terça-feira, 26 de julho de 2016

O dia que anunciei a aposentadoria de Fábio Aurélio

Bastidores:

Me recordo que quando entrei em contato com Fábio Aurélio foi para saber detalhes sobre seu possível futuro no futebol e também um pouco sobre o passado. Eis que o ex-lateral-esquerdo me disse que já estava aposentado. Indaguei-o  que em nenhum lugar havia publicações sobre sua retirada dos gramados. O futebolista revelado no São Paulo me fala: " Você é o primeiro repórter que me procurar e questiona sobre minha situação."

Logo fiquei feliz, pois ganhei um furo, um dos maiores (senão o maior) da minha curta carreira no jornalismo.

crédito da foto: divulgação

Enfim, não é todo dia que anuncia a aposentadoria de um jogador de futebol. Muito menos um com passagens por grandes clubes do Brasil, Europa e Seleção.

Confira a matéria:
Neste sábado, o FutNet traz mais um especial com ex-atletas que fizeram história no futebol. Esta edição é mais que especial, pois o até então lateral-esquerdo Fábio Aurélio falou pela primeira vez e com exclusividade a este portal, que se aposentou dos gramados.

"Aposentei. Voltei ao Brasil no início de 2013 para jogar pelo Grêmio por indicação de Vanderlei Luxemburgo.Me lesionei (ligamento cruzado) antes da minha estreia. Depois me recuperei e fiz alguns jogos pelo Gauchão. Teve o período de pausa na Copa das Confederações e estava adquirindo ritmo de jogo. Mas o Luxemburgo acabou demitido em um sábado, um dia antes de um jogo-treino nosso. Na segunda-feira o Renato Gaúcho foi apresentado e na terça eu cheguei ao clube e meu uniforme de treino não estava no vestiário. Fui questionar a direção e disseram que eu estava afastado por ordem do presidente do clube. Foi um período desagradável onde apenas ficava treinando físico e mais nada. Me senti desestimulado e em dezembro ao término do meu contrato decidi parar. Tive muitas lesões na carreira e para um jogador com esse histórico, até readquirir forma física e ritmo de jogo, leva bastante tempo. Então o melhor a fazer é parar",revelou à este site na última sexta-feira.

O agora ex-jogador de 34 anos afirmou que não pretende seguir com o futebol. No momento vive em São Carlos/SP, onde tem outros trabalhos.

“ No momento não penso em seguir no futebol. Não gosto de trabalhar com futebol internamente. Sabemos de muitas decisões que são tomadas mais por interesses próprios do que pensando em um todo. Isso não me agrada. No momento cuido dos meus projetos em São Carlos/SP, fora do ramo futebolístico e aproveito este tempo para ficar mais perto da família e dos amigos”, emendou.

Fábio Aurélio iniciou sua trajetória no São Paulo, onde atuou profissionalmente entre 1997 e 2000. Nesse período ganhou dois estaduais (1998 e 2000), um vice da Copa do Brasil (2000) e foi semifinalista do Brasileirão (1999).

No segundo semestre de 2000 foi para o Valencia, sendo bicampeão espanhol (2001/02 e 03/04), campeão da Liga Europa (03/04) e vice da Liga dos Campeões da Europa (2000/01). Em 2006, a pedido do técnico Rafa Benítez se transferiu para o Liverpool-ING, sendo primeiro brasileiro a jogar pelos Reds. Por lá ganhou a Supercopa da Inglaterra (2006) e a Copa da Liga Inglesa (2011/12).

O ex-ala afirma que gosta dos três clubes na mesma intensidade e diz que só viveu bons momentos.

“Gosto dos três na mesma proporção. Sempre fui são-paulino e começar a carreira no clube de coração é a realização de um grande sonho. Chega a ser inacreditável relembrar que quando menino seu sonho de atuar no time que torce está sendo realizado. Em 1997 eu me profissionalizei e fui bicampeão paulista. O título de 2000 foi especial pois foi onde atuei com mais freqüência. Na seqüência surgiu a proposta de atuar no Valencia quando este vivia um grande momento na Espanha. Foi outro sonho realizado: o de jogar na Europa. No início era o Hector Cúper o técnico.Fomos vice-campeões da Champions League. Minha estreia neste torneio foi na semifinal diante do Leeds United-ING onde ganhamos por 3 a 0. Era a segunda vez seguida que o Valencia estava na decisão e a esperança por títulos era grande. A disputa foi para os pênaltis e perdemos para o Bayern Munique. Infelizmente pênalti é loteria e não levamos a melhor. Na temporada seguinte entrou Rafa Benítez, até então desconhecido no cenário futebolístico. Fomos campeões da La Liga! Fazia 31 anos que o Valencia não era campeão espanhol. No jogo em que nos consagramos campeões foi uma vitória, fora de casa, diante do Málaga, por 2 a 0. Eu fiz o segundo gol e foi muito emocionante! “, relembrou.

“Em 2006 surgiu o interesse do Liverpool. Eu estava retornando de uma lesão que me deixou fora de praticamente um ano e meio. Fui por indicação do Rafa Benítez. Na Inglaterra é mais difícil de adaptar, pois é um futebol diferente do que se pratica no Brasil e na Espanha. É mais intenso o jogo. A cultura dos ingleses é muito diferente de Brasil e Espanha. Para se adaptar demora mais tempo. A minha sorte é que o elenco do Liverpool havia muitas pessoas que falavam espanhol. O técnico, o preparador físico, tinha jogadores da Espanha e vários sul-americanos. Internamente falávamos muito em espanhol. Inglês eu tinha que usar mais fora dos treinos e campo. Então por conta de terem pessoas falando o mesmo idioma que o meu eu tive um adaptação mais fácil do que o comum. Uma temporada boa que fizemos foi em 2007/2008 onde fomos vice-campeões da Premier League. Quatro pontos a menos que o líder Manchester”, emendou.

Fábio Aurélio ainda enalteceu a torcida do Liverpool, o qual segundo ele é muito diferenciada e sempre apoia o time. Ainda falou sobre a música ‘You will never walk alone’ cantada no estádio Anfield e pelos adeptos dos Reds.

“A torcida do Liverpool é muito diferenciada das demais. Eles apoiam o tempo todo a equipe. É incrível ! Na vitória ou na derrota eles estão incentivando os jogadores. Me recordo de uma derrota para o Manchester United por 3 a 0, o maior rival deles e ao término da partida, o estádio nos aplaudindo e gritando o nome dos atletas. Isso é o diferencial deles! A música You will never walk alone eu escutei a primeira vez quando atuava pelo Valencia e se sente a ‘intimidação’ ao escutá-la. Já atuando a favor a energia é muito positiva”, explicou.

Sobre o grande treinador ao longo da sua carreira, o são-carlense elege Rafa Benítez onde trabalhou na Espanha e na Inglaterra. Já jogadores, foram Pablo Aimar, em seus tempos de Valencia e o meia Steven Gerrard, ídolo do Liverpool.

" O Rafae Benítez foi o técnico mais marcante. Vivemos grandes momentos tanto no Valencia como no Liverpool. Já os jogadores, Pablo Aimar era 'o cara' no Valencia um líder e exemplo para todos no time e Steven Gerrard no Liverpool. Ambos são atletas exemplares, que são os primeiros a chegar nos treinos e os últimos a saírem. Líderes em seus respectivos times. O Gerrard é um jogador diferenciado e regular. Acho curioso ele nunca ter estado entre os melhores do mundo. Afinal ele merecia! Outros jogadores que destaco são Fernando Torres (jogaram juntos nos Reds e atualmente defende o Chelsea) e Luiz Suárez. O uruguaio joguei pouco tempo, mas deu para ver o quão bom é e o quanto se dedica aos treinos",revelou.

A grande decepção de sua carreira foi não ter conseguido atuar na Seleção Brasileira Principal. Nas duas vezes que foi convocado se lesionou e não pode vestir a 'Amarelinha'.

"Sempre atuei pelas categorias de base da Seleção Brasileira, inclusive a Olimpíada de 2000. Na Principal eu não consegui jogar. Nas duas vezes que fui convocado me lesionei e tive que me ausentar. Em 2004, o técnico Carlos Alberto Parreira me convocou. Vivia um bom momento no Valencia, mas um dia após um jogo contra o Real Madrid, onde vencemos e anotei um gol, eu sentia muitas dores no joelho e tive que operar. Foi quando fiquei praticamente um ano e meio sem atuar. Depois já no período de Dunga eu fui chamado para um amistoso contra a Inglaterra. No entanto, tive uma lesão na panturrilha e necessitei ficar de molho por duas semanas. Essa ausência me 'doeu mais'. Pois era um pequeno período que precisava de repouso e perdi a chance de me firmar na Seleção e quem sabe poder jogar uma Copa do Mundo. Não era um problema grave. Só veio na hora errada," lamentou.

Apesar dessa frustração, Fábio Aurélio afirma que sua carreira teve mais conquistas do que decepções.

"Sempre lamento o fato das lesões terem prejudicado minha carreira na Seleção Brasileira. No entanto, ao parar para pensar no que conquistei vejo que tenho mais vitórias do que derrotas. Vejo o quanto lutei para realizar os meus sonhos e percebo que muitos futebolistas não tiveram a mesma sorte que eu, noto que minha carreira foi muito boa. Não tenho do que reclamar no São Paulo, nem no Valencia e no Liverpool. Foram ótimas passagens. A minha despedida não foi como eu imaginava, mas paciência," finalizou.


Atualização: Fábio Aurélio trabalha com ramo imobiliário em sua cidade natal.

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