Após ver essa notícia, o Arquivos e Histórias F.C entrou em contato com o ex-futebolista para saber mais detalhes sobre a decisão de se retirar dos gramados.
Gatti recebendo prêmio de melhor goleiro do Carioca de 2007/Arquivo pessoal-Gatti |
Nesta matéria, Rafael Savério Gatti também relembrou seus 17 anos como profissional e falou que sua próxima meta é ser gestor esportivo. Seu início deverá ser em 2018 no Votuporanguense/SP, sua última equipe como atleta.
Confira:
Desde pequeno Gatti quis ser jogador de futebol. Sempre teve o sonho de atuar como goleiro. Sua referência era Zetti, bicampeão da Libertadores e do Mundo com o São Paulo e que integrou o elenco do Brasil no tetracampeonato da Copa do Mundo de 1994.
Os primeiros passos foram dados na escolinha Gol de Placa, em São Carlos/SP, sua cidade natal. O dono do local era Guilherme Dalla Déa, atual técnico da Seleção Brasileira sub-17. Em 2000 fez teste no Rio Branco/SP e foi aprovado. Pela equipe de Americana/SP, disputou a Taça São Paulo de Juniores 2003, chamando a atenção do Cruzeiro que o contratou.
"A minha base foi toda no Rio Branco. Em três temporadas, disputei todos os campeonatos possíveis. Paulista, Jogos Regionais, Jogos Abertos do Interior (foi campeão deste campeonato), dentre outros. Em 2003, jogando a Taça São Paulo de Juniores, o Cruzeiro me viu atuando e me contratou. Na equipe mineira vivi um momento marcante na carreira. Finalmente consegui chegar em um grande clube do Brasil", disse o ex-arqueiro em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.
Pela base da Raposa, Gatti foi campeão de um torneio em Terborg na Holanda, e semifinalista em uma competição na Alemanha. Participou de alguns treinos da equipe profissional de 2003 que se sagrou campeã estadual, da Copa do Brasil e do Brasileirão.
Em seu início de carreira no Cruzeiro/Crédito: Gontijo/Estado de Minas |
Entretanto, sua efetivação no time principal veio em 2004 e a estreia aconteceu no Brasileiro de 2005, de uma forma inesperada. Foi na rodada 37 do Brasileirão, após a expulsão do goleiro Arthur contra o Fortaleza. Gatti entrou já tendo que pegar um pênalti.
"O goleiro nunca sabe quando terá a sua oportunidade. Então, ele sempre trabalha forte, pois de repente, pode entrar durante um jogo. Foi assim comigo. Minha estreia foi no Castelão,contra o Fortaleza, após a expulsão do goleiro Arthur. Durante o aquecimento, o técnico PC Gusmão me falou: 'vai lá concentrado, faz o que você vem fazendo nos treinamentos.' Infelizmente não peguei o pênalti e perdemos por 3 a 1", recordou o são-carlense.
A Raposa tinha parceria com a Cabofriense e isso fez com que em 2006 Gatti fosse emprestado para a disputa do Campeonato Carioca. No entanto,o seu grande auge como atleta foi na temporada 2007. Foi vice-campeão do segundo turno , eleito o melhor goleiro e a revelação daquele estadual (ao lado do volante Renato Augusto, ex-Flamengo e atualmente na China).
"Esse Campeonato Carioca me colocou no mapa do futebol brasileiro. O nosso elenco era muito unido, fechado e que acreditava muito no técnico Waldemar Lemos. Nosso capitão era o volante Marcão (ex-Fluminense). Todos tinham o mesmo foco e o mesmo pensamento. Por isso, que demos certo", emendou o camisa 1.
No segundo semestre, retornou para a equipe Celeste e Gatti teve sua chance no Brasileiro, quando Fábio e Lauro estiveram ausentes. A prata-da-casa se deu bem e fez história no clássico mineiro. O embate foi pela sétima jornada.
"Aquele jogo teve várias reviravoltas. O Cruzeiro fez 2 a 0 no primeiro tempo. Na etapa final, o Atlético/MG empatou e teve um pênalti para bater.Defendi e na sequência o Cruzeiro anotou dois gols e ganhamos por 4 a 2. Entrei para a história do Cruzeiro como o primeiro goleiro a defender um pênalti do Atlético/MG em Campeonatos Brasileiros. Lembro que muitos anos depois, encontrava torcedores do Cruzeiro na rua e eles sempre lembravam desse jogo e me parabenizavam pelo feito", contou o atleta, que após aquele clássico foi muito elogiado por Dorival Jr., técnico da equipe celeste.
Em 2008 atuou, novamente por empréstimo, no CFZ/RJ na Série B do Carioca. O que o motivou a atuar no modesto clube do Rio de Janeiro foi o fato de pertencer a Zico e o convite ter sido feito pelo ex-volante Marcão, seu companheiro nos tempos de Cabofriense.
No ano seguinte, defendeu as cores do Juventude na Copa do Brasil e no Campeonato Gaúcho. No Estadual, o Alviverde chegou até as quartas de final do primeiro turno (eliminado pelo Grêmio) e na semifinal do returno, sendo derrotado pelo Inter.
Também atuou nas primeiras rodadas da Série B do Campeonato Brasileiro, mas retornou a Belo Horizonte, pois foi solicitado pelo Cruzeiro.
Ao final daquela temporada, seu vínculo com a equipe mineira se encerrou e Gatti estava livre para negociar com outra agremiação. Seu destino foi a Anapolina/GO, onde também fez história.
"Tive um convite para atuar na Anapolina e resolvi ir. Atuei bem no estadual de 2010 e depois fui para o Brasiliense jogar a Série B do Brasileiro. Retornei a Anapolina em 2011 e no Campeonato Goiano chegamos até a semifinal. Ficamos 11 jogos invictos. Um recorde na história do clube", contou Rafael Savério Gatti.
No segundo semestre de 2011, o goleiro seguiu sua trajetória no Centro-Oeste. Desta vez foi defender o Cuiabá na Série D do Brasileiro. Pela equipe do Mato-Grosso conseguiu o acesso à Série C.
"O acesso foi fantástico. É um clube novo (2002) e vem crescendo ao poucos. Tinha muito investimento em estrutura e centro de treinamento. Foi muito bom ter participado dessa etapa do clube. Acredito que hoje a torcida do Cuiabá aumentou e a médio e longo prazo tenho certeza que irão jogar a Série A do Brasileiro", opinou o ex-boleiro.
Pelo Cuiabá onde conquistou o acesso à Série C. Crédito: site oficial do E.C.Cuiabá |
Em 2012 seguiu no Dourado, disputando o Estadual e a Série C do Brasileiro. Em 2013, retornou ao Rio de Janeiro, desta vez para defender o Volta Redonda. Pelo clube fluminense ficou até 2014, onde também fez história e quebrou recordes.
"Fui para o Volta Redonda através de convite de amigos meus que estavam lá. No Carioca chegamos até a semifinal (eliminado pelo Fluminense) e segui para a disputa da Copa Rio, onde quebrei dois recordes. O clube ficou 11 jogos invictos (recorde na história deles) e eu fiquei mais de 900 minutos sem levar gols. Isso nunca tinha acontecido na minha carreira", recordou o ex-goleiro que tem 1,87 de altura.
Em 2014 seguiu no Voltaço e no segundo semestre retornou ao Cuiabá para a disputa da Série C. No ano seguinte se transferiu para o Mirassol para jogar a Série A-2 do Campeonato Paulista. Quase fez história no Leão da Araraquarense.
"Sempre quis atuar profissionalmente no futebol paulista. O Mirassol me deu essa oportunidade. Um clube muito bem estruturado e com pessoas honestas trabalhando. Na Série A-2 daquele ano, os 20 times jogavam entre si em turno único e os 4 melhores subiam para a elite. O Mirassol ficou em quinto lugar com 35 pontos. A mesma pontuação do Água Santa. No entanto, não subimos, pelo saldo de gols (15 a 7)", relembrou Gatti, que iniciou aquela competição na reserva e no decorrer virou titular.
No segundo semestre daquela temporada ficou sem atuar e voltou aos gramados apenas em 2016 pelo Guarani. Pelo Bugre disputou novamente a Série A-2 do Paulista, ficando na nona colocação.
"Jogar no Guarani foi sensacional.É um clube que se percebe que é grande. É campeão brasileiro e tem uma torcida grande. Passa por dificuldades, mas foi bacana atuar lá", opinou.
No segundo semestre defendeu o Votuporanguense na Copa Paulista, onde foi semifinalista, sendo eliminado pelo campeão XV de Piracicaba.
Seguiu na Pantera Alviengra em 2017 e após o término da Série A-2, recebeu um convite para ser gestor do clube na próxima temporada. Após alguns meses, o arqueiro decidiu 'pendurar as chuteiras'e tentar a vida de dirigente de futebol.
"Eu acredito que poderia jogar mais uns 2 ou 3 anos. No entanto, a minha realidade é diferente de outras temporadas. Eu já não vinha atuando mais em clubes grandes e em campeonatos de maiores níveis. Para retornar para um time grande, sei que é muito difícil, até pela minha idade. A tendência é jogar em times menores e eu sei o desgaste e o estresse que é atuar em um clube pequeno. Paralelo a isso, eu já vinha conversando com o presidente do Votuporanguense sobre a minha vontade de me tornar dirigente um dia. Já fiz curso de gestão na Universidade do Futebol e tenho um curso de administração.Ainda pretendo me especializar mais, fazer o curso de gestor de futebol da CBF e quem sabe daqui 3 ou 4 anos me tornar um grande dirigente. No entanto, o presidente do Votuporanguense (Marcelo Stringari) me fez o convite para trabalhar com eles. Disse que seria bom para o clube ter um gestor com experiência como jogador de futebol. Que entendesse das quatro linhas. Eu aceitei. O Votuporanguense é um clube-empresa bem estruturado e que tem um projeto ambicioso. As pessoas que trabalharam lá são sérias e por isso aceitei", revelou Gatti.
Pelo Votuporanguense, sua última equipe. Crédito: Reprodução/Facebook |
O futuro gestor se diz feliz com a sua carreira nos campos, mas acredita que faltou uma chance de atuar no exterior.
"Sou muito feliz com a minha carreira de futebol. Foi um sonho de criança realizado. Joguei em vários clubes, onde fiz histórias. Faltou uma experiência no exterior, quem sabe como dirigente não surja algo?", contou.
Gatti tem residência fixa em Belo Horizonte/MG. O ex-arqueiro afirma que até hoje torcedores do Cruzeiro o enaltecem por ter atuado no time, principalmente pelas redes sociais.
"Depois que sai do clube, muitos torcedores me reconheciam na rua e vinham falar comigo. Principalmente sobre o clássico de 2007. Mas os anos passam, outros jogadores aparecem no clube e isso tem diminuído. Poucos me param na rua hoje. Já nas redes sociais é mais comum vir torcedores mandarem mensagem, o que é gratificante", emendou.
Nesta temporada, o Cruzeiro faturou a Copa do Brasil. A quinta de sua história e teve como herói o goleiro Fábio, ao defender a cobrança de Diego na disputa de pênaltis diante do Flamengo.
"A conquista da Copa do Brasil foi merecedora. O Cruzeiro jogou de forma consistente toda a Copa do Brasil e mereceu. O Fábio é um dos melhores goleiros que eu já trabalhei e vi jogar. Um cara que trabalha duro e se dedica ao máximo nos treinos. Mostrou toda a sua grandeza no Cruzeiro.Ele tem uma reação de velocidade, de baixo das traves, que poucos tem. Ele está entre os três melhores goleiros do Brasil atualmente. Não entendo o motivo de nunca ter tido sequência na Seleção Brasileira", continuou.
Sobre o momento atual do futebol brasileiro (pós 7 a 1), Gatti afirma que a lição que ficou e que muitos tem corrido atrás é estudar e ter planejamento.
" O futebol brasileiro viu que tem que ter estrutura para ter resultados. Tem que estudar, planejar, ter estrutura, se atualizar e isso os europeus vem nos mostrando faz alguns anos. Por isso, hoje eles estão na nossa frente no futebol. Tem que ter gestão de pessoas. Conhecer melhor o ser humano e não somente o jogador de futebol. Entender os problemas pessoais que um jogador passa, pois isso interfere em seu rendimento no campo. Isso que precisa mudar no Brasil e um exemplo de quem se prepara é o técnico Tite", opinou.
"Falo isso também para os jogadores. Para os que estão começando a carreira.Vão atrás dos seus sonhos, mas estudem. Se preparem mentalmente, fisicamente, tecnicamente e taticamente. Para dar entrevistas também. Saber como dar uma entrevista. Tudo isso faz um atleta chegar mais longe na carreira", continuou.
Por fim, vivendo desde 2003 em Belo Horizonte, Gatti se diz mais mineiro que paulista.
"Hoje com certeza sou mais mineiro.Até sotaque de mineiro eu já tenho. Solto alguns 'uai'de vez em quando. Tenho um carinho muito grande por Minas Gerais. Sou mineiro de coração. Minha esposa é mineira e ela está grávida do nosso primeiro filho e que será mineiro também. Esse momento aliás é bem especial, pois me tornarei pai. Muito feliz com isso (virá um menino e se chamará Antônio)", finalizou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário