quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Exclusivo! José Leão fala sobre seu período no Inter e no futebol catarinense!

Foram 14 anos (2001/15) trabalhando no Internacional. Os três primeiros atuando na escolinha de futebol do Colorado e os outros nas categorias de base. Chegou até o sub-20.

Pelo seu comando passaram atletas como os laterais William e Gefferson (este atualmente no Vitória),o volante Rodrigo Dourado, os meias Andrigo, Gustavo Ferrareis e Valdívia , dentre outros.

Sob o comando do lado vermelho de Porto Alegre/RS foi 9 vezes campeão gaúcho, 2 Brasileiros ( sub-14 e sub-20). Foi também treinador da Seleção Gaúcha sub-15 em 2011 vencendo o Torneio da Amizade contra o Uruguai.

José Luis Baptista Leão se formou em educação física pela UFRGS em 2001. O treinador de 40 anos é pós-graduado em técnico desportivo em futsal e futebol. 
Crédito: divulgação/P2Assessoria 

Nesta entrevista, o gaúcho de Porto Alegre/RS fala de sua experiência e títulos no comando do Colorado, os trabalhos e suas rápidas passagens pelo profissional da Caçadorense/SC (2015), equipe sub-20 do Tubarão/SC e Criciúma (auxiliar-técnico em 2016), seu último clube. 

Também foi abordado o momento atual do Inter e a situação dos técnicos no Brasil.

Confira:
1) Chegou ao Internacional em 2001 e permaneceu até março de 2015.O que mais te marcou em sua passagem pelo Inter e na sua opinião quais os títulos mais importantes que conquistou?

Cheguei ao Inter em 2001 através de ex-colegas de faculdade que estavam trabalhando na escolinha do clube. Fiquei lá quase 14 anos e muitos dos jogadores que estão subindo ao profissional, principalmente a geração nascida entre 1995/96 , passaram pelas minhas mãos. O mais marcante mesmo é ver os atletas subindo ao profissional e dando certo.

Sobre os títulos, disputei 11 Campeonatos Gaúchos e ganhei 9. Venci dois Brasileiros. Um Brasileiro sub-14 em Votorantim/SP e o Campeonato Brasileiro sub-20 de 2014. O título do sub-20 foi o auge da minha carreira.

2) Esse título do Brasileiro sub-14 em Votorantim/SP tem um fato curioso em que o Inter calou a torcida adversária que já dava como certa a vitória, correto?
A semifinal foi contra o Votorantim/SP, time que da cidade-sede do torneio.O estádio estava cheio. No tempo normal o jogo foi 1 a 1. Na prorrogação eles fizeram 2 a 1. Nós estávamos com dez em campo, pois o zagueiro Eduardo (atualmente no profissional do Inter) foi expulso. Quando o fim do jogo foi se aproximando a torcida começou a comemorar. Estavam eufóricos e já pensando na final. Faltando menos de um minuto para acabar a prorrogação, o meia Gustavo Ferrareis estava no meio do campo e arriscou um chute e acertou o gol! Foi um gol improvável! Calou o estádio. A decisão foi para os pênaltis e vencemos. Essa história é incrível!

3)Dentre os vários jogadores que você trabalhou na base, um que você descobriu foi o volante Rodrigo Dourado. Como foi essa descoberta?
Na verdade, eu tinha um colega no Inter que disputava torneios estaduais  de futsal e em um desses jogos, pelas suas andanças no estado, viu um torneio de meninos e se impressionou com o Dourado, até então com 11 anos e me falou sobre ele. Eu pedi para que fossem atrás do garoto para que fizesse um teste no Inter. Ele fez e passou.

Diria que quem deu aval para que o Dourado entrasse no Inter fui eu. Trabalhei com o atleta desde os seus 11 anos de idade. É muito gratificante ver que se tornou um dos principais jogadores do profissional.

4)Em 2015 o Internacional viveu possivelmente seu último grande momento com o time semifinalista da Libertadores. Naquela equipe havia vários atletas das categorias de base que trabalharam contigo, como os laterais William e Geferson e os meio-campistas Rodrigo Dourado e Valdívia. O time era muito bom e por pouco não foi para a decisão. Um ano e meio depois esses mesmos atletas entraram para a história do clube com o inédito rebaixamento à Série B do Brasileiro. Primeiro, gostaria que você me disse porque acha que esses atletas que viveram um auge em 2015 caíram de produção, principalmente o Geferson? Como viu esses atletas, que você os formou, terem feito parte do rebaixamento? Por fim, como viu essa queda do Inter?

Em 2015 o técnico era Diego Aguirre e com Campeonato Gaúcho e Libertadores ao mesmo tempo  houve um rodízio com os atletas. Nessa variação de escalações vários garotos da base se firmaram no profissional como William, Geferson, Dourado e Valdívia, por exemplo. Na Libertadores, o time era forte. Mesclava juventude com experiência.  Esses atletas mais novos tiveram sua afirmação no profissional e sua valorização. Sobre a queda de rendimento, infelizmente o time como um todo acabou caindo de produção.

Sobre o rebaixamento do Inter, fico muito chateado em ver um clube onde trabalhei por muito tempo indo para a segunda divisão.Não sei exatamente os motivos que levaram o Inter à Série B, pois já não trabalhava mais lá. É duro, mas foi um ano triste para a história do Internacional.

5)Ainda tem contato com alguns jogadores da base do Inter, como Dourado e Valdívia, por exemplo? Se sim, chegou a conversar com eles sobre o rebaixamento? O que um técnico fala para um jogador quando este participa de um rebaixamento? Principalmente se tratando de um time grande como o Inter?
O contato que tenho com eles é mais pela internet. Por redes sociais. Sobre o que falar é um pouco difícil, pois eu não estava mais no clube. Logo eu não sei detalhes do que houve com o rebaixamento. Agora como alguém que está de fora, mas os conhece das categorias de base eu diria para eles reverem os erros do rebaixamento e que ficassem no Inter para devolvê-lo à Série A do Brasileiro. Infelizmente, o rebaixamento é uma marca negativa na carreira dos jogadores e o melhor jeito de amenizar é subindo com o Inter para a Série A.

6)Falando sobre o Valdívia,o meia vivia um ótimo momento em 2015 . Era um dos principais jogadores do elenco e ídolo da torcida. No fim de 2015 sofreu uma lesão grave em um dos joelhos e ficou 8 meses afastado do futebol. Até então não voltou a ter a mesma sequência boa de jogos que tinha. O quão a lesão dificulta a volta de um jogador a atuar em alto nível?
 Ele sofreu uma lesão grave no joelho. Estava no auge da carreira quando se lesionou. Certamente se não tivesse tido esse problema seria convocado para disputar a Olimpíada pela Seleção Brasileira.Todo jogador que está no auge e se lesiona, quando se recupera dificilmente volta a atuar em grande nível em pouco tempo . A vantagem dele, se é que tem vantagem em lesão (risos), é que é um jogador jovem (nascido em 1994), se recupera mais rápido e tem tempo para resgatar a confiança, pois no início todos ficam ressabiados. Creio que se não tivesse tido essa lesão, o Inter não seria rebaixado no Brasileiro.

7) Falando sobre categorias de base,há muitos jogadores que se destacam no infantil, juvenil, juniores e não vingam como profissionais. O que leva alguns atletas tidos como promessas da base de um clube a não conseguir ser profissional? Um treinador consegue identificar se um jogador tem potencial só na base e não no profissional?
São vários fatores que interrompem um jogador de chegar ao profissional. As vezes é lançar no profissional antes do tempo. Antes de estar pronto. Um exemplo foi o volante Rodrigo Dourado que fez sua estreia no profissional em 2012 em uma partida contra o Sport/PE. Dourado não foi bem e seguraram mais um pouco. Precisava de um tempo maior para atuar no time de cima. Como treinador de base temos que ter cuidado e saber o momento certo de lançar o jogador. Outro exemplo foi ano passado com o atacante Bruno Baio que estreou contra o Fluminense no Maracanã. Também não foi bem. Já o meia Fred fez sua no Inter contra o Atlético/GO no Beira-Rio. Foi o ano que o clube goiano foi rebaixado no Brasileirão e foi uma estreia mais fácil para o Fred (atualmente no Shaktar Donetsk-UCR).

Essa identificação, de saber o momento certo, não é muito fácil.  Conseguimos ter alguns sinais, como personalidade e conhecimentos técnicos e táticos que o jogador tem. Amadurecimento do entendimento de um jogo. Tem que ver a estrutura familiar do garoto. Como o empresário gere a carreira dele.

Em geral,a maioria dos jogadores que chegam aos juniores de um time grande tem totais condições de virarem profissionais. Estando nos juniores de um clube grande, dificilmente não se torna profissional. Eles estão bem assessorados e bem monitorados para virarem profissionais.

8)Como já mencionado nesta entrevista, sua trajetória começou em 2001.O que acha que mudou no trabalho de categoria de base de lá para 2017?
Hoje o futebol é mais estudado. Há inúmeros detalhes e uma integração maior entre diversas áreas como psicologia, nutrição e fisioterapia, por exemplo.

Atualmente no futebol rola muito mais dinheiro.Jogadores da base com altos salários. Com certeza os jogadores estão mais focados e dedicados na afirmação de suas carreiras.

Em sua passagem pelo Criciúma.Créditos: Fernando Ribeiro/Site oficial do E.C.Criciúma


9)Sobre sua carreira, em 2015 teve uma curta passagem pelo profissional do Caçadorense e em 2016 treinou o time sub-20 do Tubarão/SC e na sequência foi auxiliar-técnico do Marcelo Mabília do Criciúma na Série B do Brasileiro. Como foram essas experiências?

Em 2016, Mabília foi contratado para dirigir o Tubarão na Série B do Catarinense e me indicou para trabalhar no time sub-20.

Quem administra o Tubarão é a empresa K2 Soccer. É um projeto inovador e interessante.Tem tudo para dar certo.

Foi muito bom trabalhar lá. Recebia o salário em dia e tinha total liberdade para treinar a minha equipe.

Já no Criciúma, o Paulo Pelaipe me levou para ser auxiliar do técnico Roberto Cavalo.Cheguei no segundo turno da Série B do Brasileiro . Foi a minha primeira experiência como profissional. Ajudou bastante na minha carreira. Era uma realidade diferente das categorias de base. É uma preparação diferente de jogo e de treinamentos. Vou levar essa experiência para o resto da minha vida no profissional.

Por fim, em dezembro passado ainda voltei ao Tubarão e fui auxiliar de Marcelo Mabília na Série B do Catarinense. Nos desligamos do clube em fevereiro deste ano.

10) Detalhe mais sobre essas diferenças da rotina entre treinar um time de base e um profissional.
No profissional você lida com atletas já formados, alguns parando e que não querem mais aprender. É necessário ter habilidade para saber lidar com essa realidade que existe no profissional.

Nos jogos, muitas situações que ocorrem os jogadores já vivenciaram. Muitas situações não são novidades para eles. Diferente da base onde muitos vivem suas experiências pela primeira vez.

11) Em 2016 alguns clubes brasileiros quebraram o círculo vicioso de técnicos e apostaram em jovens treinadores como o Flamengo com Zé Ricardo e o Botafogo com Jair Ventura. Ambos foram bem, conseguindo classificação para a Libertadores e mostrando um futebol ofensivo. Nesta temporada, o Corinthians efetivou Fábio Carille. Isso dá esperança para que você consiga seu espaço furando esse círculo vicioso?
Torço muito para que esses treinadores tenham sucesso,pois vieram da base como eu. Com esses técnicos tendo bons resultados, se abrirão portas para uma nova geração de treinadores.

12)Trabalhou muito tempo no futebol gaúcho e desde de 2015 tem experiência no futebol catarinense. Como vê o futebol desses dois estados?
Acho que o Campeonato Catarinense está mais equilibrado, com pelo menos cinco equipes lutando pelo título.Equipes menores com uma estrutura boa de trabalho e melhor que as equipes pequenas do Rio Grande do Sul. Diria hoje que o futebol catarinense está um pouco a frente do futebol gaúcho.

13)Por fim, o que planeja para a sua carreira em 2017?
Quero seguir como auxiliar-técnico de um time profissional ou ser de fato o treinador. Estou me preparando muito para o momento de ser treinador de uma equipe profissional.



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