segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Exclusivo! Ex-volante Paulo Vitor projeta carreira fora do campo

Prólogo: Conheci Paulo Vitor no início de 2014, através do meu irmão que é amigo dele. Naquela época eu ainda era colunista do São Carlos Agora e sempre que podia entrevistava jogadores da cidade para falar sobre suas carreiras no mundo da bola.

Mostrar a vida deles fora de São Carlos e contar as histórias que passaram em outros estados e países, por causa do sonho de se tornarem jogadores de futebol.

Naquela ocasião, Paulo Vitor estava saindo do CRB e acertando com o Sertãozinho para a disputa da Série A-3 do Campeonato Paulista. Dei com exclusividade a transferência do meio-campista.

Infelizmente, as minhas postagens antigas no SCA foram apagadas, pois mudou a plataforma do site e eu não tinha todos os materiais salvos.

Essa matéria era uma delas. Passaram-se três anos e me encontrei novamente com Paulo Vitor. Agora aposentado, ele relembrou a carreira, sua vida no futebol entre 2015/17 e o motivo que o fez, aos 27 anos, desistir das 4 linhas e partir para os bastidores.

Confira:

Um dos grandes clubes de categorias de base que havia no Brasil no início dos anos 2000 era o Pão de Açúcar. O time era do mesmo dono da rede de supermercados.  O clube fazia peneiras pelo Brasil todo e em uma delas em São Carlos/SP, Paulo Vitor se inscreveu e foi aprovado. Aos 14 anos deixou sua cidade natal e foi morar em São Paulo/SP em busca do sonho de ser jogador profissional.

Pelo PAEC atuou duas temporadas e na sequência se transferiu para o Desportivo Brasil. Sua posição inicial era centroavante. Em 2008, através de um jogo inusitado, Paulo Vitor Landin dos Santos se tornou volante.

"Era um amisto contra o sub-20 do Corinthians. Foi uma partida tensa e houve muita briga entre os jogadores. Um meia nosso foi expulso e o Pita (técnico) pediu para eu recuar e ser o meia. Pouco depois, um volante nosso foi expulso e eu tive que recuar mais um pouco. Teve um momento do jogo que eu dominei a bola no meio-campo parti sozinho, toquei a bola, recebi de volta, fui até a área adversária e fiz o gol. Depois do jogo, o Pita chegou para mim e disse que eu teria que me tornar volante. Falei que não achava uma boa ideia, pois eu não sabia marcar. Ele discordou e falou que eu sabia sim. Disse que ele tomou a mesma atitude com o Júlio Baptista, que era centroavante e virou volante. Vi que era um bom exemplo e aceitei o desafio", disse o ex-meio-campista em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

O volante era um dos destaques da base do Desportivo Brasil, tanto que atuou pela Taça SP de Juniores de 2008, com o time sub-20, tendo 17 anos e foi titular. Depois assinou seu primeiro contrato profissional pela equipe que era comandada pela TRAFFIC.
Paulo Vitor em ação contra o Juventus/Crédito:Divulgação 


Também em 2009, após boa atuação na Taca BH, recebeu uma proposta do Cruzeiro. Um contrato de 6 meses e se aprovado, seria contratado. No entanto, o Desportivo Brasil e os empresários do jogador não aceitaram essa condição. Queriam a venda em definitivo. O acordo não foi feito e em fevereiro, Paulo Vitor foi se aventurar no Bolívar-BOL.

"Eu queria ter ido para o Cruzeiro e o clube e os meus empresários não me liberaram. Fiquei bem chateado. Depois, me mandaram para o Bolívar, uma equipe que o Desportivo Brasil tinha parceria. O que me motivou a trocar de país era que o Bolívar iria disputar a Libertadores. No entanto, eu não me adaptei a Bolívia. Os treinos eram todos na altitude. Terminava os treinos muito cansado e desgastado. Não rendia o esperado. Além disso, a estrutura do clube era muito simples. Era igual de um time de Série A-3 do Paulista. Não quis ficar e voltei", contou o são-carlense.

Ainda em 2010, 'queimado'com o clube, Landin conheceu o empresário Neto Genovez e desfez o acordo com o time de Porto Feliz/SP.

Em 2011, o meio-campista foi defender a Francana na Série A-3 do Paulista. Foi titular e seu destaque chamou a atenção do técnico Guto Ferreira que pediu sua contratação junto ao Mogi Mirim.
Após boa temporada pela Francana, Paulo Vitor foi para o Mogi Mirim/Créditos: Youtube


Pelo Sapão foi titular e campeão paulista do interior de 2012. Na classificação geral, aequipe Vermelha e Branca ficou em sexto lugar.

"Aquele foi o meu melhor momento como jogador. O Guto Ferreira foi o melhor técnico que trabalhei. Naquele time, tinham bons jogadores como Hernane Brocador, Baraka, Renê Jr., dentre outros", relembrou o atleta nascido no dia 25/04/1990.

Após a boa campanha no Paulista, P.V. se transferiu para o Anápolis para disputar a Segunda Divisão do Campeonato Goiano. Foi campeão.

"O Anápolis era dirigido pela família do Carlinhos Cachoeira, logo eles fizeram um alto investimento para a disputa da Segunda Divisão.Eu fui pela questão financeira. Pagavam bem e em dia. Era nítido que o nosso time era muito melhor que os adversários. Ganhamos a competição com sobra. Nosso time tinha condições de disputar uma Série B de Brasileiro", relembrou o futebolista.

Em 2013, o paulista foi se aventurar pelo Nordeste. Mais precisamente no CRB. Disputou a Copa Nordeste, o Estadual, a Copa do Brasil e a Série C do Brasileiro. Destaque para o Campeonato Alagoano, onde os regatianos foram campeões.

"2013 era o ano que o CSA, maior rival do CRB, estava completando 100 anos de fundação.A nossa meta era impedir a festa deles. Enfrentamos eles na final e fomos campeões!! Ficamos na história por ter estragado a festa deles. Foi muito legal atuar em Alagoas, pois o CRB e o CSA são dois times de massa com torcidas apaixonadas. É muito legal jogar esse clássico", relembrou, para depois lamentar os rincões de pobreza que presenciou em Alagoas.

"O que me deixava triste era ver aquela seca e pobreza que conhecia da TV, de repente estava próxima a mim. Lembro que fomos jogar no interior e vi um boi morto na estrada por conta da seca. Atuei em estádios precários, que na várzea de São Carlos são melhores. Em um duelo contra o CEO, em Olho d'Água das Flores, o jogo iniciou as 16h e quase não terminou, por causa da falta de refletores. Tivemos que jogar no escuro mesmo",emendou.

Após o término da Série C, onde o CRB foi eliminado na primeira fase, Paulo Vitor foi atuar no Goianésia , na Série D do Brasileiro, a convite do treinador Wladimir Araújo que trabalhou com ele no Anápolis.

"Fui para o Goianésia, pois o técnico me convidou. Fomos eliminados na segunda fase. Era um time com uma estrutura bem simples (bem diferente do Anápolis). Me pagaram apenas um mês de salário e nada mais", contou.

Em 2014, se transferiu para o Sertãozinho para a disputa da Série A-3 do Campeonato Paulista. O Touro dos Canaviais chegou até a segunda fase da competição, mas não conseguiu o acesso.

No segundo semestre, Paulo Vitor ficou sem atuar. Chegou a receber ofertas de alguns clubes, mas não fechou contrato.

"Quando sai do Sertãozinho, eu quis dar um tempo na carreira. Refletir sobre várias situações da vida.Não sabia se queria seguir atuando.Tive propostas de times como Volta Redonda, mas inicialmente recusei. Depois, entrei em contato para acertar, mas o meu empresário disse que já era tarde demais e eles não queriam mais saber de mim. Acabei ficando o semestre todo sem atuar. O que não foi fácil", relembrou.

Para 2015, Landin seguiu no futebol de São Paulo e defendeu o Votuporanguense novamente na Série A-3. Foi vice-campeão com o acesso garantido.

"O Votuporanguense é um clube bem estruturado e há altos investimentos. O legal é que a cidade apoia o time. Os nossos jogos tinha uma média de 3 mil, 4 mil pessoas. Altíssimo para um jogo de Série A-3", contou o meio-campista que depois lembrou da derrota na decisão para o Taubaté.

"Fizemos 3 a 0 no jogo de ida em casa e estávamos praticamente com o título na mão. No entanto, no jogo da volta, não fomos bem e perdemos por 4 a 0. Escapou por pouco aquele título", lamentou.

Em 2016 foi a vez de defender o São Carlos, clube de sua cidade natal. Pela Águia da Central, Paulo Vitor lembrou três episódios: O quase acesso, uma tentativa de suborno e pela primeira vez aposentar dos gramados.
Atuando pelo clube de sua cidade natal/Créditos: site oficial do São Carlos F.C.


"No São Carlos eu fui treinado pelo Rafael Guanaes. Um estudioso do futebol. Um cara que entende muito do jogo. Com ele, eu troquei muitas ideias sobre futebol, outras funções que podem atuar fora do campo e me abriu a mente para tentar algo fora das quatro linhas", contou.

"Quis ir para o São Carlos, pois era o time da minha cidade e estava retornando após 12 anos morando fora. Foi muito legal atuar no clube, apesar de até hoje me deverem salários", emendou.

Os carlopolitanos foram para a segunda fase, onde as 8 equipes foram divididas em dois grupos de 4. Apenas o campeão de cada chave garantiria o acesso.

O São Carlos teve como rivais, Catanduvense, Atibaia e Rio Preto. Nos quatro primeiros jogos fez 10 pontos. Na penúltima rodada iria enfrentar em casa o Atibaia e precisava de um simples triunfo para garantir o acesso. Para facilitar a vida do São Carlos, houve uma tentativa de suborno.Negado pelo elenco da Águia da Central.

"Dias antes do jogo, uma pessoa entrou em contato com a gente dizendo ser jogador do Atibaia. Ele pediu dinheiro para nós e em troca  o time perderia de propósito para o São Carlos. Nós precisávamos apenas de uma vitória para garantir o acesso. No entanto, nós negamos o suborno, pois chegamos até onde tínhamos chegado com mérito próprio e não é da nossa índole fazer esse tipo de acordo.Nem fomos atrás depois para saber se a pessoa que se dizia ser jogador do Atibaia era de fato. Deixamos de lado.Infelizmente acabamos perdendo por 1 a 0", revelou Paulo Vitor.

Na rodada final, o embate seria contra o Rio Preto, fora de casa. As duas equipes tinham 10 pontos e quem ganhasse subia de divisão. A equipe Verde e Preta venceu por 3 a 1 e se garantiu na A-2.

"Nos outros anos, os dois primeiros de cada grupo subiam. Se fosse isso, nós teríamos garantido o acesso.Uma pena não ter conseguido", lamentou.

Em 2017 defendeu o Penapolense na Série A-2 do Paulista e após o término da competição decidiu pendurar as chuteiras.

"Como já tinha dito, era uma ideia que eu já estava pensando há um bom tempo. Resolvi que era hora de parar. A gente ainda fica na esperança que um dia pode ir para um clube maior, jogar um campeonato maior, mas com o tempo passando isso fica mais difícil", explicou, para dizer que apesar de alguns deslizes se sente realizado com a sua carreira.

"Sou feliz com a minha carreira. Joguei em estádios grandes, enfrentei clubes tradicionais do Brasil, fiz amigos e conheço jogadores que passaram pela Seleção Brasileira. O que eu teria feito diferente era ter me cuidado mais como atleta. Eu era jovem e não ouvia os mais velhos.Eu, como a maioria dos jogadores, venho de uma família pobre. No entanto, meu pai era professor e minha mãe cabeleireira. Logo,sempre fui incentivado a estudar. Então, por ter estuado achava que sabia tudo. Acreditava que se tivesse um jogo no sábado, eu poderia sair na quinta-feira a noite que não teria problemas. Um dos que me aconselhava era o Guto Ferreira. Ele me dizia que teria que cuidar mais do corpo. Mas não dava ouvidos. No Mogi Mirim eu era titular e meus reservas eram Baraka e Renê Jr., por exemplo. Os dois hoje tiveram a chance de irem para clubes maiores", afirmou o agora ex-atleta.

"Outro ponto que gostaria de ressaltar é que a geração de hoje se ilude muito com o glamour que a mídia e as redes sociais mostram.Hoje muitos meninos querem ser o Neymar. Não necessariamente o jogador,mas querem a fama dele. Se iludem com o sucesso dele. Não entendem o quão difícil é chegar lá. Na minha época, eu queria ser jogador de futebol mesmo. Gosto de jogar futebol. Tinha como inspiração o Marcelinho Carioca e queria ser um atleta igual ele nos campos. Eu vejo algumas crianças e percebo que falta isso neles. Gostarem mais do jogo de futebol", emendou o ex-futebolista que um iniciou um trabalho de gerenciamento e captação de novos atletas para a NG Soccer. Empresa que o agenciava como futebolista.

Por fim, Paulo Vitor ainda comentou sobre a atual situação do futebol brasileiro e que é necessário ser menos conservador e estudar mais o que acontece em campo nos quatro cantos do planeta.

"O brasileiro precisa ser menos conservador no futebol. O conservadorismo faz você não crescer no esporte. Ser saudosista sim, mas não se atrelar ao passado. Não é porque um método deu certo há 20, 30 anos que seguirá dando. O futebol mudou muito nos últimos anos. O futebol brasileiro não acompanhou essa mudança. Os clubes precisam ser mais profissionais em suas gestões. Colocar profissionais que saibam lidar com finanças,publicidade, administração e etc.Serem mais profissionais e menos amadores. Dentro de campo, os treinadores entenderem também como se o joga o futebol atual.Estudar mais. Poucos fazem isso. Tite é um exemplo de modernidade. Mais recentemente Fábio Carille no Corinthians e Jair Ventura no Botafogo. Priorizam um futebol mais coletivo e menos individualista. Não é fácil fazer essas mudanças, poderá levar anos, mas esse é o caminho", finalizou.




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