Este jornalista teve a honra de ser a primeira pessoa no nosso país a entrevistá-lo. Isso foi em 2013!
O atleta no momento segue no futebol da Finlândia, onde conseguiu seu espaço.
Lucas Kaufmann, de branco, em seus tempos no Omã. Crédito: reprodução/Facebook |
Confira a matéria:
Nesta quinta-feira, o FutNet traz mais um especial com jogadores brasileiros que atuam no exterior.
O 'bola da vez' é o meia Lucas Kaufmann, 22 anos, que começou no Internacional/RS, passou pelo São José/RS e depois foi se aventurar na Finlândia e posteriormente no Omã.
O gaúcho de Porto Alegre começou jogando fustal na escolinha do Internacional aos 8 anos. Dois anos depois foi para o time de campo do Colorado/RS. Iniciou jogando de meia, passando para lateral e posteriormente voltando a criação das jogadas, função que exerce atualmente.
" Comecei a jogar o futebol de campo aos 10 anos de idade. Meu auge foi aos 13 onde fui capitão de um time do Internacional, que foi campeão 'de tudo'. No ano seguinte, devido a disputa da taça EFIPAN, o Internacional começou a trazer atletas de fora, de outros estados inclusive, e eu perdi espaço, assim como a maioria no elenco. Fiquei alguns jogos no banco de reservas mas nem entrei. Depois dessa temporada acabei dispensado e fui parar no São José/RS, onde cheguei por convite da direção que me conhecia dos meus tempos de Colorado. Lá joguei no time juvenil e depois fiz parte do elenco que jogou a Taça São Paulo de Juniores,"explicou o meio-campista.
Em 2010, quando estava completando 19 anos, acabou ficando sem clube, começou a cursar fisioterapia em uma faculdade no Rio Grande do Sul e mantinha a forma física em um clube de Viamão, mas não disputava torneios. Até que no segundo semestre, através de um amigo, foi indicado a fazer um teste no Mafra, equipe da Terceira Divisão de Portugal. Por lá, ficou três meses, onde jogou alguns amistosos e passou no teste. No entanto, seu visto como turista acabou vencendo e em janeiro de 2011 retornou ao Brasil, para ser comprado pela equipe lusitana e ter um visto de trabalho. Mas a direção do clube acabou mudando e não houve a garantia de que ele fosse contratado.Até que através de um amigo seu, ele foi jogar na Finlândia.
" Tinha um amigo meu da mesma idade, que atuou nas categorias de base aqui no Rio Grande do Sul e que estava atuando no PKKU, um clube da terceira divisão da Finlândia e me indicou para a direção de lá que me convidou para fazer um teste. Me garantiram que lá era um bom lugar para trabalhar. Antes de ir eu tentei entrar em contato com o Mafra, mas eles não me deram retorno. Então eu fui para a Finlândia e acabei ficando", afirmou o brasileiro.
Em sua primeira temporada em solos nórdicos, Kaufmann foi eleito o melhor jogador da Terceira Divisão da Finlândia, e na Copa da Finlândia acabou chegando até a terceira fase sendo eliminado por uma equipe da elite local. Na outra temporada, sua equipe foi promovida à Segunda Divisão e chegou às oitavas de final da Copa da Finlândia. No final de 2012, com o acesso garantido com algumas rodadas de antecedência, Lucas foi emprestado ao PK-35 que estava na Primeira Divisão, chegando a jogar cinco partidas.
" Morar na Finlândia foi muito bom. É um País onde tudo funciona. A população paga altos impostos, mas tem tudo em troca. Não tem pobreza, não tem mendigo,não tem desemprego, você pode andar a qualquer hora na rua que não será assaltado. As pessoas são super receptivas. Te tratam muito bem. Sabem que você é de fora e falam em inglês contigo. Lá, todo mundo sabe falar inglês. Eu mesmo não aprendi a falar finlandês, que é um idioma muito difícil", afirmou o futebolista, que afirmou não ter sofrido nenhum preconceito por ser brasileiro.
"Ninguém me discriminou por eu ser do Brasil.Não tive problemas com relação a isso Talvez pelo fato de eu ser branco. O que eu via era alguns jogadores negros, não sei a nacionalidade, que durante as partidas os torcedores faziam alguns sons e gestos estranhos. Não sei exatamente o que era, mas sei que faziam aquilo por não estarem acostumados a viver com negros", revelou.
Kaufmann ainda disse que a estrutura de seu clube era muito boa e melhor que muitas equipes de pontas do Brasil, além da boa relação que há entre os jogadores, comissão técnica e dirigentes.
" Apesar de ter ido para um time de Terceira Divisão, a estrutura lá era muito boa. Havia quatro campos para nós treinarmos, dois de campo sintético (um para caso nevasse) e dois de grama . Havia categorias de base tanto para homens quanto para as mulheres. É muito comum na Finlândia ver mulheres jogando bola e os clubes de lá investem no futebol feminino. Nós treinávamos em um campo e o time profissional das mulheres do outro. E ninguém via aquilo com preconceito. Creio que muitos clubes brasileiros de ponta não tem a mesma estrutura que o PKKU tinha. Outra coisa legal era a boa convivência com os jogadores e comissão técnica. No Brasil, jogadores e técnicos são muito afastados, cada um na sua. Lá, não. Acaba um jogo, os atletas vão para um bar comemorar a vitória e o treinador está junto vibrando com todos. Após os treinamentos, se você quiser conversar com o técnico sobre alguma coisa tática ou técnica ele te escuta e as vezes até executa o que foi aconselhado", emendou para depois explicar o porque resolveu sair da Finlândia.
" Na Finlândia, aprendi muito com o futebol. Principalmente a parte tática onde eles dão muita ênfase. Mas queria jogar em um futebol mais competitivo. Um lugar onde eu pudesse evoluir mais. Além disso tinha a questão salarial. Lá eu tinha um salário simbólico e o clube me bancava o almoço e a janta, além de dar moradia. Queria para algum lugar que me pagasse melhor."
O seu amigo que havia indicado para atuar na nação do hemisfério norte tinha abandonado a carreira e se tornado empresário de futebol. Mateus Assaf Pereira acabou virando agente de Lucas e acabou encontrando um destino em um país bem diferente do qual estava jogando: o Omã.
Apesar de ver pontos positivos em sua ida ao Oriente Médio, o sul-americano afirma não ter gostado de viver no país asiático, onde
revelou que quando o contrato estava chegando ao fim, não via a hora de ir embora.
Ele atuou no Al-Shabab, terceira equipe mais poderosa daquela nação no quesito econômico e em títulos.
" Foi legal ter ido ao Omã, pois joguei em um clube de Primeira Divisão, onde havia jogadores de seleções nacionais e pude disputar torneios continentais como a Copa do Golfo, onde joguei em estádios cheios e contra adversários mais fortes do que eu estava acostumado. Aprendi muito no quesito preparação mental para jogar fortes campeonatos. No entanto, houve vários problemas que me desmotivaram a ficar lá. Primeiro é a responsabilidade exagerada que eles colocam nos estrangeiros. Na minha equipe, havia eu, um marroquino e um marfinense que atuava pela Seleção da Guiné-Equatorial. Sempre nos momentos mais difíceis, queriam que nós resolvêssemos. Quando na verdade o time todo tinha que ajudar. Além disso, os jogadores eram pouco comprometidos com o clube. Se jogássemos no domingo e nosso outro jogo fosse só no outro domingo, quase ninguém aparecia na segunda-feira para treinar. Nem terça, nem quarta. Só lá pela quinta ou sexta. Eles trabalham só em cima do próximo jogo e mais nada. E se ausentavam de pilantragem. Diziam que tinham que trabalhar para o exército (pois a maioria da população trabalhara para o exército de lá), mas quando tinha partida na quarta-feira, todos apareciam na segunda e na terça para os treinos. Não era coincidência. No elenco via muita trairagem entre os jogadores, inclusive alguns boicotavam o técnico. Nosso treinador, que era da Líbia, acabou demitido por causa de dois jogadores nossos que eram da Seleção de Omã e pediram a 'cabeça' dele para o presidente que os atendeu."
Lucas Kaufmann que é ateu se assustou ao ver como o islamismo toma conta daquela população e como eles adoram Alá.
"Uma coisa é você saber que lá o islamismos é forte. Outra é ver de perto o quão forte essa religão é lá em Omã. Rezam cinco vezes ao dia, aonde você passa tem uma menção à Alá. Eles acreditam que seu destino já nasceu traçado e tudo que acontece em sua vida foi Alá que quis. Inclusive no futebol. No vestiário, ao término de um jogo que perdíamos, discutia-se muito pouco o revés e no final diziam: 'foi Alá que quis'. Eu como ateu não gostava de ouvir aquilo após uma derrota",emendou.
Sem muitas atividades em um país que pouco explora seu turismo, não oferece opções de lazer e ainda tem a internet limitada, Kaufmann disse que no último mês ficava contando os dias para o término de contrato e a hora de retornar ao Rio Grande do Sul.
Pelo Al-Shabab o melhor resultado que conseguiu foi um vice-campeonato da Copa do Sultão, a 'Copa do Brasil, de Omã'.
O brasileiro ainda afirmou que os omanenses gostam de futebol, mas preferem assistir a grandes jogos da Europa e fazem pouco para desenvolver o esporte local.
"A população de Omã gosta de futebol. Mas eles gostam de ver o Barcelona e o Real Madrid jogarem. Os times locais tem pouco apoio. Nos estádios, exceção aos grandes jogos, há uma média de 200, 300 pessoas por jogo. E são espectadores, não torcedores. Mas todos adoram ver na TV os grandes jogos da Europa. Eu garanto que se o Barcelona, por exemplo, for fazer uma semana de treinos lá, vão lotar os CTs. Os dirigentes também não fazem questão de evoluir o futebol local. Eles tem muito dinheiro e preferem trazer jogadores de fora do que investir na base. Os times de lá nao tem categorias de base e nem campeonatos para garotos. Apenas a Seleção que tem times sub-16 e 18. Precisam mudar essa mentalidade", opinou o meio-campista.
Com o contrato encerrado, Kaufmann ainda não sabe aonde irá atuar no segundo semestre de 2013. Mas afirmou ter propostas de equipes da Suíça, Azerbaijão, Tailândia e de outra equipe de Omã.
A longo prazo, o jogador planeja conseguir atuar em um campeonato de segundo ou primeiro escalão e poder fazer sua independência financeira.
Sobre jogar no Brasil, Kauffman afirma que tem vontade de atuar em clube daqui, mas acredita que precisa ter um certo destaque em um campeonato menos periférico para ser visado pela nossas equipes.
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