sexta-feira, 29 de julho de 2016

Arquivo! Entrevista com o ex-goleiro André que fala sobre sua carreira e amor pelo Inter


Bastidores: Lembro que o primeiro contato com  André foi por telefone, através da assessoria de imprensa das categorias de base do Inter. Foi em uma sexta-feira e combinamos de fazer a entrevista na segunda-feira seguinte.

Recordo que no dia acertado ele simplesmente não atendia o telefone. Devo ter chamado umas 3 ou 4 vezes e nada. 

Tentei novamente na terça-feira e ele me atendeu. Me pediu desculpas, pois afirmou que tinha ido à praia no final de semana e esqueceu o celular por lá. Alguma pessoa próxima (não me recordo bem, acho que o sogro) devolveu o celular. André ainda comentou em tom de brincadeira: 'Eu vi depois que você tentou me ligar várias vezes. Foi mal mesmo (risos).'

André foi bem simpático e humilde. Me chamou a atenção na  entrevista todo o amor que sentia pelo Inter. Inclusive, quando contrariado foi vendido ao Cruzeiro. Na época qualquer jogador tinha o passe preso ao clube e este que decidia se vendia ou não um futebolista.

Talvez  sem essa saída e lesões graves, André poderia ter tido uma história mais bonita no Colorado, possivelmente igual Marcos no Palmeiras e Rogério Ceni no São Paulo.

Pessoalmente o vi constantemente em 2015, onde trabalhei em alguns jogos de categoria de base em Alvorada/RS (sede dos juniores do Inter). Mas sempre o via em horário de jogos e ocupado. Não tive a oportunidade de falar pessoalmente e nem de ter algum papo.


crédito da foto: site oficial do S.C.Internacional
Confira a matéria publicada no dia 30 de agosto de 2013:
Nesta sexta-feira, o FutNet segue seu especial com ex-jogadores que fizeram história no futebol. 

O momento agora é do ex-goleiro André relembrar sua trajetória por Internacional, Cruzeiro, Juventude e Seleção Brasileira.

Na entrevista ele deixa claro todo seu amor pelo Colorado, clube no qual torcida na infância e o formou como atleta. Atualmente, André está com 41 anos e é técnico do time sub-23 do Inter e que está disputando a Copa Willy Sanvitto.

Por fim, ele ainda comentou sobre a formação de goleiros no Inter, o momento atual de Muriel e o que espera da equipe no Brasileirão.

Confira:

1)Comece falando como iniciou jogando bola e os primeiros clubes que atuou
Jogo futebol desde quando eu era criança. Sou de Venâncio Aires/RS e vivia no interior da cidade mesmo. Jogava bola com os meninos da minha rua e do colégio. Sempre atuei no gol. Inclusive nos times de futsal e handebol da escola. Sempre fui goleiro.

Meu primeiro clube foi o Flor de Maio, que era da minha cidade. Uma equipe amadora e não treinávamos. Só tinha jogos nos finais de semana. Em torno dos 13 anos fui para o Guarani de Venâncio Aires/RS, lá já haviam treino três vezes por semanas e disputávamos campeonatos regionais. Naquela época ainda não existia os estaduais, então eram jogos apenas com equipes de cidades mais próximas.

2)Quando e como foi para o Internacional?
Foi em 1989. Eu estava jogando uma partida de um campeonato adulto de futebol e o Abílio dos Reis foi ver um atleta do time adversário. Só que ele gostou da minha atuação e me convidou para ir ao Inter. 

Inicialmente eu ia três vezes a Porto Alegre treinar(V.Aires fica em torno de 135km de POA) e partir de 1990 eu fui morar na capital gaúcha.

Obs: Abílio dos Reis é tido como um dos maiores olheiros da história do Internacional. Em seu 'currículo' consta o descobrimento de jogadores como Dunga, Taffarel, Capergiani , Paulo Roberto Falcão, dentre outros.

3)Lembra quando subiu ao time profissional e quando virou titular?
Eu subi em 1992. Naquela época o treinador era o Antônio Lopes. No entanto, havia quatro goleiros no time de cima (Gato Fernandez, Maizena, Ademir Maria e César Silva) e eu nem joguei. Com o passar do tempo fui ganhando espaço e em 1994 fui o reserva imediato do Sérgio e em 1995 do argentino Goycochea. No entanto, o Goycochea estava tendo atuações irregulares e em 1996 o Inter não renovou o contrato com ele e eu acabei promovido ao time titular. Naqueles tempos, se diziam que um bom time tinha que ter um goleiro experiente de titular. Era mais difícil para um jovem conseguir ser o camisa 1. A minha chance veio na estreia do Inter naquele Brasileirão diante do Palmeiras, no Parque Antártica. O jogo foi 0 a 0. Eu me lembro que era aquela timaço do Palmeiras que era destaque no Brasil, até então. Lembro que toda hora eles estavam no ataque. Não dava nem para 'respirar' direito. Nosso time do Inter era jovem e com muitos garotos sendo promovido aos titulares.

No final daquele Brasileirão fizemos uma boa campanha, perto do que tinha acontecido com o Inter nos anos anteriores.

Obs: O Internacional acabou em 9º lugar daquele Campeonato Brasileiro. Os oito primeiros avançavam às quartas de final.

4)Você ainda atuou numa época que o Grêmio estava por cima. Como foi para um jogador do Inter atuar naqueles tempos de glórias do maior rival?
A pressão era grande. Mas nada de anormal para quem está no futebol. No esporte, uma hora está por cima, outra por baixo e tem que saber lidar com isso. Havia cobrança de melhoras, sim. Mas quem não aguenta cobrança ou não se cobra, não pode viver no futebol.

5)Chegou a atuar na Seleção Brasileira em um amistoso contra a Iugoslávia. Se recorda bem desse jogo? Quais outras convocações teve na carreira?
Eu lembro daquele jogo. Terminou 0 a 0. Foi um jogo de poucas emoções. Ainda fui convocado mais duas vezes, mas não atuei. Uma em dois amistosos contra Japão e Coreia do Sul e teve uma outra que era o centenário do Barcelona, onde me machuquei e fui cortado.

6)Em 1999 você saiu do Inter e foi para o Cruzeiro. Por quê saiu do clube gaúcho e como foi essa transferência?
Para mim foi muito difícil. O Inter era o time que eu torcia na infância e depois passei 10 anos atuando lá. Não foi fácil sair. Mas o Internacional passava por dificuldades financeiras e precisou me vender. A política no clube naquela época era essa. Vendia seus melhores atletas para fazer caixa e melhorar o lado financeiro da equipe. Lembrando que naquela época o jogador não tinha passe livre. Era uma mercadoria dos times e eles que decidiam se vendiam, renovavam contrato ou qualquer outra coisa. Aliado a isso, tinha a Lei Pelé que estava recém sendo implantada no Brasil. Muitos clubes não sabiam como agir. Então vendiam seus jogadores para ganhar dinheiro.

7)Como foi sua chegada em Belo Horizonte?
Foi com muita pressão. Cheguei para substituir o Dida que era ídolo da torcida. Outros goleiros já tinham passado pelo clube e não se deram bem. A responsabilidade era grande. Havia uma lacuna preenchida.

O que tinham que entender é que cada um é cada um e ninguém substitui ninguém. No começo fui bem e conquistado meu espaço no time e na torcida.

Na primeira fase do Brasileirão de 1999 terminamos em segundo lugar e enfrentamos na segunda fase o Atlético/MG. O Cruzeiro tinha uma jogada de impedimento que vinha dando certo até então. Só que no duelo contra o Galo, eu sai errado em uma jogada, e um outro atleta também e acabou não dando impedimento e o Atlético fez o gol. Fiquei marcado por aquele lance e pela eliminação no Brasileiro. Mas depois na Copa do Brasil de 2000 fomos campeões e eu dei a volta por cima, sendo mais respeitado.

8)Você ainda sofreu duas lesões quando estava no clube mineiro...
Sim, a primeira no final do Brasileiro de 2000 em um jogo contra o São Paulo no Morumbi. Fiquei seis meses fora. Depois em 2001, outra lesão atuando contra o Santos, na Vila Belmiro, onde fiquei quase dois anos fora. Ambas lesões foram rupturas nos ligamentos cruzados de joelho. Os dois lesionaram, um em cada jogo citado.

9) Acreditou que teria que interromper a carreira?
Eu não, mas muitos achavam isso. Inclusive pessoas dentro do futebol. Na segunda lesão, tive problemas de material que foram rejeitados pelo meu corpo. Foi bem complicado. No entanto, consegui retornar em 2003. Mas aquele time do Cruzeiro já estava formado e eu fiquei sem espaço. Cheguei a viajar algumas vezes com a delegação, mas nem era relacionado. Era apenas para qualquer imprevisto eu estava lá. Ai acabou meu contrato e eu voltei para o Internacional.

10)Qual a diferença de Inter que você encontrou para aquele que você estava nos anos 90 e o de 2004 que você trabalha até agora?
Em termos de estrutura física era a mesma. Mas a organização era muito melhor. Era um clube que já pagava os salários em dia. Na minha época chegavam atrasar três meses. O Inter estava honrando seus compromissos. Tudo isso deu credibilidade ao time e o resultado foram os títulos conquistados nos anos que se passaram.

11)Em 2005 você estava naquele elenco que foi vice-campeão brasileiro e teve aquele jogo famoso contra o Corinthians, onde o árbitro Márcio Rezende de Freitas não deu o pênalti de Fábio Costa em Tinga e ainda expulsou o meio-campista por suposta simulação. Até hoje aquele jogo é falado e lamentado por muitos. Como você vê aquele episódio?
Na verdade, aquele campeonato todo foi uma bagunça. Esse lance do Tinga com o Fábio Costa foi só um símbolo do que foi a lambança daquele Brasileirão! Teve aqueles jogos remarcados por conta de escândalo de arbitragens. Ai se anulam os pontos, os gols feitos. Foi muito conturbado aquilo. 

O legal é que depois daquela edição, os campeonatos foram mais organizados e sem essas polêmicas. Aos poucos o futebol brasileiro vai se organizando e fazendo campeonatos com mais credibilidades.

12)Em 2006 foi atuar no Juventude. Por quê saiu do Colorado e como foi atuar em Caxias do Sul?
O Internacional estava com dois goleiros experientes. Eu e o Clemer. Isso não é legal para um time, pois você freia a ascensão de novos atletas desta posição. Não renova o plantel. Naquela época estavam surgindo o Marcelo Boeck (atualmente no Sporting-POR) e o Renan ( defende o Goiás) e era melhor dar oportunidade a eles. 

Quando fui ao Juventude senti uma nova realidade. Até então eu só tinha trabalhado em times grandes como Inter e Cruzeiro. O pensamento era sempre brigar por títulos. Já o clube de Caxias do Sul as ambições são menores, os investimentos também. A meta era ir bem no Gauchão e depois não cair no Brasileirão. Isso faz diferença para um atleta. Mas com o tempo me adaptei ao clube.

No Juventude atuei até a metade de 2007, onde novamente eu me lesionei e não joguei o segundo semestre. Em 2008 cheguei a fazer pré-temporada, mas não me senti bem fisicamente e vi que era hora de parar.

13)Se sente realizado com sua carreira de futebol?
Sim, claro. Com tantas lesões que tive, jogar profissionalmente por um longo período , não é fácil. É uma grande vitória.

14) Dos três times que atuou, qual mais gostou de jogar?
Sem dúvida no Internacional. Por toda minha história com o clube. Amo essa equipe.

15) O que é mais emocionante jogar Gre-Nal ou Atlético x Cruzeiro?
Vou dizer Gre-Nal por toda minha história envolvida com o Inter e a rivalidade que vivo desde a infância. 

16)Falando um pouco do Inter agora, um dos problemas da equipe é a questão dos goleiros desde que o Clemer aposentou. Tentaram o Renan, que era da base e não deu certo. Agora o Muriel vem sendo contestado. Como você avalia esse problema?
O Internacional sempre teve fama de formar bons goleiros. Goleiros técnicos e pouco espalhafatosos. O Renan estava bem quando foi titular em 2008. Depois foi pra Espanha (atuou no Valencia e Xerez), voltou em 2010 e quando retornou estava parado. Goleiro é quem sente mais a falta de ritmo. A maneira de trabalho com goleiros na Espanha é bem diferente do Brasil. Ele chegou e já virou titular. A condição atlética dele não era a melhor quando foi posto em campo. As falhas vieram pois não estava bem preparado. Não era o momento dele.


Já o Muriel está há 2 anos de titular e já foi muito bem. Goleiro é quem segura a 'bandeira' lá atrás. Tomou gol a culpa é no mínimo ཮%*  do goleiro'. Quem está vendo o jogo no estádio ou na TV, vê a jogada toda do lance e tem a visão muito melhor que a do goleiro. O que parece uma falha para quem estava vendo o jogo, para um goleiro foi um lance bem complicado. A má visão na hora do lance, como um atleta na frente por exemplo, já prejudica o goleiro que precisa decidir o que fazer em frações de segundo. Aquilo faz uma diferença muito grande. O Muriel é um grande goleiro. O Inter esta bem servido com Alisson, Agenor também. Estes dois não atingiram a maturidade como atletas profissionais. Precisam de mais vivência no esporte. O momento do Muriel não é ruim. Vejo que o Inter está sofrendo um pouco mais gol do que antes. Não quer dizer que vem falhando. O contexto da equipe que, no geral, que vem sofrendo gols.
*Número exato não recuperado da publicação. Falha do jornalista aqui.

17)Qual a expectativa que tem com o Inter no Brasileirão?
A tendência é crescer e fazer uma boa campanha. Chegaram vários reforços e estes ainda estão se adaptando. Até entrosar com o restante do elenco leva um período. Acredito que tem tudo para ir bem nesse Brasileirão.

18) Briga pelo título?
Isso o tempo dirá. Não dá para prever. Vamos esperar os resultados. São muitas rodadas ainda. Um exemplo é o Atlético/PR que no início estava lutando pelo rebaixamento e agora já está brigando por G-4.

19) No momento é treinador do time sub-23 que disputa a Copa Willy Sanvitto? O que tem achado de ser técnico e há algum jogador nessa equipe em destaque que poderia ir para o profissional?
Está sendo bem legal. Trabalhar com jovens é muito bacana. Nossa meta neste torneio é dar mais rodagens aos atletas. A maioria dos adversários que enfrentam são formados por atletas profissionais e isso dará bastante experiência aos nossos jogadores. Ainda não destaco ninguém, é cedo para falar sobre quem pode despontar.

20) Para finalizar, pensa em ser técnico no time principal do Inter?
Não. Gosto de trabalhar nas categorias de base.

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