Profissionalmente a minha primeira entrevista com um atleta não-brasileiro foi com um taitiano! Nunca imaginei que fosse ser com um atleta oriundo de um pequeno arquipélago na Oceania! Por esse motivo que eu nunca esquecerei o Taiti.
Em 2012, a ilha pertencente a Polinésia Francesa de forma surpreendente foi campeã da Copa da Oceania (Copa das Nações da OFC) e se classificou para a Copa das Confederações que foi disputada no Brasil no ano seguinte.
Vi no Facebook uma postagem de um jornalista amigo meu sobre a preparação daquela seleção para o torneio mais importante que iria disputar na sua história e o questionei se tinha contato com alguns jogadores. Ele me passou o do goleiro Mikael Roche. Mandei uma mensagem em inglês (a língua oficial deles é francês, mas não domino o idioma) e fiquei torcendo para dar certo. Foi mais tranquilo do que imaginei! Roche me respondeu horas depois, em inglês, que seria um prazer dar essa entrevista! Agendamos e tudo ocorreu bem!
Ao término do torneio procurei Roche novamente e ele falou sobre a participação do Taiti. Ou seja, a minha primeira e a segunda entrevista com um estrangeiro foi com o arqueiro hoje com 33 anos e ainda atuando no AS Dragon do Taiti.
Durante cinco anos, Roche atuou na França, sendo em uma temporada no time B do Mônaco. Nenhum atleta daquela seleção vive apenas de futebol e o arqueiro é também professor de educação física.
Confira as duas:
Pré-Copa das Confederações:
1) O que representa para você e para o Taiti jogar a Copa das Confederações?
É uma honra muito grande para todos nós atletas estar aqui e poder representar o futebol amador. Nos estamos muito orgulhosos de fazer parte desta fantástica aventura.
2)Acredita que a participação na Copa das Confederações poderá fazer o futebol do Taiti crescer e se desenvolver mais?
Eu espero que sim! Pois a federação do Taiti receberá um bom dinheiro só pela participação na Copa das Confederações (mais dinheiro do que a média anual) e deverá ser aproveitado para desenvolver e massificar o futebol no Taiti.
Esperamos também que isso dê mais esperança aos treinadores e as crianças para se dedicarem mais e ver que as oportunidades existem e podem ser realizadas.
Dar esperanças para as pessoas é um sentimento maravilhoso.
3) O quão popular é o futebol no Taiti?
As pessoas gostam de futebol e assistem os principais campeonatos do mundo. Futebol aqui é o mais popular em termos de licença (por volta de 10 ou 11 mil jogadores). No entanto, os estádios locais seguem vazios. No Campeonato Taitiano temos em torno de 300 pessoas por jogo apenas.
No Taiti os esportes mais populares são os aquáticos:surf e Va'a ( canoa taitiana).
4) A Copa das Confederações irá passar na TV do Taiti?
Sim. Terá transmissão e todos os nossos amigos e familiares irão assistir.
5) É a sua primeira vez no Brasil? O que tem achado desse período por aqui? Como está a preparação do Taiti para a Copa das Confederações?
Sim, é a minha primeira vez aqui. É impressionante a variedade de cultura, paisagem e pessoas por aqui. Os torcedores são maravilhosos e muito envolvidos com o futebol. A atmosfera é realmente boa. Estamos surpreso com a boa receptividade e o tanto de pessoas que estão torcendo por nós. Mais do que no Taiti!
No Taiti as pessoas não prestam muita atenção em nós. Aqui no Brasil, sim. Isso é bom, pois nos sentimos valorizados.Nós representamos o futebol amador no mundo e várias situações diferentes que as pessoas estão acostumadas a ouvir e ver sobre jogadores de futebol.
A preparação está sendo muito boa. Estamos em um bom Centro de Treinamento e tendo a oportunidade de jogar com atletas de alto nível. Isso é mais difícil para nós, devido a nossa localização geográfica.
6)Ontem os atletas do Taiti assistiram no estádio Atlético/MG x Grêmio válido pelo Campeonato Brasileiro. O que achou de uma partida jogada no Brasil?
Foi incrível o quão rápido ocorria a partida. Os jogadores não paravam de se movimentar em campo. Tecnicamente impressionante. Chama atenção que a parte tática não é tão usada no Brasil como em outros lugares. Aqui há coisas que na Europa não fazem. É um futebol empolgante.
7)Que coisas há no Brasil que não tem na Europa?
Os jogadores aqui tem mais espaço para atuar em campo. É mais espetacular no Brasil. Na Europa,mais especificamente na França, as defesas são mais fechadas e com pouco espaço entre as linhas.
8) Falando agora sobre os adversários da primeira fase. Taiti terá pela frente Nigéria, Espanha e Uruguai. Qual será o objetivo de vocês nesses três jogos?
Provar que mesmo sendo amadores, temos coisas boas: bom espírito, bons competidores e um grande coração. O resultado será o que tiver que ser. Sempre dizemos que no futebol tudo é possível e nosso objetivo é deixar uma ótima imagem.
9) Por fim, um dia acreditou que pudesse enfrentar grandes jogadores como Xavi e Iniesta por exemplo?
Nunca imaginei que fosse acontecer. É maravilhoso atuar contra os melhores do mundo. Um sonho de criança!
Pós-Copa das Confederações:
Nesta sexta-feira, o FutNet traz com exclusividade uma entrevista com o goleiro da Seleção do Taiti, Mikael Roche para fazer uma avaliação sobre sua equipe na Copa das Confederações.
O arqueiro de 30 anos atuou na derrota para a Espanha por 10 a 0. Apesar do revés histórico, Roche se mostrou feliz em poder atuar contra os atuais campeões do mundo e falou sobre o pênalti perdido por Fernando Torres.
O arqueiro de 30 anos atuou na derrota para a Espanha por 10 a 0. Apesar do revés histórico, Roche se mostrou feliz em poder atuar contra os atuais campeões do mundo e falou sobre o pênalti perdido por Fernando Torres.
Todos os jogos foram muito bons para nós atletas. Acredito que demos um grande salto para evoluirmos como jogadores e como homens.
2)Houve um rodízio de goleiros no Taiti e os três atuaram, cada um em uma partida. Você foi o titular na derrota para a Espanha por 10 a 0. O que achou de atuar contra a Fúria? Fale sobre o momento em que Fernando Torres errou a cobrança de pênalti e que você comemorou muito!
Jogar contra a Espanha foi épico para mim. Sempre temos vontade de enfrentar os melhores jogadores e este momento foi ótimo para mim. A multidão no estádio estava toda a favor do Taiti, isso foi bem legal. A Espanha foi um time que nos respeitou muito em campo e isso foi muito marcante para nós. Eles fizeram apenas a parte deles, sem querer nos humilhar.
Com relação ao pênalti perdido, isso é um fato sempre marcante para um goleiro quando o cobrador erra a penalidade. O fato se torna ainda mais especial em saber que o atleta foi Fernando Torres, de renome mundial. Eu dediquei esse lance ao meu avô e ao meu filho (este último teve o nome escrito nas luvas de Roche durante o jogo).
3)No final da partida contra o Uruguai, os atletas do Taiti apareceram com bandeiras do Brasil agradecendo o apoio da torcida durante os três jogos. Como e aonde surgiu essa ideia?
Nos quisemos agradecer os brasileiros por todo apoio que nos deram durante a Copa das Confederações. Aquele momento no final do jogo foi uma forma de agradecê-los pelo que fizeram por nós. Foi uma forma de nós demonstrarmos a nossa gratidão por todo o apoio.
4) Por fim, quais os objetivos do Taiti no futuro? Quais as metas que traçam para a equipe?
A nossa próxima meta é ir disputar os Jogos do Pacífico, para chegar à fase ouro e conseguir se classificar à próxima Copa da Oceania. Depois formar um bom time para disputar a eliminatória para a próxima Copa do Mundo. Nós aprendemos muito jogando a Copa das Confederações e isso servirá para montarmos uma equipe mais forte no futuro.
obs: Os Jogos do Pacífico são uma espécie de 'Olimpíadas dos países do sul do Pacífico'. É um evento multi-esportivo que ocorre de 4 em 4 anos e desde 2007 os primeiros colocados ganham vaga para disputar a Eliminatória da Oceania para a Copa do Mundo.
Créditos das fotos: arquivo pessoal de Mikael Roche