domingo, 16 de outubro de 2016

Exclusivo! Meia Mavi Lopes fala sobre Tailândia, Laos e muito mais!

Bastidores:  Bangladesh, Ilhas Virgens Britânicas, Etiópia, Malta, Myanmar,El Salvador e agora Tailândia e Laos (essa eu nem imaginava), dentre outros países que já apareceram na minha carreira e neste blog. Essa é uma das funções mais gostosas do jornalismo esportivo: mostrar brasileiros desconhecidos que foram tentar a vida fora da nossa pátria, especialmente em países desconhecidos. Lugares que nem imaginamos como é o futebol.

Mavi campeão na Tailândia

Outro fator positivo, em sua maioria, é que em muitas ocasiões, os entrevistados querem, gostam e contam sobre suas carreiras. As histórias fluem e muitas delas são ricas. Ricas em detalhes.

Não foi diferente com o meia Mavi Lopes que desde 2010 atua na Ásia. O atleta disse que já deu algumas entrevistas esporádicas para algumas rádios no Brasil, mas contando em detalhe e na Internet o Arquivos e Histórias F.C. foi o primeiro! O que deixa o blog muito orgulhoso.

Confira:
Perto de completar 34 anos, Mavi Lopes, em Vientiane (capital de Laos), relembrou seus 12 anos quando iniciou sua carreira no Santa Cruz/PE. Atuou durante cinco anos nas categorias de base da Cobra Coral, onde sempre foi atacante e ganhou um Estadual.

Aos 17 anos se transferiu para o rival Náutico, onde foi deslocado para a meia esquerda. Segundo seu treinador daquele período, Edson Leivinha  (conhecido do futebol nordestino), o atleta gostava mais de dar o passe para o gol do que finalizar.

"O Leivinha dizia que eu não gostava de fazer o gol e sim de dar o passe para alguém empurrar a bola para o fundo da meta. Ele foi o responsável por me deslocar para a meia. Gosto também dessa função pois era a mesma do Djalminha, meu grande ídolo no futebol. Espero um dia poder conhecê-lo", afirmou o futebolista natural de Barreiros/PE (102 Km da capital Recife).


O atleta nascido no dia 27 de outubro de 1982 ficou pouco tempo no Timbu. Sua grande lembrança foi ter atuado na base com o atacante Jorge Henrique, com passagens por Corinthians, Inter e atualmente Vasco.

"Jorge Henrique sempre foi um jogador dedicado. Além da velocidade que lhe era peculiar, ele era muito bom como pivô.Depois, ele foi para o profissional do Náutico e estourou no futebol. Não tenho mais contato, nem sei se ele lembra de mim (risos)", recordou o meio-campista.

Desiludido com os clubes nordestinos, Mavison Pierre Lopes foi tentar a sorte no estado de São Paulo. Fixou residência em Campinas/SP , onde tinha parentes e após seis meses atuando no futebol amador apareceu a chance de defender o Araçatuba. Foi no Canário do Noroeste que o futebolista teve a sua primeira oportunidade como profissional.

"O futebol do Nordeste é muito complicado. Ainda temos dirigentes muito amadores e estruturas precárias de treinamento. Os clubes nordestinos precisam avançar muito em relação ao que vemos no sul e sudeste do Brasil. Sem contar, o que há no exterior, que ai sim ficam muito para trás. Sei que agora o Sport está melhorando seu staff. É um início, mas ainda precisa fazer muita coisa", opinou o jogador que afirmou também não ter encontrado boas condições no A.E.A.

"Fui para Campinas tentar vingar no futebol. O Araçatuba foi a oportunidade que apareceu e joguei a Série A-3. No entanto, a situação lá era difícil. As vezes não tinha ônibus para nos levar aos treinos. Faltava água. Fora o atraso de salário que é uma coisa cultural no futebol brasileiro. Quando se vai para o exterior e conquista o que conquistou, ai sim se dá valor. Principalmente no quesito financeiro", opinou o atleta que no Brasil tem residência em Campinas/SP.


Após dois meses no clube paulista, o barreirense foi para Rondonópolis/MT, onde atuou primeiramente no União e depois no REC-Rondonópolis. Neste último clube citado, Mavi era o camisa 10 da equipe e afirmou que nas categorias de base havia um jovem atleta chamado Valdívia e que sempre estava com os profissionais querendo treinar faltas.

"O Valdívia era um menino que ficava sempre com os jogadores profissionais e pedia a todo momento para mim: 'Mavi deixa eu treinar faltas. Me deixa treinar junto.' Era muito engraçado. O curioso é que eu fui o primeiro 'camisa '10' do Rondonópolis e o segundo foi o Valdívia (a equipe foi fundada em 2006 e se licenciou em 2016). Fico feliz que ele tenha dado certo e conseguido seu espaço no Inter/RS. É uma surpresa agradável. É um sujeito do bem e merece tudo de bom", recordou Lopes, que jogou com Andrezinho, irmão de Valdívia,no time principal da equipe do Centro-Oeste.

Em 2009, através de um empresário, Mavi voltou ao seu estado natal e defendeu o Ferroviário na Série A-2. O comandante era o ex-atacante Cláudio Adão. Segundo o meio-campista, este foi possivelmente o melhor técnico de sua carreira e só não vingou como treinador por ser negro.

"Cláudio Adão possivelmente foi o melhor treinador que já tive. Tem o mesmo perfil de Tite.Sabe tudo de futebol. Só não deu certo como treinador porque é negro. Não tenho dúvidas disso. O respeito não é o mesmo por um técnico negro. Isso é em qualquer clube. Só vemos hoje comandantes brancos. Uma pena",opinou, para depois recordar uma história engraçada que houve durante a disputa do estadual.


"Era semifinal. Estávamos na preleção do jogo e o Cláudio Adão, no quadro, estava explicando como seria montado a equipe em campo. No entanto, no quadro havia 12 jogadores. Todo mundo achou estranho, mas até então ninguém se pronunciou. Até que um lateral-direito quis dar uma de esperto e foi corrigir o técnico. Adão fez a recontagem e disse: 'verdade garoto, tem 12 mesmo.Agora sabe quem vai sair do time? Você!!'. O 'gelo' da reunião foi quebrado e todos começaram a rir. Não foi só uma piada, o atleta realmente não foi a campo. É verdade que ele não era um titular absoluto,mas ficou no banco de reservas. Teve gente o questionando se isso foi combinado entre ele e o treinador, mas o jogador sempre negou. Falou que não era nada armado e estava bem chateado naquele dia", recordou.

O clube do Cabo Santo Agostinho ficou com o vice-campeonato e pela primeira vez, desde a sua fundação em 1961, iria disputar a elite pernambucana. No entanto,por problemas jurídicos a equipe permaneceu na segunda divisão.



Encerrado o estadual, Mavi partiu para o outro lado do nosso País e foi se aventurar no Ivinhema na disputa do Campeonato Sul-Matogrossense. O clube fundado em 2006, havia faturado a elite em 2008 e Mavi chegou para ajudar na luta pelo bicampeonato. Ficou com o vice.


" Sobre jogar o Campeonato Sul-Matogrossensse, o estilo lembra muito o futebol gaúcho. Com muita garra e pegada. Lá trabalhei com o técnico Geime Rotta que fez história no Santo André (campeão da Taça São Paulo de Juniores e da Copa Paulista, ambas em 2003). Tem muito conhecimento e o estilo dele me lembra o do Vanderlei Luxemburgo. Um cara de personalidade forte e que sempre está ao lado dos jogadores. Sempre luta para que o atleta dê o seu melhor", contou.

Após esta boa campanha, Lopes recebeu, no início de 2010, uma proposta para atuar na Tailândia. Um empresário brasileiro fez o convite e o jogador prontamente aceitou.


Jogando pelo Khampaengphet FC


Inicialmente, o sul-americano foi contratado pelo Chonburi, uma das principais equipes daquele país e dois meses depois foi atuar no Pratchimburi. O boleiro falou a diferença de cultura dentro e fora de campo que teve no país asiático.

"Me chamou a atenção os treinos. Muito amadores e pesados. Todos os dias treinávamos dois períodos. Acordávamos às 6h da manhã e tinhamos que ficar puxando pneu com uma corda, como se estivesse em um exército. As vezes os treinos físicos duravam três horas. Era horrível. Chegava aos jogos exaustos, pois não tinha força. Eu questionava o porque dessas atividades e diziam que era uma cultura do País. Se percebe que falta conhecimento no quesito treino físico. Outra situação que me chamou a atenção foi o fato da população ser extremamente religiosa. Antes dos jogos, tínhamos que passar por muitos rituais, como ajoelhar em estátuas de Budas e tocá-las. Durante o trajeto até o estádio paravam em uns três templos budistas, desciam e rezavam. Também matavam galinha e enfeitado com frutas colocavam no meio de campo, antes das partidas. Não eramos obrigados a fazer tudo isso, mas eramos forçados. Eu nunca fiz. Notava o quanto meus companheiros ficavam chateados comigo e se sentiam ofendido. Nunca fiz e não ligava para isso", afirmou o pernambucano, para depois falar sobre um aspecto curioso das torcidas tailandesas.

"Os estádios sempre estavam lotados. A torcida sempre apoia o time. Uma situação que me chamou a atenção era que os torcedores nunca criticavam o treinador. Sempre o respeitavam. Se o time perdesse, poupavam o treinador. Se jogasse mal, o treinador não era questionado. Se havia briga entre técnico e jogador, a torcida nunca questionava a decisão do comandante. Eu nunca entendi esse respeito. Bem diferente do que ocorre no Brasil em que o treinador é sempre o culpado. Aqui, além do já citado, eles dificilmente são demitidos", contou.

Mavi esteve na Tailândia até 2015, onde atuou também por Phayao FC, Thai Honda e Khampaenphet. Foi campeão apenas pelo Phayao e de um torneio que reunia clubes do norte da Tailândia.

" A Tailândia tem um problema que os clubes grandes são muito poderosos. Extremamente influentes no futebol local. Dificilmente o título fica com uma equipe média ou pequena. Para amenizar a situação dos pequenos a federação local cria torneio menores para que eles se enfrentem e de vez em quando vençam algum torneio", revelou o atleta que disse que no início se comunicava em inglês no país asiático.

Após cinco anos, adaptado ao país, dominado melhor o idioma local e casado com uma tailandesa, Mavi foi se aventurar em Laos, vizinho a nação onde estava habitando. Foi atuar no Nuol FC.

Brasileiro em sua passagem por Laos


"Laos é um país um pouco atrasado em relação a Tailândia, inclusive no futebol. Mas percebe que estão procurando se estruturar.  Quando atuava na Tailândia recebi por três vezes propostas de equipes laocianas e na última que apareceu resolvi aceitar. O Nuol estava na sétima colocação e tinha vários problemas estruturais. Tivemos uma melhora e terminamos na quinta colocação (14 equipes ) com um ponto a menos que o quarto posicionado. O que achei positivo de atuar em Laos é que os treinos não são intensos como na Tailândia  e a religião não é forte como lá também. O lado negativo é que os estádios não são cheios", afirmou, para depois explicar se compensa financeiramente para um brasileiro atuar nestes mercados.

" Um jogador brasileiro com o meu perfil (desconhecido e atuando em times pequenos) compensa sim. Se ganha um bom dinheiro perto do que ganhava no Brasil. Os atrasos de salário são raros. Teve atraso já, mas foi questão de uma semana. Nada comparado ao Brasil", contou.

Ambos países são muito fracos em relação aos outros do próprio continente. Mavi afirma que uma ida de qualquer um deles a uma Copa do Mundo é irreal a curto prazo.

" Tanto Tailândia como Laos não tem condições  de conseguir uma vaga em Copa do Mundo a curto prazo. Para poderem sonhar tem que trazer técnicos estrangeiros, o que eles não fazem.Enquanto os clubes ficarem apenas com os técnicos locais, as duas seleções não tem como evoluir", opinou.

Por fim, o brasileiro afirma que pretende atuar até os 36, no máximo 38 anos e depois investir na carreira de treinador.

" Vou ser treinador assim que me aposentar. Eu gosto de treinar a parte física e isto me dá condições de ir jogando até os 36 anos, quem sabe 38", finalizou o atleta que terá seu vínculo com o Nuol FC encerrado no final de outubro.





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