Trago mais uma postagem com brasileiros que se aventuraram pelo mundo através do futebol. Talvez eu nunca tenha visto alguém atuar em tantos países "alternativos" como o técnico Neider dos Santos!!!
Ilhas Cayman, Tanzânia,Etiópia, Jamaica, Omã.......e por ai vai......
Nesta entrevista feita em agosto de 2014, o carioca de 51 anos contou sua aventuras e andanças pelo mundo e até sobre a possibilidade de comandar um clube brasileiro e criticou a 'dança dos técnicos' que ocorre por aqui.
No momento, Neider dá aula no Curso de Formação de Treinadores da FERJ e está a procura de uma nova equipe para trabalhar.
Neider em sua passagem pelo futebol da Jamaica Crédito da foto: divulgação |
Confira a matéria:
Nesta sexta-feira, o FutNet traz mais uma reportagem com brasileiros que se aventuram mundo afora para vencerem no futebol.
Esta matéria repercute a carreira do técnico Neider Colmerauer dos Santos, que já trabalhou na Ásia (Catar e Omã), Caribe (seleções das Ilhas Cayman e Bahamas e times da Jamaica), Seleção de Guiana e atualmente está no Saint George FC, da Etiópia.
O carioca de 49 anos é formado em educação física pela UFRJ . Atuou como centroavante e foi artilheiro dos torneios universitários de 1987,88,89 e 90. Ainda defendeu a Seleção Carioca em campeonatos universitários. Apesar disso, nunca pensou em ser jogador profissional.
“Venho de uma família de classe média e que não via o esporte necessariamente como uma profissão. Na verdade nunca pensei em ser jogador profissional. Em 1989 quando estava com a Seleção Universitária do Rio de Janeiro fizemos alguns amistosos com Olaria, Bonsucesso e Bangu. Nesse período me chamaram para fazer um teste no Volta Redonda, mas eu preferi terminar a faculdade. E outra, mesmo depois de formado,se quisesse atuar no Volta Redonda o salário não seria bom. Então não compensava.”
Seu primeiro emprego após formado foi como observador técnico nas categorias de base do Vasco da Gama. A função era analisar os adversários do Gigante da Colina em competições juniores e passar informações aos treinadores.
Dois anos depois trabalhou como auxiliar-técnico dos juniores do Mesquista e em 1994 trabalhou nesta mesma função do time profissional do Barra da Tijuca.
Em 1995 teve sua primeira experiência fora do Brasil. Foi ser assistente técnico de João Camargo, no Al Ahli Sports Club, do Catar. Na temporada 1997/98 teve a primeira oportunidade como comandante. Foi no Al Nassr, do Omã, onde foi campeão nacional com três rodadas de antecedência.
“ Minha experiência no Catar foi boa, apesar de difícil. O Al Ahli lutava para não ser rebaixado e ao término da competição acabou se salvando. Financeiramente não se pagava tão bem quanto atualmente, mas eu recebia em dólares e isso era um bom negócio. No Omã encontrei um futebol mais profissional e muito mais avançado. Os estádios sempre estavam cheios, diferente do Catar”, afirmou Neider, que disse que se comunicava em inglês com os atletas e também havia um intérprete para os que não dominavam o idioma. Ainda hoje é assim onde trabalha.
O comandante sul-americano ainda falou a vantagem que os asiáticos viam nos treinadores brasileiros com relação aos europeus.
“O brasileiro tende a se adaptar mais fácil aos outros países. Os europeus , em geral, são mais rígidos em seus conceitos, tanto de vida como de futebol”, opinou.
Em 2000, Neider deixou a Ásia e foi se aventurar nas Ilhas Cayman, onde a federação local fez um projeto para se classificar à Copa do Mundo de 2002 e que acabou barrado pela Fifa. Na equipe caribenha, o fluminense era treinador do time sub-20 e auxiliar da equipe principal (o comandante era Márcio Máximo que o convidou para ser seu assistente).
“ O presidente da federação das Ilhas Cayman era Jeff Webb atual mandatário da CONCACAF e vice-presidente da Fifa. Ele nos apresentou um plano para tentar ir à Copa do Mundo de 2002. Como as Ilhas Cayman são um protetorado britânico todos os nascidos no Reino Unido podem adquirir cidadania desta ilha e vice-versa. Logo havia uma brecha na lei da Fifa que fazia com que os atletas nascidos no Reino Unido pudessem defender as Ilhas Cayman. 8 atletas, que atuavam em sua maioria, nas segundas divisões de Escócia e Inglaterra aceitaram o desafio. Montamos um plantel e houve 20 dias de preparação para a estreia contra Cuba. Mas na véspera do início das Eliminatórias a Fifa descobriu o plano e vetou a participação dos tais futebolistas. Infelizmente tivemos que embarcar para Cuba apenas com os jogadores naturais das Ilhas Cayman. Foi duro, perdemos a partida e não classificamos. Se os britânicos tivessem participado teríamos grandes chances de classificação. Hoje concordo com o que a Fifa fez pois não iria ser uma força real da seleção local”, contou.
Os brasileiros seguiram no comando desta nação caribenha até o final do contrato e trabalhando apenas com os atletas locais, o que era muito difícil encontrar qualidade, pois o país tem em torno de 50 mil habitantes.
Até que em 2002 Neider recebeu o convite para ser diretor-técnico da Seleção da Guiana e foi treinador dos times sub-17, 20 e principal. Ele se orgulha do trabalhou que realizou neste país que faz fronteira com Roraima e Pará.
“ O futebol da Guiana não é conhecido mundialmente, mas eles tem um potencial muito bom. Cheguei com a função de fazer uma renovação no futebol local. Começamos pela equipe olímpica .Colocamos os jogadores concentrados durante a disputa do Pre- Olímpico.Oito meses direto! Há uma fase preliminar da CONCACAF onde atuam as seleções do Caribe e ganhamos todos o jogos e pela primeira vez na história fomos para a fase final da CONCACAF. Vencemos Barbados, Santa Lúcia e Trinidad e Tobago, sendo este último uma potência futebolística na região. Depois enfrentamos a Costa Rica, onde acabamos eliminados” relembrou.
Dos Santos ainda disse que todo esse trabalho lhe trouxe muita experiência com o futebol, mas afirma que o ideal é ter um técnico trabalhando para cada categoria.
“ O correto é ter um treinador para cada categoria. Mas na época, eu tinha fome de dirigir, de praticar, então dirigi todas essas categorias.Devo dizer que foi muito bom para mim. Mas é muito trabalho. É desgastante. Ao todo dirigi o time principal nas eliminatórias da Copa de Alemanha de 2006, o Pré Olímpico, duas eliminatórias sub-17 e uma eliminatória sub-20”, recordou.
Em 2006, o treinador tupiniquim foi trabalhar pela primeira vez na África, no Simba F.C., o segundo clube mais popular da Tanzânia. Por lá foi vice-campeão nacional e vice do Tursker Internacional Cup (um torneio que reúne equipes da Tanzânia, Quênia, Sudão, Zâmbia e Uganda). Ele falou sobre o futebol local e como é viver em terras tanzanianas.
“A Tanzânia tem dois times de massa. Simba que tem em torno de 40% da torcida local e Young Africans 60% aproximadamente. Agora tem o Azam que surgiu como uma terceira força, por estar nas mãos de uma família rica. A briga pelo título em geral fica com esses três. É um campeonato muito competitivo e difícil com viagens longas. O jogador africano é muito talentoso, mas é indisciplinado taticamente. Esse é o grande problema deles."
“A Tanzânia é um país muito pobre, mas muito bom de se viver. Não é um lugar violento. Há bons restaurantes. Ainda há a Ilha de Zanzibar que é um local muito agradável. Além disso, eu era técnico de um time popular e por conta disso eu recebi muito carinho da população local. Minha experiência lá foi muito boa", explicou.
Em 2007 retornou ao Caribe onde assumiu a Seleção de Bahamas e fez história por lá.
“ Disputamos o pré-Olímpico e na primeira fase vencemos as Ilhas Virgens Britânicas e as Ilhas Virgens Americanas. Na segunda fase, perdemos para o Haiti, mas ganhamos da Jamaica. Foi a primeira vez que uma Seleção de Bahamas ganha da Jamaica, em qualquer categoria de futebol. Essa vitória é histórica para Bahamas. Aquele time jamaicano era praticamente o mesmo que foi vice-campeão Pan-Americano no Rio de Janeiro de 2007.”
2008, Colmenrauer voltou para Tanzânia e para o Azam, equipe citada acima no texto. No entanto, a passagem não foi . Dois anos depois foi para Village United, da Jamaica, onde foi herói no início e depois ‘vilão’ desta mesma equipe.
“O Azam ainda estava iniciando sua caminhada ao topo do futebol da Tanzânia. Quando cheguei lá a equipe recém havia subido à elite. Porém, o dono do clube era irmão de um agente de futebol e que tinha jogadores no Azam. Logo este tentava interferir no meu trabalho, pedindo escalação de jogadores e até acobertando indisciplina dos mesmos. Não aceito interferência no meu trabalho. Sai em 2009. No ano seguinte assumi o Village United , da Jamaica. Naquela nação eu fiz meu nome por conta da vitória de Bahamas por 1 a 0. Cheguei no meio da temporada e o clube lutava contra o rebaixamento. Consegui livrá-lo do descenso. Na temporada seguinte assumi o Montego Bay United e fomos campeões do segundo turno do Jamaicano. Inclusive de forma invicta. Por curiosidade na última rodada enfrentamos o Village United e vencemos por 1 a 0 e o rebaixamos à Série B”, afirmou.
No dia 24 de agosto de 2014, Neider Santos Colmenrauer assumiu o Saint George F.C., uma potência do futebol etíope e que jogará a Copa Africana.
“O Saint George me convidou para vir aqui conhecer o clube e conversar sobre uma possível contratação em outubro passado, mas acabou não acontecendo. Agora acertamos. É um clube tradicional e com muita torcida. Estamos em pré-temporada em Adama, cidade a 10km da capital Adis Abeba, local onde fica o clube. Estão construindo um estádio moderno e que vai caber 22 mil pessoas. A intenção deles é serem uma potência continental”, avisou.
Sobre as metas para a temporada 2014/15, Neider diz que só o título interessa do campeonato nacional (começa em outubro) e na Copa dos Campeões da África (de 2015, onde o clube etíope já está classificado por ser o atual campeão nacional ) a meta é fazer uma grande campanha. O título é pouco provável.
“Temos 15 atletas do nosso plantel que fazem parte da Seleção da Etiópia. Por conta disso, só o título nacional nos interessa. Na Copa dos Campeões da África temos que ir bem. O título é muito difícil pois ainda estamos abaixo de equipes do norte da África, como Egito, Marrocos, Tunísia e Argélia”, explicou.
Dos Santos ainda afirmou que gostaria de dirigir uma equipe do futebol brasileiro, mas não coloca como um objetivo principal. Um dos motivos é por conta dos técnicos serem demitidos do comando com pouco tempo de trabalho. Citou ainda o exemplo de Ricardo Gareca no Palmeiras. Além disso, segundo o próprio, há um círculo com os mesmos treinadores, onde é difícil dar oportunidade a novos nomes.
“Gostaria de trabalhar em um clube grande do Brasil. Mas sei que é difícil. Não tenho essa obsessão. Pois eu sei que é muito difícil darem oportunidade a novos técnicos. É um círculo onde sempre os mesmos assumem as mesmas equipes”, opinou.
“ Sobre troca constantes de técnicos, já vi isso em outros países. Mas igual ao Brasil não existe. É um absurdo o que ocorre aqui. Recentemente tivemos Ricardo Gareca demitido no Palmeiras. Ele é um mal treinador? Não! O que faltou a ele foi dar tempo de adaptação. Nessas horas é mais fácil colocar um técnico brasileiro e já adaptado ao nosso futebol. É sempre assim. Outra coisa que eu penso é o seguinte: se um clube tem quatro técnicos em um ano quem contratou é muito incompetente. Se um diretor contrata quatro engenheiros diferentes para uma mesma obra, sempre demitindo o anterior, o dono da empresa com certeza vai mandar embora o diretor. Tenho certeza. No futebol brasileiro isso não acontece,” emendou.
Por fim, ao ser questionado sobre qual país gostou mais de viver e trabalhar, Neider afirma que é difícil escolher um só, mas relembra das Ilhas Cayman e Tanzânia.
“ É difícil escolher um só. Todos tiveram seus prós e contras. Por exemplo,as Ilhas Cayman são bem agradáveis de viver, mas o futebol lá é muito fraco. Gostei bastante da Tanzânia e acredito que na Etiópia vou ter uma boa experiência”, finalizou.
Em tempo: Pelo Saint George, Neider dos Santos foi campeão etíope.
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