quarta-feira, 28 de junho de 2017

Exclusivo! Meia Felipe:da várzea à Malásia

É comum as pessoas, principalmente as que não acompanham futebol, acreditarem que vida de jogador é puro glamour. Muito dinheiro,contratos milionários e a mídia sempre bajulando.

Esse cenário é a realidade apenas das estrelas do nosso futebol. De acordo com um estudo publicado pela CBF em 2016 mais de 80% dos futebolistas brasileiros ganham até R$ 1 mil mensais e 96% recebem até R$ 5 mil mensais. Quando não há atrasos e até calotes.

O que os segura nessa profissão é a paixão pelo esporte e a esperança que um dia irão vingar nos gramados.

"Aqui na Malásia é a minha última chance de arrebentar no futebol", diz Felipe

Um exemplo do descrito acima é o meia Felipe que nesta temporada foi tentar a sorte na Malásia.

Como muitos brasileiros, o meio-campista sempre gostou de jogar bola e tinha como foco se tornar atleta profissional. Na adolescência jogava na várzea.Aos 18 anos teve a primeira chance em um clube profissional e foi no E.C. São Bernardo.

"Pelo São Bernardo disputei o Campeonato Paulista sub-20 e estava no elenco que iria disputar a Copa São Paulo de Juniores de 2010, mas fui cortado da lista de última hora.Chegaram alguns jogadores contratados pela diretoria e eu e mais um fomos excluídos do plantel.Eu achei estranho, pois haviam pedido meus documentos para assinar contrato profissional e depois me devolveram tudo. O cara que havia me levado para fazer avaliação no São Bernardo tinha sumido. Nunca me deram uma explicação do porque desistiram de mim", afirmou Felipe de Almeida Souza em entrevista exclusiva ao Arquivos e Histórias F.C.

Enquanto estava desempregado, o meio-campista ficou treinando no Mauaense, mas não chegou a entrar em campo. Nesse período, um amigo o indicou para o Grêmio Maringá e o convite foi aceito.

Em 2011, o clube paranaense estava na segunda divisão estadual.Felipe ficou quatro meses e pediu dispensa por conta de atraso de salário.

"Fiquei 4 meses em Maringá.No primeiro mês pagaram metade do que havíamos combinado e depois não pagaram mais. Como tinha que ajudar minha mãe em casa,não aguentei e voltei para o estado de São Paulo", disse o jogador natural de Santo André/SP.

O meia que atua como um '10 clássico' ficou sem clube e para ter sustento financeiro trabalhou de garçom na padaria de sua ex-sogra. Depois de alguns meses surgiu uma proposta do Jabaquara/SP para a disputa da Quarta Divisão de São Paulo que foi prontamente aceita.

"Penso que a maioria das pessoas não largaria um emprego seguro na padaria para se arriscar novamente no futebol. Eu fiz pelo amor ao esporte. Futebol sempre foi a minha diversão.Fui para Santos/SP. Entretanto, poucas vezes fui relacionado para os jogos e entrei em apenas uma ou duas partidas.Fui pouco aproveitado", relembrou o meia que atualmente está com 26 anos.

Depois de atuar na Baixada Santista, o boleiro  retornou para a Grande São Paulo. Para ganhar dinheiro e trabalhar com o que gosta, Felipe voltou a atuar na várzea. Chegava a jogar 4 vezes no final de semana. No entanto, a família pedia para que desistisse do futebol e tentasse a vida em outra área. Trabalhou como atendente de telemarketing, onde ficou pouco tempo.

"Houve um tempo em que trabalhei como atendente de telemarketing. Era meio período por dia. Mas era horrível. Só ouvia bosta de cliente. Não imaginava que o ser humano era tão arrogante.Cada coisa que ouvia que ficava chocado", recordou o meia.

"Já havia muitos problemas em casa, pois minha família era contra eu ser jogador de futebol.Tinha apenas um tio que me apoiava.Meu pai morreu quando eu tinha 9 anos. Em casa, era eu, minha irmã, minha mãe e meu padrasto. Eu brigava muito com esse meu padrasto (que Deus o tenha) e chegou um momento que minha mãe escolheu ele ao invés de mim e eu fui morar com uma ex-namorada. Tudo pelo meu sonho de tentar ser jogador de futebol", contou o andreense.

Atuando na várzea, onde era um dos destaques, Felipe recebeu uma proposta para ir ao Juventus disputar a Série A-3 do Paulista. Porém, o meia ainda tinha vínculo com o Jabaquara e teria que pagar uma taxa para assinar com o Moleque Travesso. Como não houve pagamento, o atleta não pode atuar na Rua Javari em 2013.

"O Juventus queria assinar contrato comigo. Mas eu ainda tinha vínculo com o Jabaquara. Para liberar era necessário pagar uma taxa.Eu não tinha o dinheiro e nem sabia como fazer.Não tinha alguém para me orientar sobre o que fazer. Ninguém pagou a taxa e eu acabei não indo", contou o futebolista.

Felipe seguiu mais uma temporada na várzea. Novamente sendo um dos destaques. Desta vez quem fez a oferta para voltar ao profissional foi o Água Santa. Mais uma vez o contrato não foi assinado e o motivo foi financeiro.

"Fui chamado para jogar no Água Santa. Fiquei mais de um mês fazendo exames pelo clube de Diadema/SP. O Campeonato Paulista da Série A-3 ia começar e nada de me chamarem. Quando me chamaram ofereceram um valor abaixo do que eu recebia na várzea! Achei um absurdo. Ia ganhar mais na várzea do que no profissional. Fizeram isso pelo meu currículo. Pelo pouco tempo que atuei como profissional acharam que eu ia aceitar uma oferta baixa. Analisando atualmente, acho que foi um erro meu não ter aceitado jogar no Água Santa por causa de dinheiro. Foi egoísmo. Pois, minha carreira acabou travada",afirmou o meio-campista.

Após mais um período na várzea, o atleta recebeu a proposta para atuar no União Suzano na Quarta Divisão do Campeonato Paulista de 2015. Por lá ficou sete meses e em nenhum momento houve pagamento de salário. Até hoje a equipe lhe deve os sete meses de serviços prestados.

"O clube não tinha estrutura nenhuma. Era muito desorganizado. Lembro durante a pré-temporada ter visto que o retrovisor do carro do presidente do clube era colado com durex (risos) e pensava:'onde fui meter'? . Ficamos 7 meses e não recebemos literalmente nada. Todo início de mês íamos cobrar a diretoria e a resposta era sempre a mesma :'O investidor não depositou o dinheiro prometido e não temos como pagá-los'. Depois paramos de cobrá-la, pois já sabíamos a resposta. A nossa alimentação era precária, nos virávamos com o que tinha ", explicou o futebolista.

"O nosso grupo era unido e empenhado em fazer uma boa campanha. Na primeira fase ficamos cinco jogos invictos. Estávamos com chances de classificação, mas as dificuldades estruturais e sem receber salários desmotivam qualquer jogador. O ânimo foi acabando e não passamos de fase. Uma pena, pois tínhamos uma  equipe com condições de brigar pelo acesso.Apesar dos problemas, foi no União Suzano que tive uma sequência maior de jogos e onde pude fazer meu DVD", emendou.

Após o término do vínculo com o União Suzano, um amigo de Felipe o indiciou para a diretoria do Oeste/SP. O DVD foi entregue e eles quiseram avaliar o atleta de perto.

"Eu havia feito e editado o DVD. A diretoria do clube de Itápolis/SP achou que o DVD estava muito ruim, mal editado e queria me ver de perto. Gostaram do meu futebol, fui aprovado e assinei contrato com eles", continuou o meia.

Ficou um semestre pela equipe rubro-negra que disputou o Campeonato Paulista de 2016 e foi rebaixada para a Série A-2.

Após o término da competição, o Oeste fez a parceira com o Audax para disputar a Série B do Brasileiro e houve uma reformulação no elenco. Felipe foi um dos dispensados.

Seu destino foi novamente na várzea e depois de um período, um amigo o indicou para o empresário Fábio Luciano Silva que conseguiu um clube na Malásia.

Felipe em ação pela sua nova equipe 


"Vim para a Malásia, pois sei que é a minha última chance de arrebentar no futebol. Cheguei em maio e já me sinto bem adaptado. Adoro comer arroz, frango e tomar suco de laranja. Aqui é muito bom. O mais difícil ainda é o idioma. Procuro me comunicar com em inglês e com alguns gestos."

O seu time, Melaka United, é o penúltimo colocado da Super Liga, com 11 pontos ganhos em 13 jogos disputados. São 12 equipes no torneio. Houve uma pausa na competição e foi nesse momento que o brasileiro foi contratado. Por sua nova equipe já participou de 1 amistoso. A estreia oficial será no dia 1 de julho contra o PKNS FC, fora de casa.

"Meu time está na penúltima colocação.Se terminasse hoje o campeonato estaríamos rebaixados. Já participei de um amistoso (contra o MIKA), onde houve empate em 1 a 1 e eu anotei o gol da minha equipe. Ainda tem muito chão pela frente e se Deus quiser vamos sair dessa incômoda situação", finalizou o sul-americano.

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