é o livro?


Em 1997 o Grêmio Sãocarlense fez uma excursão à Europa e enfrentou grandes equipes da Itália e da Inglaterra.

Era um período em que não existia redes sociais e a internet ainda engatinhava. Essa excursão pelo Velho Continente acabou passando quase em branco pela maioria das pessoas. Não houve grande divulgação. Exceção ao jogo contra a Fiorentina que foi transmitido pela ESPN Brasil. 

Essa história foi caindo aos poucos no esquecimento. Principalmente a partir de 2004 quando o Sãocarlense foi extinto (retornou em 2018 com as atividades profissionais).

Ninguém sabia de fato contra quem o clube paulista havia jogado. Quem tinha ido na excursão. Os resultados. Fotos.  Já tinha até pessoas comentando algo do tipo:' mas essa história é verdade, mesmo?'

O G.E.S. foi no lugar do Grêmio de Porto Alegre? Do Grêmio Novorizontino?

A minha intenção,com essa publicação, é trazer o máximo de informações possível sobre essa viagem e não deixa-lá cair no esquecimento. Nem tudo foi esclarecido e, infelizmente, algumas informações foram perdidas durante esse tempo.

Menciono ainda que entrevistei ex-jogadores , ex-dirigentes que estiveram na excursão e relataram situações de jogo e de bastidores da excursão. Também consegui documentos com clubes na Europa (Burnley e Perugia foram solícitos com dados sobre as pelejas).



Espero que gostem do meu primeiro livro!!!



quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Ex-volante Jé relembra história no São Carlos, passagens na Europa e futuro fora do campo!

A temporada 2017 não foi como Jé esperava. Teve que se ausentar dos gramados por sete meses e após passar por exames foi constatado que não poderá ser mais jogador de futebol. O agora ex-atleta de 33 anos foi forçado a pendurar as chuteiras por um problema no coração (cardiomiopatia hipertrófica).

"No início deste ano me apresentei ao Cascavel.Após jogar seis rodadas do Campeonato Paranaense fiz uma avaliação médica e foi constatado o problema no coração. Tive que me ausentar do futebol, esperar sete meses para que o coração não tivesse uma rotina de atleta  para passar por outro exame. Voltei a São Carlos/SP e após os sete meses fiz outro exame no Incor (Instituto do coração).Infelizmente o resultado não foi positivo e agora sei que terei que largar o futebol. A médica me informou que isso é um problema genético e que em mim só se desenvolveu agora. Por ser genético, meus três filhos (Kaue, Kevyn e Davy) terão que passar por exames também para saber se eles tem cardiomiopatia hipertrófica", disse o ex-volante Jé em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C. 


Jé pelo São Carlos com os filhos Kevyn (dir.) e Davy (esq.)


Não foi a primeira vez que Jéferson Henrique Ramalho teve problema no coração.Logo no início da carreira, foi constatado que a sua pressão subia muito após praticar exercícios físicos. Mais que a média dos futebolistas e isso fez com que perdesse contratos com Santo André/SP e Juventus de Jaraguá/SC.

"Toda vez que um atleta atua é normal a pressão subir. No entanto, diziam que a minha subia mais que o normal.Eu era hipertenso Disseram que eu não poderia jogar futebol,mas depois os médicos me garantiram que eu poderia sim.Era só tomar o medicamento que controla essa pressão e estava liberado para jogar. O que foi um alívio. Agora foi outro problema. Não creio que tenha relação os dois problemas", explicou o ex-meio-campista.

"Quando recebi a notícia que não poderia mais jogar eu fiquei muito triste. Passou um filme na minha cabeça. Eu estava sozinho e chorei bastante a noite. Por mais que sabemos que um dia vamos ter que parar de jogar é duro ver que paramos por um problema de saúde e não por planejamento de carreira.No dia seguinte acordei e fui ler a bíblia como sempre faço e para amenizar a tristeza e iniciar um dia melhor fui ver televisão. Estava chovendo muito em Cascavel e de repente começou a trovejar e a televisão queimou! Eu pensei: 'Tem hora que da tudo errado. Fui dormir com aquela notícia ruim e acordei, liguei a TV para me distrair e ela queima (risos)'", revelou.

Sua primeira equipe foi o Independente/SP ao 16 anos. Pelo clube de Limeira/SP atuou um ano e disputou o Campeonato Paulista Juvenil. Depois como não tinha condições de se manter lá, acabou retornando a São Carlos/SP. 

Passou a atuar em outras áreas, até que aos 19 anos fez um teste no Grêmio Sãocarlense e foi aprovado. Jogou o estadual de juniores e no ano seguinte, com a falência do G.E.S., foi para o São Carlos F.L.

"Quando estava com 19 anos eu jogava no futebol amador de São Carlos. Até que um preparador físico, Plauto Keller, me convidou para fazer teste no Grêmio Sãocarlense. Fiz e fui aprovado. No entanto, eles tinham que dar ao menos uma ajuda de custo.Pela situação do Grêmio, eles não poderiam fazer isso.Eu já era casado, tinha 1 filho e precisava de dinheiro. Então, o Edinho, tio do Nenê (jogador de basquete) se ofereceu para me pagar um salário e o Grêmio só me registrava.O acordo foi feito e fiquei um ano lá jogando nos juniores. Após a licença do Grêmio do futebol profissional, o Julinho Bianchim me convidou para jogar pelo São Carlos. Me explicou o projeto, disse que ia me pagar e eu aceitei", afirmou Jé.   

A Águia da Central estava em seu primeiro ano como profissional e Jé iniciou bem a carreira escrevendo seu primeiro capítulo de uma bonita história pelo time de sua cidade. Logo em 2005 os carlopolitanos foram campeões da Série B do Campeonato Paulista. O equivalente a Quarta Divisão.

"O início foi bastante duvidoso. A cidade de São Carlos tinha uma paixão pelo Grêmio Sãocarlense. As pessoas queriam saber se o São Carlos tinha vindo para ficar ou seria algo passageiro Lembro que a 'Bezinha' teve início em abril e terminou só em novembro. Foi um campeonato longo. Jogar uma quarta divisão de paulista é difícil. Enfrentamos sempre equipes que passam por problemas estruturais,gramados horrorosos e atletas que estão com salários atrasados. É uma realidade que muitos não conhecem. Foi um campeonato longo e perdemos apenas 4 jogos. Foi muito bom ganhar esse título. O primeiro ano profissional do São Carlos e já sai como campeão.Fazer isso pelo time da cidade que nasci e vivi é muito gratificante", recordou Jé.

"Foi uma época muito legal. Fizemos as pessoas acreditarem no futebol de São Carlos. Alguns jogadores viram ali a última chance de tentar a carreira como profissional. Um deles era o nosso capitão Acleisson (atuou posteriormente na Portuguesa/SP , Avaí/SC, Paraná/PR e está no Rio Claro/SP) . Outro foi o zagueiro Cléber (passagens por América/RN, Ceará/CE e futebol chinês e português)", emendou.

Pela Águia da Central, com idas e vindas, Jé atuou em 120 partidas entre 2005 e 12. Da Série B do Paulista até a A-2. Passando por Copa Paulista. É o atleta que mais vezes vestiu a camisa da equipe fundada em 2004.

Em 2012, pela Série A-2 do Campeonato Paulista, o volante Jé recebeu no Luisão, antes de um duelo contra o Grêmio Barueri uma placa comemorativa pelos 100 jogos com a camisa do São Carlos.

"Foi muito legal aquilo. Um dia especial. O São Carlos jogava apenas o estadual (nem sempre disputava a Copa Paulista), logo só tinha calendário durante 3 ou 4 meses do ano. Perto de muitas equipes, entrava pouco em campo. Alcançar 100 jogos é um grande feito.É o time da minha cidade. Onde fui campeão e fiz mais de 100 jogos. Pode ser que um dia que alguém passe o meu feito, mas eu sempre serei o primeiro a ter feito mais de 100 jogos. O troféu pode empoeirar, a medalha sumir, mas as marcas do futebol nunca se apagam. As vezes, quando tenho tempo e vou ao Luisão ver jogos do São Carlos, há torcedores que me reconhecem,falam dos meus tempos pelo clube e pedem para eu voltar a atuar pelo time. Nem que seja para encerrar a carreira. Essas coisas me deixam muito feliz", contou.
Recebendo a placa em alusão aos 100 jogos pela Águia


No período em que não havia jogos pelo São Carlos, Jé foi emprestado para alguns clubes. Disputou uma Copa Paulista pelo União São João, uma Série B do Paulista pelo Penapolense (vice-campeão) e atuou duas vezes no exterior: Armênia e Portugal.

A primeira aparição na Europa foi no ex-país da URSS. Em uma temporada defendendo o Ararat se assustou ao ver um país em construção pós-guerra e um futebol com pouca estrutura profissional.

" A Armênia ficou independente da URSS nos anos 90 e depois passou por um período de guerra. Não é simples reconstruir um país, após uma guerra. Então se via muitos prédios que pareciam abandonados, com aparência destruída e isso causava uma estranheza. Lembro apenas de uma praça no centro da cidade que era bonita.A minha adaptação lá foi tranquila, pois no Ararat havia três brasileiros que já jogavam lá e me ajudaram na adaptação e na tradução do que era passado nos treinos", falou o ex-jogador.

"No entanto, o nível técnico lá era fraco. Os bons salários ficavam para os jogadores estrangeiros. Recebíamos bem,apesar de não serem pontuais no pagamento, mas os atletas locais não eram bem remunerados. Então, eles tinham duas profissões. Não se dedicavam apenas ao futebol. Muitos deles não se cuidavam como deveriam. Bebiam e fumavam muito. Nós brasileiros cuidávamos melhor da parte física e isso fazia a diferença nos jogos . Jogávamos tão bem que eu atuava como atacante! Pelas pontas. Tinha muita liberdade. Foi o único momento como profissional que atuei como atacante",continuou o ex-primeiro volante.

Pelo Ararat, acabou ficando uma temporada (2008/09) e foi vice-campeão armênio. O próprio conta que só não foi campeão por 'mutreta'do presidente do Pyunik (campeão da temporada) que também era presidente da federação local.

"Era campeonato de pontos corridos e na última rodada vencemos o líder (Pyunik) e empatamos em pontos, mas tínhamos um melhor saldo de gols. Logo, era para o título ficar com a gente. Só que o dono daquele time era o mesmo dono da federação e ele inventou que teria que ter um jogo para desempate para decidir o campeão. Foi de última hora. Teve o jogo e terminou 0 a 0. Foi para a prorrogação e enquanto eles não marcavam gol, o juiz não acabava o jogo. Bem no fim, eles anotaram um gol e em seguida o juiz encerrou a partida", relembrou.

"Apesar disso, foi uma experiência boa ter atuado lá. Joguei a fase de pré-grupos da Liga Europa contra o Lugano da Suíça. Acabamos perdendo. Ao término da temporada alguns times armênios entraram em contato com o São Carlos para me contratar. Mas não houve acerto financeiro e acabei não indo", emendou.

Na temporada 2010/11, o são-carlense teve a sua segunda experiência na Europa. Foi atuar no Santa Clara da Segunda Divisão de Portugal.Pela equipe da Ilha dos Açores, o brasileiro disse que a adaptação fora de campo foi mais fácil. Dentro de campo, houve uma questão tática para se ambientar.

"Em Portugal a adaptação foi mais fácil, pois o idioma é o mesmo.Ninguém precisa ficar traduzindo para você o que está sendo dito nos treinos. Em Portugal há muitos brasileiros, então isso ajuda muito na ambientação. Dentro de campo é exigido uma obediência tática muito grande. No início é muito difícil. O brasileiro joga muito no improviso e na Europa o jogo é mais 'mecânico'. Eu dei sorte de pegar um treinador jovem (Bruno Moura) e  que teve muita paciência comigo. Me colocava sempre de titular e me ajudava no jogo tático. Sei que existem treinadores portugueses mais velhos que não gostam de trabalhar com brasileiros, pela pouca obediência tática. Depois que consegui me adaptar, tive uma sequência boa de jogos.Foi uma experiência bem legal ", afirmou o brasileiro.

Em 2011, retornou ao São Carlos. A equipe lusitana queria prorrogar o empréstimo, mas os paulistas falaram que apenas o venderiam. Sem acordo, Jé seguiu em sua cidade natal até o segundo semestre, quando terminou o seu vínculo contratual. Após uma rápida passagem pelo Mamoré/MG, o meio-campista foi contratado pela Aparecidense/GO.

Pela equipe do Centro-Oeste Jé ficou até 2016. Nesse período viveu na capital de Goiás e disputava o Estadual, primeiro semestre, pelo time de Aparecida de Goiás e depois era emprestado para outro clube. Vale ressaltar que foi a partir de 2013 que finalmente pode se dedicar somente ao futebol e não teve que fazer trabalhos por fora para complemento de renda.

No segundo semestre de 2013, defendeu o Treze/PB pela Série C do Campeonato Brasileiro. Na equipe de Campina Grande/PB sentiu o 'calor'da torcida nordestina e a rivalidade entre Treze e Campinense.

"O nordestino é um povo muito apaixonado por futebol. Lá é mais difícil de jogar, pois eles são muito fanáticos e exigem demais dos times. Eles vivem intensamente o clube. São muito apaixonados. O problema é que lá muitos diretores dão voz para os torcedores, os deixam assistir treinos e falar com jogadores. As vezes falta impor um limite. Lembro que um determinado período estávamos na zona de rebaixamento da Série C e em um treino os dirigentes abriram os portões para a torcida e quase nos pegaram na porrada. Depois nos reabilitamos e nos classificamos às quartas de final e na visão da torcida éramos os melhores do mundo (risos)", revelou o ex-jogador, para falar sobre a rivalidade na cidade campinense.
Em ação pelo Treze/PB


"Em Campina Grande/PB tem torcedor do Campinense que se nega a dizer o número 13. Se nega a dizer que hoje é o dia 13. Tudo para não lembrar do nome do rival. Era muito louco isso", continuou.

Naquela Série C, o Treze foi eliminado nas quartas de final pelo Vila Nova/GO e acabaram perdendo o acesso à B.

"Vencemos o jogo da ida, em casa, por 1 a 0. Depois fomos até o aeroporto para embarcar até Goiânia e a torcida fez uma carreata para nos acompanhar. Era incrível o apoio que recebemos até o voo. Depois perdemos para o Vila Nova por 2 a 0. Voltamos para Campina Grande/PB e estava um clima de velório na cidade. Soube de torcedores que perderam carro e moto, porque apostaram no acesso e não veio, ", relembrou.

Após disputar o estadual de 2014 pela Aparecidense, Jé foi defender o Vila Nova na Série B do Brasileiro. A equipe que havia eliminado a Raposa na Série C, agora o contratou.
Vestindo a camisa do Vila Nova/GO


"Eu acabei indo jogar  a Série B pelo Vila Nova. Situações do futebol.Para mim era bom, pois eu morava em Goiânia (Aparecida de Goiás é uma cidade 'colada'com a capital do estado) e minha família estava adaptada a cidade", explicou, para depois falar sobre o fanatismo da torcida do Tigre.

"A torcida do Vila Nova é a mais fanática de Goiás. É considerada a torcida do povo. Eles 'pegam muito no pé' dos jogadores.A rivalidade que tem com o Goiás é tão grande que se eles vem um jogador do Vila Nova atuando com uma chuteira verdes eles brigam. Não aceitam. Se pudessem pintavam o gramado de vermelho (risos)", continuou.

"A rivalidade entre Goiás e Vila Nova chega a ser perigosa. Já soube até de morte entre torcedores. É muito intenso. Lá ainda tem o Atlético/GO, mas é um time que para eles 'não fede e não cheira'. O coro pega mesmo entre Vila Nova x Goiás", emendou.

O clube goiano acabou rebaixado à Série C do Campeonato Brasileiro de 2014.

"Infelizmente acabamos caindo. O Vila Nova é um time de massa, mas atrasa salário. Isso atrapalha muito o ambiente", contou.

Em 2015, a Aparecidense/GO foi vice-campeã estadual. No semestre final, disputou a Série D do Brasileiro pelo Operário/PR e chegou às quartas de final, perdendo o acesso para o Remo/PA.

"Infelizmente, sempre fiquei muito no 'quase'. Vice-campeão algumas vezes e quase acesso em algumas outras. Título? Apenas aquele com o São Carlos em 2005. Meu único título e no meu primeiro ano como profissional", recordou.

Em 2016, atuou novamente no Aparecidense/GO e posteriormente no Santa Helena/GO na Série D do Campeonato Brasileiro.

Sobre o futuro, Jé afirma que pretende trabalhar com garotos que estão começando a carreira, com palestras e orientações.

"Gostaria de poder dar palestras e orientações para quem está começando a carreira.Um trabalho nesse sentido. Tenho conversado com o Edson Vieira (técnico do São Carlos) para ver se posso ter um trabalho no São Carlos. Falar da minha história no clube. Não quero um trabalho que precise viajar muito. No momento quero ficar mais próximo da família. Como jogador, viajamos muito e temos pouco contato com os filhos.Conheço atletas que falam que não sabem nem como conversar com os filhos. É triste isso", revelou, para depois avaliar a sua carreira no campo.

"Ser jogador de futebol era um sonho que sempre tive. Realizei. Infelizmente não atuei no primeiro escalão.No entanto, por onde passei quase sempre fui titular. Poucas vezes fiquei no banco. Isso é uma marca que me orgulho. Fiz história na minha cidade. Conheci vários lugares bonitos.Atuei no exterior. Sei que por onde passei entrei e sai pela porta da frente.Os clubes podem até ter alguma crítica minha em relação ao meu desempenho em campo,mas ao meu caráter não. Por onde estive eu fiz amizades e tenho a consciência tranquila que dei o meu melhor como ser humano e jogador", finalizou.

Bônus:

Jogos inesquecíveis:
Final Campeonato Paulista Série B 2005: São Carlos 2x0 Osvaldo Cruz

"Foi o único título que conquistei na minha carreira.Aquele jogo coroou uma campanha incrível que fizemos na Série B do Paulista. Durante a campanha meu filho do meio nasceu e teve problemas de saúde. 12 dias internados. Meu pai também teve problemas de saúde. Em dado momento perdi a posição e fui para o banco.Recuperei a titularidade.Quando veio o título lembrei toda a turbulência que passei tanto pessoal como no campo e  vi que valeu a pena seguir até o fim."

Campeonato Brasileiro Série B 2014: Vila Nova 2x1 Vasco

"Esse jogo foi marcante para mim. Acabamos rebaixados naquele campeonato, mas a vitória sobre o Vasco foi inesquecível. Atuamos no Mané Garrincha, em Brasília/DF, contra uma equipe grande do futebol brasileiro e com televisão transmitindo. É esse momento que você se sente parte do mundo do futebol. Nessas horas que a gente vê que valeu a pena ter sido jogador."

Clubes que marcaram a carreira:
" São Carlos, Penapolense e Aparecidense pelas histórias que fiz nesses clubes. Me identifico muito com os três times."

Melhor cidade que morou:
"Goiânia. Se pudesse morava lá novamente."

Pior campo que já atuou:
"Foi em 2007. Defendia o Penapolense e fomos enfrentar o José Bonifácio no campo deles pela Série B do Campeonato Paulista. Foi o campo mais horroroso que já atuei. A grama  do campo do José Bonifácio batia quase no joelho. Era muito alta. Foi uma situação que eu me deparei e fiquei pensando se vali a pena ser jogador de futebol. Eu não me sentia jogador de futebol naquele momento.Refletia se valia a pena realmente passar por isso. Outro campo ruim que atuei foi o do Guariba também pela Série B do Paulista."

.
Crédito das fotos: divulgação 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Exclusivo! Ex-volante Paulo Vitor projeta carreira fora do campo

Prólogo: Conheci Paulo Vitor no início de 2014, através do meu irmão que é amigo dele. Naquela época eu ainda era colunista do São Carlos Agora e sempre que podia entrevistava jogadores da cidade para falar sobre suas carreiras no mundo da bola.

Mostrar a vida deles fora de São Carlos e contar as histórias que passaram em outros estados e países, por causa do sonho de se tornarem jogadores de futebol.

Naquela ocasião, Paulo Vitor estava saindo do CRB e acertando com o Sertãozinho para a disputa da Série A-3 do Campeonato Paulista. Dei com exclusividade a transferência do meio-campista.

Infelizmente, as minhas postagens antigas no SCA foram apagadas, pois mudou a plataforma do site e eu não tinha todos os materiais salvos.

Essa matéria era uma delas. Passaram-se três anos e me encontrei novamente com Paulo Vitor. Agora aposentado, ele relembrou a carreira, sua vida no futebol entre 2015/17 e o motivo que o fez, aos 27 anos, desistir das 4 linhas e partir para os bastidores.

Confira:

Um dos grandes clubes de categorias de base que havia no Brasil no início dos anos 2000 era o Pão de Açúcar. O time era do mesmo dono da rede de supermercados.  O clube fazia peneiras pelo Brasil todo e em uma delas em São Carlos/SP, Paulo Vitor se inscreveu e foi aprovado. Aos 14 anos deixou sua cidade natal e foi morar em São Paulo/SP em busca do sonho de ser jogador profissional.

Pelo PAEC atuou duas temporadas e na sequência se transferiu para o Desportivo Brasil. Sua posição inicial era centroavante. Em 2008, através de um jogo inusitado, Paulo Vitor Landin dos Santos se tornou volante.

"Era um amisto contra o sub-20 do Corinthians. Foi uma partida tensa e houve muita briga entre os jogadores. Um meia nosso foi expulso e o Pita (técnico) pediu para eu recuar e ser o meia. Pouco depois, um volante nosso foi expulso e eu tive que recuar mais um pouco. Teve um momento do jogo que eu dominei a bola no meio-campo parti sozinho, toquei a bola, recebi de volta, fui até a área adversária e fiz o gol. Depois do jogo, o Pita chegou para mim e disse que eu teria que me tornar volante. Falei que não achava uma boa ideia, pois eu não sabia marcar. Ele discordou e falou que eu sabia sim. Disse que ele tomou a mesma atitude com o Júlio Baptista, que era centroavante e virou volante. Vi que era um bom exemplo e aceitei o desafio", disse o ex-meio-campista em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

O volante era um dos destaques da base do Desportivo Brasil, tanto que atuou pela Taça SP de Juniores de 2008, com o time sub-20, tendo 17 anos e foi titular. Depois assinou seu primeiro contrato profissional pela equipe que era comandada pela TRAFFIC.
Paulo Vitor em ação contra o Juventus/Crédito:Divulgação 


Também em 2009, após boa atuação na Taca BH, recebeu uma proposta do Cruzeiro. Um contrato de 6 meses e se aprovado, seria contratado. No entanto, o Desportivo Brasil e os empresários do jogador não aceitaram essa condição. Queriam a venda em definitivo. O acordo não foi feito e em fevereiro, Paulo Vitor foi se aventurar no Bolívar-BOL.

"Eu queria ter ido para o Cruzeiro e o clube e os meus empresários não me liberaram. Fiquei bem chateado. Depois, me mandaram para o Bolívar, uma equipe que o Desportivo Brasil tinha parceria. O que me motivou a trocar de país era que o Bolívar iria disputar a Libertadores. No entanto, eu não me adaptei a Bolívia. Os treinos eram todos na altitude. Terminava os treinos muito cansado e desgastado. Não rendia o esperado. Além disso, a estrutura do clube era muito simples. Era igual de um time de Série A-3 do Paulista. Não quis ficar e voltei", contou o são-carlense.

Ainda em 2010, 'queimado'com o clube, Landin conheceu o empresário Neto Genovez e desfez o acordo com o time de Porto Feliz/SP.

Em 2011, o meio-campista foi defender a Francana na Série A-3 do Paulista. Foi titular e seu destaque chamou a atenção do técnico Guto Ferreira que pediu sua contratação junto ao Mogi Mirim.
Após boa temporada pela Francana, Paulo Vitor foi para o Mogi Mirim/Créditos: Youtube


Pelo Sapão foi titular e campeão paulista do interior de 2012. Na classificação geral, aequipe Vermelha e Branca ficou em sexto lugar.

"Aquele foi o meu melhor momento como jogador. O Guto Ferreira foi o melhor técnico que trabalhei. Naquele time, tinham bons jogadores como Hernane Brocador, Baraka, Renê Jr., dentre outros", relembrou o atleta nascido no dia 25/04/1990.

Após a boa campanha no Paulista, P.V. se transferiu para o Anápolis para disputar a Segunda Divisão do Campeonato Goiano. Foi campeão.

"O Anápolis era dirigido pela família do Carlinhos Cachoeira, logo eles fizeram um alto investimento para a disputa da Segunda Divisão.Eu fui pela questão financeira. Pagavam bem e em dia. Era nítido que o nosso time era muito melhor que os adversários. Ganhamos a competição com sobra. Nosso time tinha condições de disputar uma Série B de Brasileiro", relembrou o futebolista.

Em 2013, o paulista foi se aventurar pelo Nordeste. Mais precisamente no CRB. Disputou a Copa Nordeste, o Estadual, a Copa do Brasil e a Série C do Brasileiro. Destaque para o Campeonato Alagoano, onde os regatianos foram campeões.

"2013 era o ano que o CSA, maior rival do CRB, estava completando 100 anos de fundação.A nossa meta era impedir a festa deles. Enfrentamos eles na final e fomos campeões!! Ficamos na história por ter estragado a festa deles. Foi muito legal atuar em Alagoas, pois o CRB e o CSA são dois times de massa com torcidas apaixonadas. É muito legal jogar esse clássico", relembrou, para depois lamentar os rincões de pobreza que presenciou em Alagoas.

"O que me deixava triste era ver aquela seca e pobreza que conhecia da TV, de repente estava próxima a mim. Lembro que fomos jogar no interior e vi um boi morto na estrada por conta da seca. Atuei em estádios precários, que na várzea de São Carlos são melhores. Em um duelo contra o CEO, em Olho d'Água das Flores, o jogo iniciou as 16h e quase não terminou, por causa da falta de refletores. Tivemos que jogar no escuro mesmo",emendou.

Após o término da Série C, onde o CRB foi eliminado na primeira fase, Paulo Vitor foi atuar no Goianésia , na Série D do Brasileiro, a convite do treinador Wladimir Araújo que trabalhou com ele no Anápolis.

"Fui para o Goianésia, pois o técnico me convidou. Fomos eliminados na segunda fase. Era um time com uma estrutura bem simples (bem diferente do Anápolis). Me pagaram apenas um mês de salário e nada mais", contou.

Em 2014, se transferiu para o Sertãozinho para a disputa da Série A-3 do Campeonato Paulista. O Touro dos Canaviais chegou até a segunda fase da competição, mas não conseguiu o acesso.

No segundo semestre, Paulo Vitor ficou sem atuar. Chegou a receber ofertas de alguns clubes, mas não fechou contrato.

"Quando sai do Sertãozinho, eu quis dar um tempo na carreira. Refletir sobre várias situações da vida.Não sabia se queria seguir atuando.Tive propostas de times como Volta Redonda, mas inicialmente recusei. Depois, entrei em contato para acertar, mas o meu empresário disse que já era tarde demais e eles não queriam mais saber de mim. Acabei ficando o semestre todo sem atuar. O que não foi fácil", relembrou.

Para 2015, Landin seguiu no futebol de São Paulo e defendeu o Votuporanguense novamente na Série A-3. Foi vice-campeão com o acesso garantido.

"O Votuporanguense é um clube bem estruturado e há altos investimentos. O legal é que a cidade apoia o time. Os nossos jogos tinha uma média de 3 mil, 4 mil pessoas. Altíssimo para um jogo de Série A-3", contou o meio-campista que depois lembrou da derrota na decisão para o Taubaté.

"Fizemos 3 a 0 no jogo de ida em casa e estávamos praticamente com o título na mão. No entanto, no jogo da volta, não fomos bem e perdemos por 4 a 0. Escapou por pouco aquele título", lamentou.

Em 2016 foi a vez de defender o São Carlos, clube de sua cidade natal. Pela Águia da Central, Paulo Vitor lembrou três episódios: O quase acesso, uma tentativa de suborno e pela primeira vez aposentar dos gramados.
Atuando pelo clube de sua cidade natal/Créditos: site oficial do São Carlos F.C.


"No São Carlos eu fui treinado pelo Rafael Guanaes. Um estudioso do futebol. Um cara que entende muito do jogo. Com ele, eu troquei muitas ideias sobre futebol, outras funções que podem atuar fora do campo e me abriu a mente para tentar algo fora das quatro linhas", contou.

"Quis ir para o São Carlos, pois era o time da minha cidade e estava retornando após 12 anos morando fora. Foi muito legal atuar no clube, apesar de até hoje me deverem salários", emendou.

Os carlopolitanos foram para a segunda fase, onde as 8 equipes foram divididas em dois grupos de 4. Apenas o campeão de cada chave garantiria o acesso.

O São Carlos teve como rivais, Catanduvense, Atibaia e Rio Preto. Nos quatro primeiros jogos fez 10 pontos. Na penúltima rodada iria enfrentar em casa o Atibaia e precisava de um simples triunfo para garantir o acesso. Para facilitar a vida do São Carlos, houve uma tentativa de suborno.Negado pelo elenco da Águia da Central.

"Dias antes do jogo, uma pessoa entrou em contato com a gente dizendo ser jogador do Atibaia. Ele pediu dinheiro para nós e em troca  o time perderia de propósito para o São Carlos. Nós precisávamos apenas de uma vitória para garantir o acesso. No entanto, nós negamos o suborno, pois chegamos até onde tínhamos chegado com mérito próprio e não é da nossa índole fazer esse tipo de acordo.Nem fomos atrás depois para saber se a pessoa que se dizia ser jogador do Atibaia era de fato. Deixamos de lado.Infelizmente acabamos perdendo por 1 a 0", revelou Paulo Vitor.

Na rodada final, o embate seria contra o Rio Preto, fora de casa. As duas equipes tinham 10 pontos e quem ganhasse subia de divisão. A equipe Verde e Preta venceu por 3 a 1 e se garantiu na A-2.

"Nos outros anos, os dois primeiros de cada grupo subiam. Se fosse isso, nós teríamos garantido o acesso.Uma pena não ter conseguido", lamentou.

Em 2017 defendeu o Penapolense na Série A-2 do Paulista e após o término da competição decidiu pendurar as chuteiras.

"Como já tinha dito, era uma ideia que eu já estava pensando há um bom tempo. Resolvi que era hora de parar. A gente ainda fica na esperança que um dia pode ir para um clube maior, jogar um campeonato maior, mas com o tempo passando isso fica mais difícil", explicou, para dizer que apesar de alguns deslizes se sente realizado com a sua carreira.

"Sou feliz com a minha carreira. Joguei em estádios grandes, enfrentei clubes tradicionais do Brasil, fiz amigos e conheço jogadores que passaram pela Seleção Brasileira. O que eu teria feito diferente era ter me cuidado mais como atleta. Eu era jovem e não ouvia os mais velhos.Eu, como a maioria dos jogadores, venho de uma família pobre. No entanto, meu pai era professor e minha mãe cabeleireira. Logo,sempre fui incentivado a estudar. Então, por ter estuado achava que sabia tudo. Acreditava que se tivesse um jogo no sábado, eu poderia sair na quinta-feira a noite que não teria problemas. Um dos que me aconselhava era o Guto Ferreira. Ele me dizia que teria que cuidar mais do corpo. Mas não dava ouvidos. No Mogi Mirim eu era titular e meus reservas eram Baraka e Renê Jr., por exemplo. Os dois hoje tiveram a chance de irem para clubes maiores", afirmou o agora ex-atleta.

"Outro ponto que gostaria de ressaltar é que a geração de hoje se ilude muito com o glamour que a mídia e as redes sociais mostram.Hoje muitos meninos querem ser o Neymar. Não necessariamente o jogador,mas querem a fama dele. Se iludem com o sucesso dele. Não entendem o quão difícil é chegar lá. Na minha época, eu queria ser jogador de futebol mesmo. Gosto de jogar futebol. Tinha como inspiração o Marcelinho Carioca e queria ser um atleta igual ele nos campos. Eu vejo algumas crianças e percebo que falta isso neles. Gostarem mais do jogo de futebol", emendou o ex-futebolista que um iniciou um trabalho de gerenciamento e captação de novos atletas para a NG Soccer. Empresa que o agenciava como futebolista.

Por fim, Paulo Vitor ainda comentou sobre a atual situação do futebol brasileiro e que é necessário ser menos conservador e estudar mais o que acontece em campo nos quatro cantos do planeta.

"O brasileiro precisa ser menos conservador no futebol. O conservadorismo faz você não crescer no esporte. Ser saudosista sim, mas não se atrelar ao passado. Não é porque um método deu certo há 20, 30 anos que seguirá dando. O futebol mudou muito nos últimos anos. O futebol brasileiro não acompanhou essa mudança. Os clubes precisam ser mais profissionais em suas gestões. Colocar profissionais que saibam lidar com finanças,publicidade, administração e etc.Serem mais profissionais e menos amadores. Dentro de campo, os treinadores entenderem também como se o joga o futebol atual.Estudar mais. Poucos fazem isso. Tite é um exemplo de modernidade. Mais recentemente Fábio Carille no Corinthians e Jair Ventura no Botafogo. Priorizam um futebol mais coletivo e menos individualista. Não é fácil fazer essas mudanças, poderá levar anos, mas esse é o caminho", finalizou.




sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Exclusivo! Ex-goleiro Gatti relembra a carreira e projeta vida como gestor de futebol

No último dia 5 de setembro, o goleiro Gatti completou 33 anos de vida. Praticamente um mês depois, o arqueiro anunciou sua aposentadoria dos gramados.

Após ver essa notícia, o Arquivos e Histórias F.C  entrou em contato com o ex-futebolista para saber mais detalhes sobre a decisão de se retirar dos gramados.

Gatti recebendo prêmio de melhor goleiro do Carioca de 2007/Arquivo pessoal-Gatti


Nesta matéria, Rafael Savério Gatti também relembrou seus 17 anos como profissional e falou que sua próxima meta é ser gestor esportivo. Seu início deverá ser em 2018 no Votuporanguense/SP, sua última equipe como atleta.

Confira:
Desde pequeno Gatti quis ser jogador de futebol. Sempre teve o sonho de atuar como goleiro. Sua referência era Zetti, bicampeão da Libertadores e do Mundo com o São Paulo e que integrou o elenco do Brasil no tetracampeonato da Copa do Mundo de 1994.

Os primeiros passos foram dados na escolinha Gol de Placa, em São Carlos/SP, sua cidade natal. O dono do local era Guilherme Dalla Déa, atual técnico da Seleção Brasileira sub-17.  Em 2000 fez teste no Rio Branco/SP e foi aprovado. Pela equipe de Americana/SP, disputou a Taça São Paulo de Juniores 2003, chamando a atenção do Cruzeiro que o contratou.

"A minha base foi toda no Rio Branco. Em três temporadas, disputei todos os campeonatos possíveis. Paulista, Jogos Regionais, Jogos Abertos do Interior (foi campeão deste campeonato), dentre outros. Em 2003, jogando a Taça São Paulo de Juniores, o Cruzeiro me viu atuando e me contratou. Na equipe mineira vivi um momento marcante na carreira. Finalmente consegui chegar em um grande clube do Brasil", disse o ex-arqueiro em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

Pela base da Raposa, Gatti foi campeão de um torneio em Terborg na Holanda, e semifinalista em uma competição na Alemanha. Participou de alguns treinos da equipe profissional de 2003 que se sagrou campeã estadual, da Copa do Brasil e do Brasileirão.
Em seu início de carreira no Cruzeiro/Crédito: Gontijo/Estado de Minas


Entretanto, sua efetivação no time principal veio em 2004 e a estreia aconteceu no Brasileiro de 2005, de uma forma inesperada. Foi na rodada 37 do Brasileirão, após a expulsão do goleiro Arthur contra o Fortaleza. Gatti entrou já tendo que pegar um pênalti.

"O goleiro nunca sabe quando terá a sua oportunidade. Então, ele sempre trabalha forte, pois de repente, pode entrar durante um jogo. Foi assim comigo. Minha estreia foi no Castelão,contra o Fortaleza, após a expulsão do goleiro Arthur. Durante o aquecimento, o técnico PC Gusmão me falou: 'vai lá concentrado, faz o que você vem fazendo nos treinamentos.' Infelizmente não peguei o pênalti e perdemos por 3 a 1", recordou o são-carlense.

A Raposa tinha parceria com a Cabofriense e isso fez com que em 2006 Gatti fosse emprestado para a disputa do Campeonato Carioca. No entanto,o seu grande auge como atleta foi na temporada 2007. Foi vice-campeão do segundo turno , eleito o melhor goleiro  e a revelação daquele estadual (ao lado do volante Renato Augusto, ex-Flamengo e atualmente na China).

"Esse Campeonato Carioca me colocou no mapa do futebol brasileiro. O nosso elenco era muito unido, fechado e que acreditava muito no técnico Waldemar Lemos. Nosso capitão era o volante Marcão (ex-Fluminense). Todos tinham o mesmo foco e o mesmo pensamento. Por isso, que demos certo", emendou o camisa 1.

No segundo semestre, retornou para a equipe Celeste e Gatti teve sua chance no Brasileiro, quando Fábio e Lauro estiveram ausentes. A prata-da-casa se deu bem e fez história no clássico mineiro. O embate foi pela sétima jornada.

"Aquele jogo teve várias reviravoltas. O Cruzeiro fez 2 a 0 no primeiro tempo. Na etapa final, o Atlético/MG empatou e teve um pênalti para bater.Defendi e na sequência o Cruzeiro anotou dois gols e ganhamos por 4 a 2. Entrei para a história do Cruzeiro como o primeiro goleiro a defender um pênalti do Atlético/MG em Campeonatos Brasileiros. Lembro que muitos anos depois, encontrava torcedores do Cruzeiro na rua e eles sempre lembravam desse jogo e me parabenizavam pelo feito", contou o atleta, que após aquele clássico foi muito elogiado por Dorival Jr., técnico da equipe celeste.

Em 2008 atuou, novamente por empréstimo, no CFZ/RJ na Série B do Carioca. O que o motivou a atuar no modesto clube do Rio de Janeiro foi o fato de pertencer a Zico e o convite ter sido feito pelo ex-volante Marcão, seu companheiro nos tempos de Cabofriense.

No ano seguinte, defendeu as cores do Juventude na Copa do Brasil e no Campeonato Gaúcho. No Estadual, o Alviverde chegou até as quartas de final do primeiro turno (eliminado pelo Grêmio) e na semifinal do returno, sendo derrotado pelo Inter.

Também atuou nas primeiras rodadas da Série B do Campeonato Brasileiro, mas retornou a Belo Horizonte, pois foi solicitado pelo Cruzeiro.

Ao final daquela temporada, seu vínculo com a equipe mineira se encerrou e Gatti estava livre para negociar com outra agremiação. Seu destino foi a Anapolina/GO, onde também fez história.

"Tive um convite para atuar na Anapolina e resolvi ir. Atuei bem no estadual de 2010 e depois fui para o Brasiliense jogar a Série B do Brasileiro. Retornei a Anapolina em 2011 e no Campeonato Goiano chegamos até a semifinal. Ficamos 11 jogos invictos. Um recorde na história do clube", contou Rafael Savério Gatti.

No segundo semestre de 2011, o goleiro seguiu sua trajetória no Centro-Oeste. Desta vez foi defender o Cuiabá na Série D do Brasileiro. Pela equipe do Mato-Grosso conseguiu o acesso à Série C.

"O acesso foi fantástico. É um clube novo (2002) e vem crescendo ao poucos. Tinha muito investimento em estrutura e centro de treinamento. Foi muito bom ter participado dessa etapa do clube. Acredito que hoje a torcida do Cuiabá aumentou e a médio e longo prazo tenho certeza que irão jogar a Série A do Brasileiro", opinou o ex-boleiro.
Pelo Cuiabá onde conquistou o acesso à Série C. Crédito: site oficial do E.C.Cuiabá


Em 2012 seguiu no Dourado, disputando o Estadual e a Série C do Brasileiro. Em 2013, retornou ao Rio de Janeiro, desta vez para defender o Volta Redonda. Pelo clube fluminense ficou até 2014, onde também fez história e quebrou recordes.

"Fui para o Volta Redonda através de convite de amigos meus que estavam lá. No Carioca chegamos até a semifinal (eliminado pelo Fluminense) e segui para a disputa da Copa Rio, onde quebrei dois recordes. O clube ficou 11 jogos invictos (recorde na história deles) e eu fiquei mais de 900 minutos sem levar gols. Isso nunca tinha acontecido na minha carreira", recordou o ex-goleiro que tem 1,87 de altura.

Em 2014 seguiu no Voltaço e no segundo semestre retornou ao Cuiabá para a disputa da Série C. No ano seguinte se transferiu para o Mirassol para jogar a Série A-2 do Campeonato Paulista. Quase fez história no Leão da Araraquarense.

"Sempre quis atuar profissionalmente no futebol paulista. O Mirassol me deu essa oportunidade. Um clube muito bem estruturado e com pessoas honestas trabalhando. Na Série A-2 daquele ano, os 20 times jogavam entre si em turno único e os 4 melhores subiam para a elite. O Mirassol ficou em quinto lugar com 35 pontos. A mesma pontuação do Água Santa. No entanto, não subimos, pelo saldo de gols (15 a 7)", relembrou Gatti, que iniciou aquela competição na reserva e no decorrer virou titular.

No segundo semestre daquela temporada ficou sem atuar e voltou aos gramados apenas em 2016 pelo Guarani. Pelo Bugre disputou novamente a Série A-2 do Paulista, ficando na nona colocação.

"Jogar no Guarani foi sensacional.É um clube que se percebe que é grande. É campeão brasileiro e tem uma torcida grande. Passa por dificuldades, mas foi bacana atuar lá", opinou.

No segundo semestre defendeu o Votuporanguense na Copa Paulista, onde foi semifinalista, sendo eliminado pelo campeão XV de Piracicaba.

Seguiu na Pantera Alviengra em 2017 e após o término da Série A-2, recebeu um convite para ser gestor do clube na próxima temporada. Após alguns meses, o arqueiro decidiu 'pendurar as chuteiras'e tentar a vida de dirigente de futebol.

"Eu acredito que poderia jogar mais uns 2 ou 3 anos. No entanto, a minha realidade é diferente de outras temporadas. Eu já não vinha atuando mais em clubes grandes e em campeonatos de maiores níveis. Para retornar para um time grande, sei que é muito difícil, até pela minha idade. A tendência é jogar em times menores e eu sei o desgaste e o estresse que é atuar em um clube pequeno. Paralelo a isso, eu já vinha conversando com o presidente do Votuporanguense sobre a minha vontade de me tornar dirigente um dia. Já fiz curso de gestão na Universidade do Futebol e tenho um curso de administração.Ainda pretendo me especializar mais, fazer o curso de gestor de futebol da CBF e quem sabe daqui  3 ou 4 anos me tornar um grande dirigente. No entanto, o presidente do Votuporanguense (Marcelo Stringari) me fez o convite para trabalhar com eles. Disse que seria bom para o clube ter um gestor com experiência como jogador de futebol. Que entendesse das quatro linhas. Eu aceitei. O Votuporanguense é um clube-empresa bem estruturado e que tem um projeto ambicioso. As pessoas que trabalharam lá são sérias e por isso aceitei", revelou Gatti.

Pelo Votuporanguense, sua última equipe. Crédito: Reprodução/Facebook 


O futuro gestor se diz feliz com a sua carreira nos campos, mas acredita que faltou uma chance de atuar no exterior.

"Sou muito feliz com a minha carreira de futebol. Foi um sonho de criança realizado. Joguei em vários clubes, onde fiz histórias. Faltou uma experiência no exterior, quem sabe como dirigente não surja algo?", contou.

Gatti tem residência fixa em Belo Horizonte/MG. O ex-arqueiro afirma que até hoje torcedores do Cruzeiro o enaltecem por ter atuado no time, principalmente pelas redes sociais.

"Depois que sai do clube, muitos torcedores me reconheciam na rua e vinham falar comigo. Principalmente sobre o clássico de 2007. Mas os anos passam, outros jogadores aparecem no clube e isso tem diminuído. Poucos me param na rua hoje. Já nas redes sociais é mais comum vir torcedores mandarem mensagem, o que é gratificante", emendou.

Nesta temporada, o Cruzeiro faturou a Copa do Brasil. A quinta de sua história e teve como herói o goleiro Fábio, ao defender a cobrança de Diego na disputa de pênaltis diante do Flamengo.

"A conquista da Copa do Brasil foi merecedora. O Cruzeiro jogou de forma consistente toda a Copa do Brasil e mereceu. O Fábio é um dos melhores goleiros que eu já trabalhei e vi jogar. Um cara que trabalha duro e se dedica ao máximo nos treinos. Mostrou toda a sua grandeza no Cruzeiro.Ele tem uma reação de velocidade, de baixo das traves, que poucos tem. Ele está entre os três melhores goleiros do Brasil atualmente. Não entendo o motivo de nunca ter tido sequência na Seleção Brasileira", continuou.

Sobre o momento atual do futebol brasileiro (pós 7 a 1), Gatti afirma que a lição que ficou e que muitos tem corrido atrás é estudar e ter planejamento.

" O futebol brasileiro viu que tem que ter estrutura para ter resultados. Tem que estudar, planejar, ter estrutura, se atualizar e isso os europeus vem nos mostrando faz alguns anos. Por isso, hoje eles estão na nossa frente no futebol. Tem que ter gestão de pessoas. Conhecer melhor o ser humano e não somente o jogador de futebol. Entender os problemas pessoais que um jogador passa, pois isso interfere em seu rendimento no campo. Isso que precisa mudar no Brasil e um exemplo de quem se prepara é o técnico Tite", opinou.

"Falo isso também para os jogadores. Para os que estão começando a carreira.Vão atrás dos seus sonhos, mas estudem. Se preparem mentalmente, fisicamente, tecnicamente e taticamente. Para dar entrevistas também. Saber como dar uma entrevista. Tudo isso faz um atleta chegar mais longe na carreira", continuou.

Por fim, vivendo desde 2003 em Belo Horizonte, Gatti se diz mais mineiro que paulista.

"Hoje com certeza sou mais mineiro.Até sotaque de mineiro eu já tenho. Solto alguns 'uai'de vez em quando. Tenho um carinho muito grande por Minas Gerais. Sou mineiro de coração. Minha esposa é mineira e ela está grávida do nosso primeiro filho e que será mineiro também. Esse momento aliás é bem especial, pois me tornarei pai. Muito feliz com isso (virá um menino e se chamará Antônio)", finalizou.