terça-feira, 10 de julho de 2018

O desdém do brasileiro com a Geração Belga

O que mais chamou a atenção na derrota da Bélgica por 1 a 0 sobre a França pela semifinal da Copa do Mundo foi o sentimento de vingança de muitos brasileiros. Estes, vias redes sociais, diminuíam e depreciavam o atual time belga. Da ótima geração. Possivelmente a melhor surgida naquele país.

Ressalvo que brincar e debochar faz parte do futebol. O problema maior é quando se desdenha de um certo time. Principalmente por arrogância.

Já faz um bom tempo que o brasileiro ouve falar da tal 'ótima geração belga'. Adora dizer que isso é uma bobagem. Coisa de vídeo-game. Nunca ganharão nada. Bom mesmo são os brasileiros que foram formados aqui onde se brota craque sempre.

Os Diabos Vermelhos já haviam dado o ar da graça, em nossas terras, em 2014 durante a Copa do Mundo. Embora, não fossem brilhantes, acabaram eliminados nas quartas de final pela Argentina, que tinham um bom time e seria vice-campeã. Dois anos depois parariam ,na mesma fase, na Eurocopa para o País da Gales. No torneio continental, sim, deu a sensação de vexame e que poderiam ter ido mais longe.
Seleção belga que derrotou o Brasil na Copa do mundo (crédito:FIFA.com)


Seguiram como piada pronta. Uma bobagem. Até uma parte da imprensa diminuía e muito esse plantel. Em 2018 se garantiram para o Mundial da Rússia.

Avançaram de fase ganhando os 3 jogos de seu grupo e depois de baterem de forma heroica o Japão, o destino reservava a Seleção Brasileira. Cinco vezes campeã do mundo.

Os Rode Duivels foram a campo com Courtois, Vertonghen, Kompany, Alderweireld e Meunier; Fellaini, Witsel e Chadli; De Bruyne, Hazard e Lukaku.

Dos 11 que começaram a peleja, apenas 2 não atuam na Premier League. Witsel que está no futebol chinês e Meunier que defende o PSG da França. Os outros nove, há 2 que atuam no Manchester City (Kompany e De Bruyne), 2 no Chelsea (Courtois e Hazard), 2 no Manchester United (Fellaini e Lukaku), 2 no Tottenham (Alderweireld e Vertonghen) e 1 no West Bromwich (Chadli).

Quem minimamente acompanha o Campeonato Inglês vê que a maioria é titular em seus respectivos clubes e estão entre os principais jogadores. Possivelmente hoje não há nenhum goleiro brasileiro no nível do Courtois. Um 'camisa 9' igual o Lukaku no Brasil hoje? Difícil.Nossos últimos como Gabriel Jesus, Fred e Jô estão bem abaixo.  Um 'camisa 10' no nível do Hazard? Alguém viu a ótima temporada de De Bruyne no Manchester City?

Embora tenha aumentado o interesse do brasileiro pelo futebol europeu, ainda se vê pouco o que ocorre lá fora e se dá bem mais valor aos nosso jogadores. No dia-a-dia, o brasileiro que gosta de futebol prefere acompanhar apenas os campeonatos em que o seu clube está inserido. Não mais que isso.

Logo, os grandes craques só vê mesmo em Copas do Mundo.
Uma das tantas montagens 'comemorando' a derrota belga. Divulgação


Voltando ao revés tupiniquim diante dos belgas. Embora, os comandados de Tite não fossem tão brilhante, muitos acreditavam que era o melhor time dentre todos os que estavam nas quartas de final e passaria pelos Diables Rouges.Isso era dito nas rodas de bar, na internet e em alguns programas esportivos da TV. Claro, essa 'geração amarelona ' ia sofrer contra os brasileiros.

Como já mencionado, os atletas belgas estão nos principais clubes do mundo e estão acostumados a enfrentar os futebolistas do esquadrão verde-amarelo. Encararam de cabeça erguida. Sem medo. Tradição e camisa não pesaram pelo lado dos europeus.

Desde o início partiram para cima (embora tivessem se fechado atrás e tido muita cautela). Fernandinho e Paulinho tiveram uma tarde muito ruim.  Aquele ainda fez um gol contra. O primeiro do jogo. Ainda na etapa inicial saiu o segundo tento (anotado por De Bruyne). Um Brasil inferior em campo.

Não cabe aqui analisar todo o jogo. Enfim, as piadas prontas e os deboches sobre um trabalho de longo prazo nos países-baixos foram derrubados. Os comandados de Martinez jogaram muito bem e mostraram para os brasileiros, que são sim bons de bola.A  tal 'ótima geração' deixou a arrogância de alguns brasileiros de 'queixo-caído'. Sem aquela história de futebol raiz e futebol nutella.

Já na Bélgica que se esperava algum tempo uma campanha marcante, esta viria em 2018. Com a vitória sobre o chamado país do futebol. A festa, de Flanders a Valônia, foi grande. Estava ótimo ter ganho do Brasil.

Para nós a frustração. Quem conhecia os futebolistas belgas não se surpreendeu com o placar. Quem não conhecia e foi apenas por tradição, camisa e desdém quebrou a cara.

Enfim, os belgas seguiram vivo e enfrentaram a França. Um jogo bem disputado. Mas perderam por 1 a 0, em gol que saiu em cobrança de escanteio. Foi terminar a partida e verificar nas redes sociais o tanto de brasileiros que não quiseram reconhecer o potencial da Bélgica e seguiram desdenhando dessa geração. Seguiram lembrando as cinco taças tupiniquins e que o algoz de 2018 nunca chegará lá.

Talvez nunca chegue. Mas penso que não custa reconhecer o bom futebol apresentado. Não custa admirar essa boa geração que já está marcada na história das Copas. Tem como objetivo terminar em terceiro lugar e fazer a melhor campanha daquele país no evento esportivo mais assistido do Planeta Terra. É pouco? Creio que não. Creio que  o trabalho deles a longo prazo já deu a sua resposta.Um passo de cada vez.

Ao Brasil resta não viver apenas do seu glorioso passado, mas sim analisar o presente e ver por qual motivo houve 4 eliminações seguidas em Copas do Mundo. Será que somos, atualmente, melhor que esse time belga? Será que ainda somos o país do futebol? Nas últimas 4 edições,em 3 não passamos das quartas de final. Desnecessário dizer o que houve quando chegamos até a semifinal.

Por fim, falei de Courtois e Lukaku. Fico imaginando qual seria a nossa opinião sobre Eden Hazard caso ele fosse brasileiro.Um meia vitorioso no Lille (onde foi campeão francês e eleito por duas vezes o melhor jogador do campeonato) e no Chelsea (1 Liga Europa, 2 Premier League, 1 Copa da Inglaterra e 1 Copa da Liga). Aliado aos seus títulos e onde em muitos foi o principal jogador, com a boa Copa do Mundo que faz, se tivesse nascido em território brasileiro, creio que estaríamos comparando (de forma ufanista) com os melhores da nossa história como Zico ou Falcão, por exemplo.Não sei se é pra tanto, mas certamente veríamos comentários assim por aqui.Como nasceu belga, ele não tem o reconhecimento da maioria.

3 comentários:

  1. Muito boa matéria!
    Concordo que a geração Belga (encabeçada por Hazard, Lukaku, De Bruyne e Cortoi) é ótima. No entanto, não acho que a atual geração brasileira fique atrás: Neymar, Marcelo, Coutinho, Casemiro, Firmino... são ótimos jogadores e têm destaques em seus respectivos clubes. Talvez a diferença entre ambas as gerações esteja no comando. Tite, ao longo da Copa, apresentou-se taticamente limitado, conservador e previsível, ao passo que Martinez mostrou não apenas que possui um vasto repertório tático, mas também apresentou-se ousado, corajoso (predicados que faltaram ao técnico da seleção verde e amarela). A meu ver, este é o ponto principal que diferencia - qualitativamente - a geração belga da geração brasileira.

    Grande abraço, Léo.
    Espero que continue com suas ótimas matérias e análises.

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  2. Parabéns pela matéria e pelo blog de modo geral cara.
    Cheguei ate seu blog por indicação da Letícia e achei fera demais. Seria muito bacana ler uma matéria tua retratando como estamos perdendo em vários sentidos para o futebol europeu.
    Novamente parabéns pelas matérias e conteúdo.
    Ela já passou o blog pra uma galera, e eu também irei recomendar.

    Abraço,

    Tiago

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    1. Oi, Tiago!
      Muito obrigado pelo comentário, leituras e incentivo! Fico feliz que tenha gostado. Sempre bom conhecer pessoas através do blog e por outras redes sociais.Já estou pensando na pauta que recomendou e verei algo para publicar.

      Abraço,
      Leonardo Cantarelli

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