segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Especial! Conheça o técnico Mano Polking: brasileiro que há 8 anos trabalha na Tailândia

A Tailândia segue sendo um país periférico no mundo do futebol. Entretanto, nos últimos anos, houve um grande investimento na modalidade, tanto no feminino quanto no masculino.  Isso fez com que a nação do sudeste asiático se tornasse o destino de muitos brasileiros. Dentre esses, quem vem fazendo história é o técnico Mano Polking. Desde 2012, o gaúcho de Montenegro/RS trabalha no futebol tailandês e desde 2014 está a frente do Bangkok United. Sob o comando de 3 equipes locais, Polking, já participou de 230 jogos pela Thai 1 League. 

Gaúcho está no Bangkok United desde 2014
Gaúcho está no Bangkok United desde 2014


No entanto, a trajetória de Alexandre Polking passou por quatro continentes. Como todo guri, inicialmente a tentativa foi dentro das quatro linhas.  O meia-esquerda iniciou a carreira em sua cidade natal, até que aos 18 anos, através de José Asmuz (ex´presidente do Inter/RS), fez teste no Benfica de Portugal. Passou seis meses atuando no time B e depois retornou ao Rio Grande do Sul, onde defendeu o Ypiranga de Erechim/RS e posteriormente o Taquari/RS (este na segunda divisão estadual). Sem sucesso no Brasil,  Mano Polking foi tentar a sorte na Alemanha, e atuou em clubes como  Armínia Bielefeld e Darmstadt 98.

"Eu sempre tive passaporte alemão, pois meu avô era oriundo da Alemanha, logo, através de parentes envolvidos com o futebol acabei conseguindo testes e joguei em clubes tradicionais como Armínia Bielefeld (2002/03 atuando na terceira divisão) e Darmstadt (2004-atuando na segunda divisão). Lá eles gostam muito de jogador brasileiro e isso ajudou na época. Mesmo não sendo times que estavam na primeira divisão, o salário era bom e oferecia uma boa condição de vida", relembrou o treinador de 44 anos em entrevista exclusiva a este blog.

Mano em sua passagem pelo Darmstadt 98 da Alemanha.Imagem: arquivo pessoal/Polking

Em 2004, Polking recebeu uma proposta do Chipre e lá viveria as suas melhores temporadas como atleta. Defendeu o Olympiacos Nicosia entre 2004/06 e 07/08 e o APOEL durante 2006/07.

"No Chipre foi onde vivi meu melhor momento como jogador. No APOEL disputei a repescagem da Liga dos Campeões da Europa e quase fomos à fase de grupos. Fomos eliminados pelo Trabzonspor-TUR. Entretanto, pude sentir a atmosfera de um jogo grande, entre times de 2 países e com estádios cheios. Já pelo Olympiacos, atuei ainda ao lado de Paulo Rink, que acabou se tornando um grande amigo meu", relembrou.

Ao término da temporada 2008, Polking pendurou as chuteiras e recebeu o convite de Winfried Schafer para ser auxiliar-técnico do Al-Ain dos Emirados Árabes Unidos.

"Eu e o Schafer já nos conhecíamos, pois, tínhamos o mesmos agente. O convite foi aceito também, pois, o Al-Ain na época, tinha mandado o Tite embora e o staff seguiria com alguns brasileiros, o que ajudaria na comunicação. Fiquei 2 anos e ganhamos 2 Copas e 1 Recopa. Por lá trabalhei com o Emerson Sheik e o Valdívia, dois craques em campo e com muita personalidade. Embora, seja difícil lidar em algumas situações com atletas assim, o futebol não se faz apenas com jogadores bonzinhos e exemplares.Precisa-se dos malucos geniais. Dá um pouco de trabalho, mas é o preço que se paga (risos)" , emendou.
Polking e  Winfried Schafer. Parceria que passou por 3 países.


Na temporada 2010/11 seguiu como auxiliar de Schafer, mas no FC Baku no Azerbaijão.  Entretanto, viver na nação do leste europeu não foi uma experiência agradável para Mano, por conta do inverno rigoroso e da frieza das pessoas.

"O Azerbaijão investe muito no futebol e querem serem presença constante na Champions League. Entretanto, embora tivesse uma boa estrutura no FC Baku, as pessoas pareciam sempre estar de 'cara amarrada', e lá faz muito frio", revelou.

Em 2011, o brasileiro recebeu o convite de Ernst Middendorp , para ser auxiliar do Golden Warriors, de Durban, na África do Sul, onde permaneceu durante uma temporada.

Em 2012 voltou a trabalhar com Schafer, mas na Seleção da Tailândia e foi auxiliar da principal e posteriormente comandante da sub-23. Até que em 2013 veio o convite para ser treinador do Army United, um modesto clube tailandês. Pela Thai 1, a equipe Verde ficou em sexto lugar, obtendo sua melhor colocação na história.  Em 2014, o brasileiro assumiu o comando do Suphanburi, onde saiu após 14 jogos, por conta de desentendimento com o presidente da equipe. Na ocasião, o clube estava na quinta posição do campeonato nacional.

"A boa campanha no Army United foi o que me fixou como técnico no mercado do futebol. Na temporada seguinte fui para o Suphanburi, mas mesmo com uma campanha boa, o presidente queria intervir no meu trabalho e eu não achei justo. Pedi demissão e em seguida fui para o Bangkok United, onde permaneço até o momento", emendou.

"O Bangkok United é um clube com pouca torcida, mas que na época havia sido adquirido por uma família rica da Tailândia. Quando assumi, o clube lutava contra o rebaixamento e conseguimos a permanência e desde então, há uma grande evolução e hoje estamos entre as principais equipes da nação", continuou.
Mano Polking sendo premiado na Tailândia. Imagem: arquivo pessoal/Polking


Por duas vezes, o Bangkok United foi vice-campeão nacional (2016 e 18) e 1 vez na Copa da Tailândia (2017). Por duas vezes, os Bangkok Angels disputaram a repescagem da Liga dos Campeões da Ásia. Em 2016, Mano Polking foi eleito o treinador do ano na Tailândia. 2016 também foi o ano que o campeonato não acabou, pois, houve a morte do Rei Rama IX e por conta do luto, todas as atividades no País foram suspensas. Logo, as três últimas rodadas foram canceladas.

" Para nós brasileiros é estranho pensar que tudo para por conta do falecimento de um rei. Mas vivendo na Tailândia se percebe essa adoração e compreende o luto deles", explicou.

Em 2020, houve 4 rodadas da Thai 1, e o BUFC liderava a competição, ao lado do Ratchaburi Mitr Phol, com 12 pontos. Entretanto, a competição foi suspensa devido ao surto da COVID-19. Os jogos retornarão apenas no dia 12 de setembro. 

"Temos como meta conquistar o título. É o que falta para coroar o nosso bom trabalho. Batemos duas vezes na trave. Penso que uma hora a sorte estará ao nosso favor. Sei também que sou um treinador 'muito faceiro' e tenho procurado ter uma solidez defensiva maior. Sou adepto de sempre ter a bola e com isso, o adversário fica sem objetivo. Criar espaços e chances de gol é o caminho mais fácil para conseguir a vitória. Claro que um trabalho a longo prazo, como o nosso, ajuda na construção de ideia de jogo", falou Polking.

Os técnicos brasileiros não estão nos principais clubes europeus e as críticas em relação aos seus trabalhos vem aumentando depois da derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha por 7x1 na Copa do Mundo de 2014 e por conta do ótimo trabalho de Jorge Jesus realizado no Flamengo em 2019. O comandante gaúcho acredita que para os treinadores brasileiros falta estudar mais o que vem acontecendo no mundo do futebol.

"Eu sou muito crítico em relação aos técnicos brasileiros e não é coincidência que não haja nenhum brasileiro comandando os principais clubes europeus. Penso que devemos estudar mais e abrir um pouco mais a mente para aceitar que precisamos sempre seguir aprendendo. É claro, que há exceções, mas no geral, penso que podemos ser melhores", opinou.

O contrato do sul-americano com a equipe asiática vai até o final de 2021. Mano pensa em retornar ao Brasil, mas não neste momento. O projeto para voltar ao país de origem seria a longo prazo.

" Para o Brasil só volto quando eu estiver feito a independência financeira. No Brasil, ainda se atrasa muito salário e trabalhar em um ambiente assim não é bom. Aqui na Tailândia em 8 anos, nunca atrasaram um mês sequer. Além disso, há uma demissão muito constante dos técnicos em clubes brasileiros, que é difícil ver em outros países,e isso pesa na hora de voltar ao Brasil", continuou.

Polking trabalhou na Seleção da Tailândia, tanto a principal como a sub-23, e vem acompanhando o desenvolvimento do esporte no país. A equipe masculina tailandesa ainda não disputou uma Copa do Mundo e embora haja uma concorrência forte, o gaúcho acredita que poderemos vê-los debutar no principal torneio de seleções.

"Em 2026 serão 48 participantes. Haverá um aumento de vagas para cada continente e com esse aumento, acredito sim que poderemos ver a Tailândia em uma Copa do Mundo", finalizou.












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