Sotilli é assim no Rio Grande do Sul.Todo gaúcho que acompanha futebol sabe de sua existência e conhece seu estilo boleirão, sua humildade e até as histórias de suas supostas noitadas.Em Pelotas/RS todos sabem de sua existência e pelo E.C. Pelotas é tido como um dos maiores jogadores do time.
Quando conversei com o próprio em novembro de 2014, este estava vivendo em Passo Fundo/RS.
O ex-atleta na ocasião se mostrou preocupado com o futuro dos clubes menores do Rio Grande do Sul, falou de seu trabalho com o Tite, passagem pelo Inter, torcida para o Grêmio na infância e também sua parceria no México com o atacante paraguaio Salvador Cabañas. Por fim, falou sobre quando tentou seguir carreira religiosa e quando saiu candidato a deputado estadual pelo PSB!
Crédito: Dilvugação/Pelotas |
Confira:
Nesta sexta-feira, o FutNet traz mais um especial com ex-atletas que fizeram história no futebol.
O momento agora é do centroavante Sandro Sotilli relembrar sua trajetória como cigano no esporte mais popular do mundo.
A história do maior artilheiro do futebol gaúcho do século XXI iniciou em Rondinha, sua cidade natal, no norte do Rio Grande do Sul.
Sua família, de origem italiana, vivia no campo e trabalhava com agricultura. Para ir à escolinha praticar futebol, Sandro Carlos Sotilli caminhava todo dia em torno de 7 km. Quando completou 15 anos seus pais queriam que o aspirante a boleiro estudasse em um colégio marista para tentar a carreira religiosa. Com isso, Sotigol se mudou para Viamão, onde tinha um tio que morava lá. Quando completou o ensino médio decidiu que queria ser jogador de futebol e apareceu uma chance no Ypiranga/RS.
“Acabei os estudos e decidi que queria ser jogador de futebol. Conversei com meus pais e eles aceitaram. A dificuldade era grande, pois não tinha contatos para fazer testes. Até que um dia apareceu uma oportunidade no Ypiranga de Erechim/RS, fiz e passei, dando início ao meu sonho de menino”, contou o ex-futebolista de 41 anos.
Em seus primeiros anos de juniores, Sotilli atuava mais como ponta esquerda, mas devido a sua facilidade de finalizar com ambos os pés, o posicionaram como centroavante.Posição que se consagrou.
No início dos anos 90 ainda não vigorava a Lei Pelé e por conta disso o jogador era propriedade do clube. Para ganhar experiência, Sotilli atuou, por empréstimo, no Xanxerê, da Segunda Divisão de Santa Catarina e depois para o Taguá, extinta equipe de Getúlio Vargas/RS, que disputou a Série B do Gauchão. Em 1996, Sandro teve sua primeira chance no profissional e ela foi dada pelo até então desconhecido técnico Tite.
“Quem me subiu para o profissional foi o Tite. A diretoria queria outro centroavante, mas o Tite me bancou. Meu primeiro gol no time de cima foi contra o Inter em Erechim e ganhamos por 2 a 1. Isso alavancou minha carreira. No segundo semestre fui emprestado ao Veranópolis e depois voltei ao Ypiranga e no inicio de 1997 fui emprestado ao Inter”, relembrou.
Sobre Tite, o Rondinhense afirma que foi o melhor técnico que trabalhou e que é merecedor de tudo que conquistou.
“É sempre difícil destacar um só técnico dentre vários que trabalhei. Mas se tiver que dizer um, eu diria que o melhor foi o Tite. Trabalhei com ele também no Veranópolis e no Caxias. O Tite é uma pessoa muito boa, muito humana. Tratava todos os jogadores de forma igual. Além disso, ele tem muito conhecimento sobre tática, sabe motivar os atletas e unir o grupo. Se você me perguntasse naquela época se eu achava que ele chegaria tão longe na carreira eu não iria dizer que sim, pois o futebol é muito competitivo. Não dava para imaginar que o Tite seria campeão da Libertadores e Mundial, por exemplo. Mas ao mesmo tempo vendo que é um cara batalhador, esforçado, tudo que ganhou é merecedor”, contou.
Como mencionado acima, em 1997 o ex-futebolista nascido no dia 18 de agosto de 1973 foi para o Internacional. Sua única oportunidade em uma equipe considerada de ponta do Brasil. Sua estreia foi na primeira rodada do Brasileirão onde o Colorado venceu o Corinthians por 3 a 1. Após algumas rodadas, o atacante Fabiano retornava de lesão e Sotigol foi para o banco de reservas. Este acredita que a dupla Fabiano e Christian deu muito certo e por isso que acabou não se firmando na equipe porto-alegrense.
Sottili em sua curta passagem pelo Inter. Crédito: divulgação |
“Esse título foi o auge da minha carreira. Ganhar um Campeonato Gaúcho por uma equipe considerada pequena e de forma invicta é histórico. Eu e o Mabília fomos para o Juventude como moeda de troca para o Inter ter o Fernando. Fizemos história lá. Até hoje todos lembram desse título e sempre lembrarão. Nosso grupo era muito unido e humilde.Lembro que fiz dupla de ataque com Rodrigo Gral. A Parmalat à época bancava o Juventude, então tínhamos uma estrutura muito boa de treino. Na semifinal enfrentamos o Brasil de Pelotas e na decisão superamos o Internacional.”, relembrou.
Em 1999, se transferiu para o Rio Branco/SP, mas um problema no joelho esquerdo fez com que atuasse pouco e acabou ficando pouco tempo em Americana/SP. Na sequência se transferiu para o Ceará, onde foi tetracampeão estadual e até hoje diz guardar boas lembranças de Fortaleza/CE.
Após uma passagem pelo Caxias/RS, em que integrou o elenco que disputou a Série C do Brasileiro, Sandro Sotilli recebeu uma proposta do Beijing Guoan-CHI e foi se aventurar no outro lado do mundo.
“Eu fui à China. Naquela época meu empresário Jorge Machado fez contato com um empresário chinês e perguntou se eu gostaria de ir. Aceitei. Fiz um teste de avaliação física e passei. Fiquei o ano todo de 2000 lá. Foi bom. Claro que não tinha a abertura de mercado que tem hoje, mas gostei de conhecer outra cultura, outros costumes. Fui muito bem tratado lá. Fomos vice-campeões chineses. A estrutura de trabalho lá era muito boa. Naquele período o governo chinês já investia muito no esporte. Atualmente se nota muitos atletas, inclusive de pontas que vão atuar na China. Quem via a dedicação deles há 14 anos sabia que o futebol iria evoluir, com muitos jogadores indo para lá e ganhando altíssimos salários,” contou.
Em 2001, sem mais vínculo coma agremiação da capital chinesa, Sotilli queria voltar ao Brasil e se transferiu para o Paulista de Jundiaí, onde foi campeão da Série A-2 do Paulista e atuou com muitos jogadores que fariam sucesso no futebol .
“ O Paulista naquela época se chamava Etti e também era investido pela Parmalat o que permitiu fazer um bom time. Fomos campeões da Série A-2. Naquele elenco havia o goleiro Arthur (ex-Cruzeiro, Roma-ITA e atualmente no Benfica-POR), o zagueiro Índio (que fez história no Internacional/RS), além dos veteranos Vagner Mancini e Luis Carlos Goiano. Me recordo que nas categorias de base ainda tinha o goleiro Victor e o zagueiro Réver, ambos atualmente no Atlético/MG”, recordou.
O segundo semestre daquele ano, o centroavante interrompeu a carreira pois seu pai descobriu que tinha câncer e foi cuidá-lo, onde meses depois veio a falecer. Foi o único período da carreira em que ficou afastado do futebol.
Em 2002, recebeu uma proposta do 15 de Campo Bom/RS, onde foi bi-vice-campeão gaúcho . Em 02, Sotilli foi artilheiro do estadual com 21 gols e na temporada seguinte segundo maior goleador com 17 tentos.
“ O 15 de Campo Bom dentre os times pequenos que já atuei era um dos mais estruturados. Nunca atrasaram salários, diretoria sempre cumpria com a palavra e dava boas condições de treino e moradia para os atletas. Por isso que chegamos duas vezes à final (ambas perdidas para o Internacional).Tenho ótimas recordações do 15. Uma pena a equipe não ter durado muito tempo (Obs: O 15 ainda seria vice-campeão em 2005 do estadual e semifinalista da Copa do Brasil em 2004)”, contou, relembrando que nesse meio tempo ainda teve uma rápida passagem pelo Xian Chanba-CHI.
Em 2004, a fonte desta reportagem se transferiu para o Glória de Vacaria, fazendo história anotando 27 gols ,recebendo quatro prêmios individuais pelo desempenho no estadual e sendo semifinalista, eliminado nos pênaltis pelo Inter.
“ Minha passagem pelo Glória de Vacaria foi um dos meus grandes momentos como profissional. 27 gols em uma edição de Gauchão, só o Baltazar no Grêmio teve um desempenho melhor. Além disso, recebei o prêmio de melhor jogador daquele Gauchão, artilheiro e goleador. Também recebei da Revista Placar a chuteira de ouro do mês de maio. Foi uma passagem memorável”, relembrou.
O bom desempenho em terras rio-grandenses chamou a atenção do futebol mexicano onde ficou até 2007, atuando no Necaxa, León, Dorados e Jaguares. Neste último fez dupla de ataque com Salvador Cabañas, paraguaio que ficou famoso por ter sido carrasco do Flamengo na Libertadores de 2009, ser um atleta acima do peso e ter sofrido um tiro na cabeça em uma briga de bar no México.
“A adaptação no México foi mais fácil que na China. Os países (Brasil e México) são muito parecidos culturalmente e havia muitos brasileiros vivendo lá. Os mexicanos gostam muito de brasileiro, então fui muito bem tratado. Meu primeiro clube foi o Necaxa. Era uma equipe da Televisa (principal emissora de TV daquela nação) e que ficava na capital. Mas como era um time sem expressão, a Televisa o levou para a cidade de Aguas Calientes e lá a população o ‘abraçou’. Depois de um ano fui para o Jaguares, uma equipe do sul do México. A cidade era Tuxtla Gutiérrez. O local era muito quente, o que era bom para nossa equipe pois o adversário sofria com a temperatura e tinha dificuldade para jogar. Mais ou menos como acontece no Brasil quando um time do Sul vai para o Norte . No Jaguares fiz dupla com Cabañas. Até então ele era desconhecido no futebol. Uma boa pessoa e muito bom jogador. Uma pena o que aconteceu com ele.” , contou
“ No meio de 2006 me transferi para o Dorados, que estava na Série B e chegamos até a semifinal, mas não conquistamos o acesso. No início de 2007 atuei pelo León, também na Série B. Fomos vice-campeões e não conseguimos o acesso. O perdemos para o próprio Dorados”, relembrou.
Com saudades do Brasil e já pensando na aposentadoria, o sul-americano retorna ao seu estado de origem e assina contrato com o Caxias, faturando a Copa FGF de 2007.
Em 2008 disputou o Estadual pelo Veranópolis e na sequência se transferiu para o Pelotas, clube onde é idolatrado. Pelo Aureo-Cerúleo conseguiu o acesso à elite do RS em 2009, foi campeão da Copa FGF de 2008, além da Recopa Gaúcha de 2014. Com idas e vindas foram seis passagens pela equipe pelotense.
“ O Pelotas foi o clube que eu mais me identifiquei com o torcedor. Depois que conquistei o acesso, o carinho pelos adeptos aumentou. Aquilo ficou marcado. Passei a ser muito idolatrado. Adoro o clube e a cidade. Foi uma ‘química’ forte. Sai para outros clubes, mas sempre voltava. Cheguei a receber uma proposta do Brasil e a recusei por tamanha identificação com o Pelotas. Não tinha como eu aceitar”, contou.
O curioso foi quando questionado sobre o que achava de atuar em um Bra-Pel, Sotilli disse que não podia dimensionar, pois jogou apenas um e durante 15 minutos.
Acredita que isso se deve ao fato das duas equipes não terem jogado a mesma divisão nesse período com muita frequência.
A aposentadoria veio no primeiro semestre de 2014 pelo próprio Pelotas, que acabou rebaixado à Série B do Gaúcho, após ter sido campeão da Copa Sul-Fronteira e no início desta temporada, como já mencionado, faturado a Recopa Gaúcha.
Sotilli disse que o descenso se deveu a vários problemas, mas principalmente por conta dos salários atrasados.
“ O principal motivo foi salário atrasado. O Pelotas contou com uma grana da FGF que iria entrar e não entrou e depois se enrolou para pagar os atletas. Isso desestimula qualquer jogador. Diretores nos diziam numa sexta-feira que o pagamento ia sair na segunda e não saía nada. Isso refletiu em campo com a má campanha. A torcida já começou a pegar no pé e o jogador fica tenso e inseguro com toda situação”, revelou.
Aposentado, Sandro Sotilli vive atualmente em Passo Fundo/RS com a mulher e três filhas,e trabalha em uma escolinha de futebol. Uma das lendas do futebol do RS quer seguir envolvido com o futebol local, quer ser auxilia-técnico de algum time e futuramente dirigente. Ele se mostra preocupado com a situação do futebol no Rio Grande do Sul.
“ Estou muito preocupado com a situação do futebol gaúcho. Os jogadores ganham muito pouco e em muitos clubes estão atrasando salários. Algumas equipes estão inclusive falindo. É triste a realidade. Muitas vezes os atletas atuam apenas no Gauchão que dura três, quatro meses e depois ficam desempregado o resto do ano. Tem famílias e contas a pagar e não conseguem. Outros jogam copinhas regionais que não levam a lugar algum. Os clubes só baseiam suas receitas financeiras nas cotas que recebem da FGF, o que é muito pouco”, desabafou.
“O problema do futebol gaúcho é depender demais da dupla Gre-Nal. Os dois não estão nem aí para o Estadual. Tem campeonatos mais importantes para priorizar. Tem que haver mudanças no futebol gaúcho. Converso com conhecidos que estão atuando em Santa Catarina e dizem que a situação lá está melhor que aqui. Conheço gente que atua por 6, 7 anos no futebol e depois abandona pois não dá futuro”, emendou.
Falando ainda da dupla Gre-Nal, Sottigol confessou por qual deles torcia na infância e o que acha da situação atual de ambos.
“Quando era mais novo torcia para o Grêmio, mas depois atuei no Inter e passei a admirá-lo também. Depois que vira profissional se perde aquela paixão por um clube, pois tem contato com vários e acaba criando várias identificações. No momento, penso que o Inter tem um time mais qualificado, mas o Grêmio está mais ajeitado e desde a chegada do Felipão vem se firmando no G-4. O Tricolor vive um momento melhor que o Colorado”, disse o atleta que ainda falou sobre sua candidatura a deputado estadual pelo PSB.
“O PSB me procurou e disse que eu tinha um carisma muito forte e que poderia ajudar no esporte. Eu aceitei. Foi uma experiência boa, para poder conhecer melhor o mundo da política. Viajei para cidades pequenas do Rio Grande do Sul e conheci melhor a realidade de alguns municípios. Não sei se voltarei a me candidatar novamente a um cargo político. Confesso que não é minha prioridade, mas não está descartada”, emendou o candidato que recebeu 7.689 votos.
Sandro ainda falou sobre um perfil falso que usa seu nome no twitter e que tem mais de 79 mil seguidores.
“ Essa pessoa me perguntou se podia usar o meu nome no twitter e eu disse que não tinha problema. Ele é muito engraçado e criativo. Isso é bom pois me dá popularidade. Já aconteceu de vir pessoas falarem comigo pensando que aquela conta é minha mesmo,” afirmou.
Por fim, Sottigol disse que se sente realizado com a sua carreira e que não se arrepende de nada e tudo que conseguiu foi com sucesso e disciplina.
Obs: Sandro Sotilli ainda teve passagem por São José/RS (2009), Brasil de Farroupilha (2010), Chapecoense/SC (2010), São Paulo/RS (2011), Passo Fundo (2011 e 12), São Luiz (2012), Gaúcho (2013) e Marau (2013).
Colaborou: Wagner Leitzke e Marcelo Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário