Uma das entrevistas mais legais e memoráveis que
fiz. Primeiro, pela sinceridade e grande conteúdo das respostas de Gavilán.
Depois, o fato curioso: a entrevista aconteceu por Skype, pois o ex-volante
estava no Paraguai. Quando houve a conexão, o ex-colorado estava dirigindo um
carro!
A conversa durou mais de uma hora e nesse período o paraguaio ficou o tempo todo dirigindo. Algumas vezes a ligação caía, outra hora via apenas a parte interna da camionete, mas Diego,sempre simpático, dava um jeito de ajeitar tudo e responder questão por questão.
Ao término da entrevista, o ex-atleta com passagens também por Flamengo e Grêmio estacionou o seu veículo e nos despedimos. Acabei não perguntando de onde saiu e onde parou.
A conversa durou mais de uma hora e nesse período o paraguaio ficou o tempo todo dirigindo. Algumas vezes a ligação caía, outra hora via apenas a parte interna da camionete, mas Diego,sempre simpático, dava um jeito de ajeitar tudo e responder questão por questão.
Ao término da entrevista, o ex-atleta com passagens também por Flamengo e Grêmio estacionou o seu veículo e nos despedimos. Acabei não perguntando de onde saiu e onde parou.
Confira a matéria na íntegra:
Arquivo! Volante Gavilán relembra sua trajetória no futebol! Confira!
credito da foto: divulgação |
Nesta sexta-feira
(6/09/2013), o FutNet segue
seu especial entrevistando ex-atletas que fizeram sucesso no futebol.
Esta edição traz pela primeira vez um estrangeiro. Trata-se do volante paraguaio Gavilán, que no Brasil atuou por Internacional, Grêmio, Flamengo e Portuguesa.
O ex-jogador comentou sobre suas passagens por Inglaterra, México, Argentina e Peru. Também comentou sobre a emoção de jogar duas Copas do Mundo e lamentou o fato do Paraguai não poder disputar a Copa do Mundo de 2014.
Ele ainda falou que Porto Alegre/RS é sua segunda casa, que o Independiente-ARG ainda lhe deve dinheiro , que o maior clássico que disputou foi Newells Old Boys x Rosário Central e que um arrependimento em sua carreira foi ter defendido o Olímpia-PAR, rival do Cerro Porteño, clube que sempre torceu e o revelou para o futebol.
No momento, Diego Antônio Gavilán Zárate esta com 33 anos e é treinador do time sub-16 do Cerro Porteño-PAR e sonha em treinar uma equipe no Brasil.
Confira
1)Fale do início de sua carreira. Quando e onde começou a jogar futebol?
Comecei aos 5 anos na escolinha de futebol do Ministério de Hacienda (uma equipe do Governo do Paraguai). Fiquei até os 14 anos. Depois fui fazer teste no Cerro Porteño e aos 17 anos fiz a minha estreia no time profissional sob o comando de Jorge Fossati (com passagem pelo Internacional em 2010) em 1997. Joguei no clube até dezembro de 1999. Ganhamos 2 torneios clausura em 98 e 99.
2)Sempre atuou como volante?
Iniciei de volante, mas durante um período no Cerro Porteño cheguei a jogar de meia. No profissional comecei como volante e teve um período no Internacional em 2003, que o Muricy Ramalho me colocou de lateral-direito.
3)Depois do Cerro Porteño foi atuar no Newcastle. Como surgiu essa proposta e como foi esse período na Inglaterra?
Veio um olheiro da Inglaterra para o Paraguai, viu meu futebol e logo o Cerro Porteño fechou o negócio. Viajei com os meus pais para me adaptar mais facilmente na Inglaterra. Mesmo assim tive algumas dificuldades, como a questão do idioma, do frio e do futebol. No Newcastle tinha o peruano Solano e o técnico Bobby Robson que falavam espanhol e me ajudaram na comunicação dentro do clube.
O futebol lá é de muito contato e isso trouxe-me muita dificuldade para adaptação.
4)Tinha dificuldade em marcar os adversários, já que o jogo de contato físico lá é maior?
Difícil era pelas característica físicas. Eu fui com 19 anos e 69 kg. Precisava ganhar massa muscular.A meu favor tinha a velocidade e a técnica. Agora a marcação era muito forte e o jogo aéreo idem.
5)No início de 2002 foi emprestado ao Tecos-MEX. Por quê foi para lá e creio que a adaptação foi mais fácil ?
Pedi para ser emprestado, pois vinha jogando pouco e a Copa do Mundo estava próxima. Queria ter uma sequência de jogos para poder disputar o Mundial.
Apesar do idioma ser espanhol, tive algumas dificuldades, sim. Primeiro que o Tecos é um time pequeno de Guadalajara e não tem pressão e muita ambição. Isso acaba estranhando um pouco. Cheguei a ficar sem motivação para jogar em alguns casos. Depois havia jogos na altitude, onde eu não estava acostumado a jogar e que fazem diferença sim.
6)Em 2003 se transferiu para o Internacional. Já conhecia Porto Alegre/RS e o Internacional?
Já conhecia sim. Em 2001, eu defendi a Seleção do Paraguai em um jogo contra o Brasil válido pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. Na ocasião o Paraguai ficou treinando no Beira-Rio.
7)Como foi seu primeiro ano no futebol brasileiro?
Bem diferente do futebol inglês, onde eu estava jogando. Os campos são maiores, aqui se privilegia mais a qualidade técnica. É um outro tipo de jogo. Mas não tive dificuldades de adaptação.
Cheguei no Inter junto com Muricy Ramalho. Naquela ocasião o Inter estava promovendo vários jogadores da base como Rafael Sóbis, Nilmar, Daniel Carvalho, os irmãos Diego e Diogo e mesclando o elenco com jogadores mais experientes.
Lembro que em determinado momento houve carência na lateral-direita e me escalaram naquele setor. Eu fui bem e cheguei a concorrer ao Prêmio Bola de Prata como melhor lateral-direito do Brasileirão, junto com Maurinho (Cruzeiro) e Cicinho (Atlético/MG).
8)Chegou a ir para Udinese, mas ficou pouco tempo retornado ao Internacional. O que não deu certo na Itália?
Fui para a Udinese, mas acho que o treinador da época não me conhecia e nem me escalava. Fiquei uma partida só no banco de reservas. Vi que não ia ser aproveitado e quis voltar para o Inter. A diretoria colorada pagou a multa rescisória e me fez um contrato até o final de 2005.
9) Pelo Inter ganhou três estaduais e foi campeão moral Brasileiro de 2005. O que recorda daquele Brasileirão?
Campeão moral foi bom (risos). Mas acho que foi isso mesmo. Márcio Rezende de Freitas e Edílson de Pereira de Carvalho, dois 'amigos meus' (risos).
Foi uma grande frustração da minha carreira. Lutamos muito para conseguir aquele título e o extracampo impediu que isso ocorresse. Fiquei muito chateado com aquilo. Merecíamos ganhar aquela competição.
10)Quando seu contrato terminou em 2005 acabou se transferindo para o Newell Old Boys-ARG. Por quê resolveu sair do Inter?
No Internacional já tinha ganho três estaduais, feito um bom Campeonato Brasileiro, além de boas campanhas na Copa Sul-Americana. Precisava de um desafio novo. Me apareceu essa proposta para atuar no Newells e achei que seria uma boa. Era um time que também ia disputar a Libertadores e me fui.
11) O que achou de atuar no Newells e no futebol argentino?
Gostei demais! Atuar em um clube onde tem uma torcida apaixonada como a do Newells foi muito bom. É uma torcida apaixonante. A cidade de Rosário 'respira' futebol e jogar o clássico NOB x Rosário Central é uma experiência única. Incrível este duelo! Creio que seja mais forte que Boca Juniors x River Plate.
No Newells eu ainda joguei com meus conterrâneos Justo Villar (goleiro da Seleção do Paraguai) e com Oscar Cardozo (atualmente no Benfica) e também com Ariel Ortega e Ignácio Scocco (atualmente no Inter).
O argentino tem um jeito único de torcer. Eles sempre enchem o estádio. Eles amam a equipe deles. Não importa se ela está mal, se está bem, o torcedor sempre comparece ao estádio. É muito legal a energia que eles passam.
12)Em 2007 retornou ao Rio Grande do Sul, dessa vez para defender o Grêmio. Como foi atuar no Tricolor, com um bom passado pelo Colorado?
Acabou meu contrato no Newells Old Boys e eu estava querendo ir para a Europa. No entanto, a proposta boa que me apareceu foi a do Grêmio. E eu como precisava jogar, aceitei.
No início cheguei com desconfiança da torcida, o que era comum, pois fiz história no Internacional.
No entanto, me foquei no trabalho, evitei polêmica com a imprensa e aos poucos fui ganhando a confiança da torcida. No primeiro semestre ganhei o Campeonato Gaúcho e depois fomos bem na Libertadores.
13)Foram vice-campeões em um time que muita gente não coloca fé, não é?
Sim. Na verdade começaram a acreditar em nós depois que eliminamos o São Paulo nas oitavas de final. Nas quartas, quando passamos pelo Defensor-URU ai a empolgação de ir à semifinal tomou conta da torcida.
Chegamos até a final e enfrentamos um Boca Juniors bem mais forte que o Grêmio. No primeiro jogo perdemos de 3 a 0. O legal foi no dia seguinte que mesmo com essa derrota a torcida já estava na fila do Olímpico comprando ingressos para o jogo de volta. Aquele apoio foi bem legal. Pena que não deu para levar o título.
14)Como foi trabalhar com Mano Menezes, que naquela época ainda estava surgindo para o futebol??
Ele é bem diferente do Muricy, onde estava acostumado no Inter (risos). Ele é mais calmo e ponderado durante os jogos. Ele é um treinador mais estratégico e sempre se preocupa com a parte pessoal do atleta.
15)Em 2008 jogou por Flamengo e depois na Portuguesa. Como foi jogar no eixo Rio-SP?
Na verdade no Flamengo joguei muito pouco. Cheguei para fazer os exames médicos e disseram que meu joelho direito não estava bom. Mas eu não sentia nada. Daí fizeram um contrato de risco e fui pouco aproveitado pelo Joel Santana.
Depois me transferi para a Portuguesa para a disputa do Brasileirão. Foi legal atuar na Lusa. Um clube com tradição no futebol brasileiro e que estava voltando à elite nacional. É um time diferente do que eu estava acostumado a jogar no Brasil, pois é uma torcida pequena, onde não há muita pressão. Além do Canindé ser um estádio menor.
Lá me recordo que tinha o lateral-direito Patrício, onde havia atuado junto no Grêmio. No início o time foi bem no Brasileirão, mas depois tivemos uma queda de rendimento e não conseguimos evitar o rebaixamento. Uma pena!
16)Você viveu no Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O que achou de cada uma e qual das três você mais gosta?
As três são completamente diferentes uma da outra. A que eu mais gostei é sem dúvida Porto Alegre. Lá é a minha segunda casa. Meus dois filhos são gaúchos e gosto muito de lá.
Rio de Janeiro é uma cidade bonita, com praia e cheia de turistas. Mas confesso que morar em um lugar como esse , às vezes dá preguiça para ir trabalhar (risos).
Já São Paulo é aquela metrópole grande, com gente para todo lado e um trânsito de carros muito grande. Apesar disso, me adaptei com o tempo e gostei de morar lá.
17) Saiu da Portuguesa e voltou para o futebol argentino. Desta vez para o Independiente-ARG. Como foi atuar no Rey de Copas?
Cheguei bem no início da crise do Independiente. Quem acompanha a equipe desde 2009 não se surpreende com a situação deles hoje.
Más administrações, problemas financeiros, problemas com a torcida organizada. Uma torcida que brigava com a diretoria. Torcida que pedia dinheiro para jogador.
O atual presidente, Javier Canteros decretou guerra aos Barra Bravas e a situação só piorou.
O resultado de toda a bagunça veio no primeiro semestre de 2013 com a queda para a Série B do Campeonato Argentino. Foi um período muito difícil. Precisava de um lugar melhor para trabalhar e que pagasse em dia.
18)Ficaram te devendo muito dinheiro
Me devem até hoje!!!!
19)Quando vão pagar?
Não sei!
20)Depois foi atuar no Olímpia! Rival do Cerro Porteño-PAR. Como foi a volta ao Paraguai?
Se você me perguntar qual a pior decisão da minha carreira futebolística, eu direi que foi esta. Atuar no Olímpia. Foi muito difícil para mim.
A minha família me pediu uma estabilidade financeira e a melhor que me apareceu foi a do Olímpia-PAR. Mas vestir a camisa do Olímpia não foi fácil.
Eu sou Cerro Porteño desde criança, meu pai foi um zagueiro do clube nos anos 70 (Antônio Gavilán) e eu fui revelado no Cerro.
Fiz minha parte profissional no Olímpia, mas foi muito difícil. Sabia internamente que havia cometido um erro.
21)Depois encerrou a carreira aos 31 anos. Por quê tão cedo?
Depois dó Olímpia, eu ainda fui para o Juan Aurich, do Peru, mas joguei pouco. Não me adaptei lá. Nesse período meu joelho direito começou a me incomodar. Era aquela lesão da época do Flamengo. Naquele período eu não sentia nada, mas em 2011 ele começou a me incomodar. Fiz uma cirurgia com o médico da Seleção do Paraguai e ele me aconselhou a parar de jogar. Daí tive que aceitar e comecei a investir na carreira de técnico.
22)O que tem achado de ser técnico de futebol?
Comecei a estudar para ser técnico, inclusive passei um período com o Jorge Fossatti. Dei aulas em uma escola no Paraguai, para crianças entre 4 e 8 anos. Em 2012 me formei como técnico e fui contratado pelo Cerro Porteño para trabalhar no sub-15 do time. No momento já estou coma equipe sub-16.
23)Tem um estilo mais Mano Menezes ou Muricy Ramalho?
Acredito que hoje tenho um estilo mais Muricy Ramalho. Fico mais agitado em campo. Envolvido com o jogo. Gritando com os atletas. As vezes dá vontade de entrar em campo para ajudar o time!
Talvez com o tempo eu equilibre isso e adquira um pouco da calma do Mano Menezes.
24)Pensa em trabalhar em um time profissional? E no Brasil?
Meu objetivo um dia é trabalhar em uma equipe profissional. Penso sim em trabalhar no Brasil. Há técnicos brasileiros que já treinaram equipes no Paraguai. Seria legal um paraguaio fazer história como técnico no futebol brasileiro. No entanto, tudo tem seu tempo e sua hora. Ainda preciso passar por outras etapas antes de ser profissional.
25)Você jogou duas Copas do Mundo (02 e 06). Fale sobre esses momentos e a não ida do Paraguai para Copa de 2014 no Brasil?
A primeira vez que vai para uma Copa do Mundo é uma sensação incrível. Aquele sonho de criança de jogar um Mundial com a Seleção do Paraguai está se realizando. É uma ansiedade grande. Uma meta da vida que esta se cumprindo.
Em 2002 chegamos até às oitavas de final e fomos derrotado pela Alemanha, vice-campeã daquela edição.
Já em 2006, se vai mais experiente para uma Copa e não tem a mesma ansiedade de antes. No entanto, nossa campanha foi decepcionante. Caímos em um grupo com Inglaterra, Suécia e Trinidad e Tobago. Uma chave equilibrada, onde tínhamos condições de ir às oitavas. Perdemos para os dois europeus e vencemos apenas os caribenhos. Ficou a sensação que poderia ter ido mais longe.
Sobre 2014, o sentimento é de tristeza e decepção no Paraguai. Em 2010 fizemos a melhor campanha da nossa história chegando até às quartas de final, perdendo para a campeã Espanha e depois até a final da Copa América em 2012. É verdade que este último, só empatando e vencendo nos pênaltis, mas fomos a decisão. No entanto, a Copa América já foi um sinal que não vinhamos tendo boas atuações e isso se confirmou nas Eliminatórias, onde ficamos fora do Mundial.
Desde 1998 o Paraguai vinha jogando Copa do Mundo e a população já contava com a ida para 2014. Até porque será no Brasil, um país vizinho ao nosso.
Esta sexta-feira mesmo, tem duelo contra a Bolívia (último e penúltimo colocado) e ninguém está preocupado com o jogo. Agora a Federação já está querendo promover alguns garotos e formar um bom time para se classificar para 2018.
26)Para finalizar, você atuou em grandes clássicos do futebol, como Gre-Nal, Independiente x Racing, NOBx Rosário Central e Cerro PorteñoxOlímpia. Qual você acha que é a maior rivalidade?
Atuei também na Inglaterra no clássico Sunderland e Newcastle que é bem forte. De todos esses, a maior rivalidade é Newells Old Boys e Rosário Central. Um clássico que todo jogador gostaria de atuar.
Esta edição traz pela primeira vez um estrangeiro. Trata-se do volante paraguaio Gavilán, que no Brasil atuou por Internacional, Grêmio, Flamengo e Portuguesa.
O ex-jogador comentou sobre suas passagens por Inglaterra, México, Argentina e Peru. Também comentou sobre a emoção de jogar duas Copas do Mundo e lamentou o fato do Paraguai não poder disputar a Copa do Mundo de 2014.
Ele ainda falou que Porto Alegre/RS é sua segunda casa, que o Independiente-ARG ainda lhe deve dinheiro , que o maior clássico que disputou foi Newells Old Boys x Rosário Central e que um arrependimento em sua carreira foi ter defendido o Olímpia-PAR, rival do Cerro Porteño, clube que sempre torceu e o revelou para o futebol.
No momento, Diego Antônio Gavilán Zárate esta com 33 anos e é treinador do time sub-16 do Cerro Porteño-PAR e sonha em treinar uma equipe no Brasil.
Confira
1)Fale do início de sua carreira. Quando e onde começou a jogar futebol?
Comecei aos 5 anos na escolinha de futebol do Ministério de Hacienda (uma equipe do Governo do Paraguai). Fiquei até os 14 anos. Depois fui fazer teste no Cerro Porteño e aos 17 anos fiz a minha estreia no time profissional sob o comando de Jorge Fossati (com passagem pelo Internacional em 2010) em 1997. Joguei no clube até dezembro de 1999. Ganhamos 2 torneios clausura em 98 e 99.
2)Sempre atuou como volante?
Iniciei de volante, mas durante um período no Cerro Porteño cheguei a jogar de meia. No profissional comecei como volante e teve um período no Internacional em 2003, que o Muricy Ramalho me colocou de lateral-direito.
3)Depois do Cerro Porteño foi atuar no Newcastle. Como surgiu essa proposta e como foi esse período na Inglaterra?
Veio um olheiro da Inglaterra para o Paraguai, viu meu futebol e logo o Cerro Porteño fechou o negócio. Viajei com os meus pais para me adaptar mais facilmente na Inglaterra. Mesmo assim tive algumas dificuldades, como a questão do idioma, do frio e do futebol. No Newcastle tinha o peruano Solano e o técnico Bobby Robson que falavam espanhol e me ajudaram na comunicação dentro do clube.
O futebol lá é de muito contato e isso trouxe-me muita dificuldade para adaptação.
4)Tinha dificuldade em marcar os adversários, já que o jogo de contato físico lá é maior?
Difícil era pelas característica físicas. Eu fui com 19 anos e 69 kg. Precisava ganhar massa muscular.A meu favor tinha a velocidade e a técnica. Agora a marcação era muito forte e o jogo aéreo idem.
5)No início de 2002 foi emprestado ao Tecos-MEX. Por quê foi para lá e creio que a adaptação foi mais fácil ?
Pedi para ser emprestado, pois vinha jogando pouco e a Copa do Mundo estava próxima. Queria ter uma sequência de jogos para poder disputar o Mundial.
Apesar do idioma ser espanhol, tive algumas dificuldades, sim. Primeiro que o Tecos é um time pequeno de Guadalajara e não tem pressão e muita ambição. Isso acaba estranhando um pouco. Cheguei a ficar sem motivação para jogar em alguns casos. Depois havia jogos na altitude, onde eu não estava acostumado a jogar e que fazem diferença sim.
6)Em 2003 se transferiu para o Internacional. Já conhecia Porto Alegre/RS e o Internacional?
Já conhecia sim. Em 2001, eu defendi a Seleção do Paraguai em um jogo contra o Brasil válido pelas Eliminatórias para a Copa de 2002. Na ocasião o Paraguai ficou treinando no Beira-Rio.
7)Como foi seu primeiro ano no futebol brasileiro?
Bem diferente do futebol inglês, onde eu estava jogando. Os campos são maiores, aqui se privilegia mais a qualidade técnica. É um outro tipo de jogo. Mas não tive dificuldades de adaptação.
Cheguei no Inter junto com Muricy Ramalho. Naquela ocasião o Inter estava promovendo vários jogadores da base como Rafael Sóbis, Nilmar, Daniel Carvalho, os irmãos Diego e Diogo e mesclando o elenco com jogadores mais experientes.
Lembro que em determinado momento houve carência na lateral-direita e me escalaram naquele setor. Eu fui bem e cheguei a concorrer ao Prêmio Bola de Prata como melhor lateral-direito do Brasileirão, junto com Maurinho (Cruzeiro) e Cicinho (Atlético/MG).
8)Chegou a ir para Udinese, mas ficou pouco tempo retornado ao Internacional. O que não deu certo na Itália?
Fui para a Udinese, mas acho que o treinador da época não me conhecia e nem me escalava. Fiquei uma partida só no banco de reservas. Vi que não ia ser aproveitado e quis voltar para o Inter. A diretoria colorada pagou a multa rescisória e me fez um contrato até o final de 2005.
9) Pelo Inter ganhou três estaduais e foi campeão moral Brasileiro de 2005. O que recorda daquele Brasileirão?
Campeão moral foi bom (risos). Mas acho que foi isso mesmo. Márcio Rezende de Freitas e Edílson de Pereira de Carvalho, dois 'amigos meus' (risos).
Foi uma grande frustração da minha carreira. Lutamos muito para conseguir aquele título e o extracampo impediu que isso ocorresse. Fiquei muito chateado com aquilo. Merecíamos ganhar aquela competição.
10)Quando seu contrato terminou em 2005 acabou se transferindo para o Newell Old Boys-ARG. Por quê resolveu sair do Inter?
No Internacional já tinha ganho três estaduais, feito um bom Campeonato Brasileiro, além de boas campanhas na Copa Sul-Americana. Precisava de um desafio novo. Me apareceu essa proposta para atuar no Newells e achei que seria uma boa. Era um time que também ia disputar a Libertadores e me fui.
11) O que achou de atuar no Newells e no futebol argentino?
Gostei demais! Atuar em um clube onde tem uma torcida apaixonada como a do Newells foi muito bom. É uma torcida apaixonante. A cidade de Rosário 'respira' futebol e jogar o clássico NOB x Rosário Central é uma experiência única. Incrível este duelo! Creio que seja mais forte que Boca Juniors x River Plate.
No Newells eu ainda joguei com meus conterrâneos Justo Villar (goleiro da Seleção do Paraguai) e com Oscar Cardozo (atualmente no Benfica) e também com Ariel Ortega e Ignácio Scocco (atualmente no Inter).
O argentino tem um jeito único de torcer. Eles sempre enchem o estádio. Eles amam a equipe deles. Não importa se ela está mal, se está bem, o torcedor sempre comparece ao estádio. É muito legal a energia que eles passam.
12)Em 2007 retornou ao Rio Grande do Sul, dessa vez para defender o Grêmio. Como foi atuar no Tricolor, com um bom passado pelo Colorado?
Acabou meu contrato no Newells Old Boys e eu estava querendo ir para a Europa. No entanto, a proposta boa que me apareceu foi a do Grêmio. E eu como precisava jogar, aceitei.
No início cheguei com desconfiança da torcida, o que era comum, pois fiz história no Internacional.
No entanto, me foquei no trabalho, evitei polêmica com a imprensa e aos poucos fui ganhando a confiança da torcida. No primeiro semestre ganhei o Campeonato Gaúcho e depois fomos bem na Libertadores.
13)Foram vice-campeões em um time que muita gente não coloca fé, não é?
Sim. Na verdade começaram a acreditar em nós depois que eliminamos o São Paulo nas oitavas de final. Nas quartas, quando passamos pelo Defensor-URU ai a empolgação de ir à semifinal tomou conta da torcida.
Chegamos até a final e enfrentamos um Boca Juniors bem mais forte que o Grêmio. No primeiro jogo perdemos de 3 a 0. O legal foi no dia seguinte que mesmo com essa derrota a torcida já estava na fila do Olímpico comprando ingressos para o jogo de volta. Aquele apoio foi bem legal. Pena que não deu para levar o título.
14)Como foi trabalhar com Mano Menezes, que naquela época ainda estava surgindo para o futebol??
Ele é bem diferente do Muricy, onde estava acostumado no Inter (risos). Ele é mais calmo e ponderado durante os jogos. Ele é um treinador mais estratégico e sempre se preocupa com a parte pessoal do atleta.
15)Em 2008 jogou por Flamengo e depois na Portuguesa. Como foi jogar no eixo Rio-SP?
Na verdade no Flamengo joguei muito pouco. Cheguei para fazer os exames médicos e disseram que meu joelho direito não estava bom. Mas eu não sentia nada. Daí fizeram um contrato de risco e fui pouco aproveitado pelo Joel Santana.
Depois me transferi para a Portuguesa para a disputa do Brasileirão. Foi legal atuar na Lusa. Um clube com tradição no futebol brasileiro e que estava voltando à elite nacional. É um time diferente do que eu estava acostumado a jogar no Brasil, pois é uma torcida pequena, onde não há muita pressão. Além do Canindé ser um estádio menor.
Lá me recordo que tinha o lateral-direito Patrício, onde havia atuado junto no Grêmio. No início o time foi bem no Brasileirão, mas depois tivemos uma queda de rendimento e não conseguimos evitar o rebaixamento. Uma pena!
16)Você viveu no Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O que achou de cada uma e qual das três você mais gosta?
As três são completamente diferentes uma da outra. A que eu mais gostei é sem dúvida Porto Alegre. Lá é a minha segunda casa. Meus dois filhos são gaúchos e gosto muito de lá.
Rio de Janeiro é uma cidade bonita, com praia e cheia de turistas. Mas confesso que morar em um lugar como esse , às vezes dá preguiça para ir trabalhar (risos).
Já São Paulo é aquela metrópole grande, com gente para todo lado e um trânsito de carros muito grande. Apesar disso, me adaptei com o tempo e gostei de morar lá.
17) Saiu da Portuguesa e voltou para o futebol argentino. Desta vez para o Independiente-ARG. Como foi atuar no Rey de Copas?
Cheguei bem no início da crise do Independiente. Quem acompanha a equipe desde 2009 não se surpreende com a situação deles hoje.
Más administrações, problemas financeiros, problemas com a torcida organizada. Uma torcida que brigava com a diretoria. Torcida que pedia dinheiro para jogador.
O atual presidente, Javier Canteros decretou guerra aos Barra Bravas e a situação só piorou.
O resultado de toda a bagunça veio no primeiro semestre de 2013 com a queda para a Série B do Campeonato Argentino. Foi um período muito difícil. Precisava de um lugar melhor para trabalhar e que pagasse em dia.
18)Ficaram te devendo muito dinheiro
Me devem até hoje!!!!
19)Quando vão pagar?
Não sei!
20)Depois foi atuar no Olímpia! Rival do Cerro Porteño-PAR. Como foi a volta ao Paraguai?
Se você me perguntar qual a pior decisão da minha carreira futebolística, eu direi que foi esta. Atuar no Olímpia. Foi muito difícil para mim.
A minha família me pediu uma estabilidade financeira e a melhor que me apareceu foi a do Olímpia-PAR. Mas vestir a camisa do Olímpia não foi fácil.
Eu sou Cerro Porteño desde criança, meu pai foi um zagueiro do clube nos anos 70 (Antônio Gavilán) e eu fui revelado no Cerro.
Fiz minha parte profissional no Olímpia, mas foi muito difícil. Sabia internamente que havia cometido um erro.
21)Depois encerrou a carreira aos 31 anos. Por quê tão cedo?
Depois dó Olímpia, eu ainda fui para o Juan Aurich, do Peru, mas joguei pouco. Não me adaptei lá. Nesse período meu joelho direito começou a me incomodar. Era aquela lesão da época do Flamengo. Naquele período eu não sentia nada, mas em 2011 ele começou a me incomodar. Fiz uma cirurgia com o médico da Seleção do Paraguai e ele me aconselhou a parar de jogar. Daí tive que aceitar e comecei a investir na carreira de técnico.
22)O que tem achado de ser técnico de futebol?
Comecei a estudar para ser técnico, inclusive passei um período com o Jorge Fossatti. Dei aulas em uma escola no Paraguai, para crianças entre 4 e 8 anos. Em 2012 me formei como técnico e fui contratado pelo Cerro Porteño para trabalhar no sub-15 do time. No momento já estou coma equipe sub-16.
23)Tem um estilo mais Mano Menezes ou Muricy Ramalho?
Acredito que hoje tenho um estilo mais Muricy Ramalho. Fico mais agitado em campo. Envolvido com o jogo. Gritando com os atletas. As vezes dá vontade de entrar em campo para ajudar o time!
Talvez com o tempo eu equilibre isso e adquira um pouco da calma do Mano Menezes.
24)Pensa em trabalhar em um time profissional? E no Brasil?
Meu objetivo um dia é trabalhar em uma equipe profissional. Penso sim em trabalhar no Brasil. Há técnicos brasileiros que já treinaram equipes no Paraguai. Seria legal um paraguaio fazer história como técnico no futebol brasileiro. No entanto, tudo tem seu tempo e sua hora. Ainda preciso passar por outras etapas antes de ser profissional.
25)Você jogou duas Copas do Mundo (02 e 06). Fale sobre esses momentos e a não ida do Paraguai para Copa de 2014 no Brasil?
A primeira vez que vai para uma Copa do Mundo é uma sensação incrível. Aquele sonho de criança de jogar um Mundial com a Seleção do Paraguai está se realizando. É uma ansiedade grande. Uma meta da vida que esta se cumprindo.
Em 2002 chegamos até às oitavas de final e fomos derrotado pela Alemanha, vice-campeã daquela edição.
Já em 2006, se vai mais experiente para uma Copa e não tem a mesma ansiedade de antes. No entanto, nossa campanha foi decepcionante. Caímos em um grupo com Inglaterra, Suécia e Trinidad e Tobago. Uma chave equilibrada, onde tínhamos condições de ir às oitavas. Perdemos para os dois europeus e vencemos apenas os caribenhos. Ficou a sensação que poderia ter ido mais longe.
Sobre 2014, o sentimento é de tristeza e decepção no Paraguai. Em 2010 fizemos a melhor campanha da nossa história chegando até às quartas de final, perdendo para a campeã Espanha e depois até a final da Copa América em 2012. É verdade que este último, só empatando e vencendo nos pênaltis, mas fomos a decisão. No entanto, a Copa América já foi um sinal que não vinhamos tendo boas atuações e isso se confirmou nas Eliminatórias, onde ficamos fora do Mundial.
Desde 1998 o Paraguai vinha jogando Copa do Mundo e a população já contava com a ida para 2014. Até porque será no Brasil, um país vizinho ao nosso.
Esta sexta-feira mesmo, tem duelo contra a Bolívia (último e penúltimo colocado) e ninguém está preocupado com o jogo. Agora a Federação já está querendo promover alguns garotos e formar um bom time para se classificar para 2018.
26)Para finalizar, você atuou em grandes clássicos do futebol, como Gre-Nal, Independiente x Racing, NOBx Rosário Central e Cerro PorteñoxOlímpia. Qual você acha que é a maior rivalidade?
Atuei também na Inglaterra no clássico Sunderland e Newcastle que é bem forte. De todos esses, a maior rivalidade é Newells Old Boys e Rosário Central. Um clássico que todo jogador gostaria de atuar.
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